Cotidiano

Para ser mestre

Muito se fala, e com toda a razão, que só uma educação de qualidade promove o desenvolvimento do país e proporciona às crianças e aos jovens a possibilidade de cidadania plena. Assim como também sabemos da importância dos anos iniciais para a sedimentação do aprendizado, quando o aluno é estimulado a se tornar leitor, capaz de desenvolver pensamento crítico, formar juízos próprios, traçar seu caminho e fazer escolhas com autonomia.

Consenso também entre educadores e os que se interessam pelo tema diz respeito à fundamental importância, nesse processo, da figura do professor. Todas as pesquisas sobre o assunto apontam o professor como o elemento que mais influencia as conquistas do aluno. E quanto mais bem preparado for o professor, maiores as chances de sucesso escolar do aluno. Hoje, no país, segundo o MEC, temos cerca de 2,5 milhões de docentes. Aqui, surge a questão: quem é responsável pela qualidade de sua formação? Quem o prepara para lidar com a diversidade de alunos? Quem o apresenta às boas práticas de sala de aula? São as redes de ensino ou as faculdades de Educação?

A formação continuada do professor é e sempre foi função das redes de ensino, visando a atualizar e aprimorar sua prática pedagógica, mas a preparação inicial é função precípua das universidades e das faculdades de Educação. O professor dedica quatro anos de sua vida aos estudos universitários com o objetivo de estar apto e qualificado à docência e, em muitos casos, a passar em concursos públicos. Na cidade do Rio de Janeiro, como em outras redes públicas do país, fazemos continuamente concursos para as diferentes áreas do ensino para que nossas escolas sempre tenham um número de professores adequados e, ainda, para criar um banco de reserva.

A tarefa não tem sido fácil! Nos últimos anos, temos notado uma queda significativa no número de aprovados nos concursos. Para ilustrar, em 2015 fizemos uma seleção para professor dos anos iniciais (1º ao 5º ano) com cerca de oito mil candidatos e apenas 431 foram aprovados; para Matemática, foram 2.026 candidatos, mas só 126 passaram. Importante ressaltar que as provas são elaboradas pelos professores das universidades contratadas para tal. Não temos interferência no processo.

Ao analisarmos os dados, em conjunto com outros fatores, podemos concluir que a formação inicial do professor tem se distanciado da realidade das redes de ensino, sobretudo das públicas. Tanto que no Rio criamos a Escola de Formação do Professor Carioca Paulo Freire, onde o professor recém-chegado passa por uma nova formação, inclusive de boas práticas de aula, antes de iniciar o trabalho na escola.

É consenso a necessidade constante de valorização do magistério. Mas a realidade nos mostra também ? e hoje mais que fundamental ? que é preciso repensar a formação do professor, num trabalho conjunto entre universidades e redes de ensino. Uma formação que prepare o professor para lidar com os desafios da educação no nosso país.

Helena Bomeny é secretária municipal de Educação do Rio