Cotidiano

Paraná perde R$ 500 mi por ano com gargalos

Cascavel – Líderes dos segmentos produtivos da região oeste participaram ontem, em Cascavel, de uma das etapas da consulta pública envolvendo o projeto de construção de uma nova ferrovia, totalizando mil quilômetros de trilhos, ligando o Porto de Paranaguá até Dourados, no Mato Grosso do Sul.

Uma das constatações são os prejuízos atuais: os gargalos logísticos existentes em Guarapuava e Ponta Grossa e o trecho obsoleto da Serra levam o Paraná a perde ao ano meio bilhão de reais, de acordo com números apresentados ontem pela equipe técnica da Ferroeste.

A primeira consulta pública ocorreu quinta-feira, em Guarapuava. Depois de Cascavel, será a vez de Curitiba, na segunda-feira e de Dourados (MS), no dia 16 de setembro.

Os debates ficaram concentrados especificamente na dificuldade da região oeste em conseguir transportar sua produção pelos trilhos. Das 45 milhões de toneladas que desembarcaram neste ano no Porto de Paranaguá, 36 milhões de toneladas foram transportadas por caminhões e apenas 9 milhões de toneladas pelos trilhos. As cargas que saíram do oeste via ferrovia com destino ao Porto de Paranaguá representam apenas 1% deste total, ou seja, 500 mil toneladas.

Para se ter uma ideia de quanto ainda precisamos evoluir em torno da criação de um polo modal férreo eficiente, 37% de tudo que chega ao Porto de Santos vem pelos trilhos, o dobro do que o Paraná transporta pelos trilhos até chegar a Paranaguá. Em relação ao Porto de São Francisco do Sul, 39% de toda a movimentação é procedente dos municípios paranaenses.

Diante desses números, todos os participantes foram uníssonos ao reconhecer a necessidade urgente de uma solução estratégica logística. Esse é o discurso defendido pelo presidente da Ferroeste, João Vicente Bresolin Araújo. Segundo ele, o Paraná precisa de uma nova ferrovia, de Dourados a Paranaguá, passando por Cascavel pelos trilhos da Ferroeste. “Esse processo precisa ser discutido com toda a sociedade e esse é o papel das consultas públicas”.

Ainda neste mês, será aberto o procedimento para manifestação do interesse das empresas dispostas a iniciarem o estudo de viabilidade técnica da obra. No trecho de Cascavel a Guarapuava, está prevista a manutenção do percurso conhecido como Erveira, na região de Nova Laranjeiras. “Hoje escoamos apenas 20% da produção que chega a Paranaguá via trilhos. Essa realidade precisa ser invertida”. O frete ferroviário é 30% mais em conta do que o rodoviário, conforme estudos.

Mãos atadas

Para o presidente da Caciopar, a Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná, Leoveraldo de Oliveira, o oeste tem como característica ser um forte produtor de alimentos, com foco na proteína animal e produção de cereais. “Infelizmente, hoje, estamos vinculados apenas a uma rodovia sem duplicação até Paranaguá, nos deixando debilitados em relação ao custo de transporte”.

Para Leoveraldo de Oliveira, essa perspectiva, inserindo um novo traçado a partir de Guarapuava até Paranaguá, vai nos tornar ainda mais competitivos. “Esse é o momento de inflexão da curva para o oeste do Paraná em relação à infraestrutura logística”.

O investimento na elaboração do estudo será de R$ 25 milhões, custeados pela empresa escolhida, cujo ressarcimento será feito pela concessão vencedora. O trecho na região seria de responsabilidade de uma subconcessão da Ferroeste e o de Paranaguá a Guarapuava de uma concessão estadual. A intenção é ter em mãos o estudo de viabilidade técnica até o segundo semestre de 2018.

Dilvo Grolli defende novo traçado

O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, defende a construção de um novo traçado entre Cascavel e Guarapuava e não apenas a manutenção do trecho. “Precisamos pensar grande para nos tornarmos ainda mais competitivos”.

O Paraná é o maior produtor de grãos do Brasil, com mais de 41 milhões de toneladas. O oeste é responsável por 35% desse total. Além disso, segundo Dilvo Grolli, o Paraná é líder nacional na produção de carnes e o terceiro maior produtor de leite do País. “São números que precisam ser levados em conta para reconhecer a importância do oeste no contexto do agronegócio”. Para ele, a ferrovia precisa ser concebida para atender a demanda até 2100.

Consulta pública ocorreu ontem na Acic e reuniu líderes de diversos segmentos