Cotidiano

Para mais de 75% dos moradores de favelas com UPPs, projeto deve continuar

RIO – A maioria dos moradores de comunidades que têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, 75,8%, quer a manutenção do projeto após a realização das olimpíadas do Rio. No entanto, para 43,4% deles, o modelo de policiamento, implantado na cidade a partir de 2008, irá acabar após a Olimpíada. É o que revela uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Fundação Getúlio Vargas sobre o desempenho do principal programa de Segurança do governo do Rio.

Intitulada ?Dimensionamento dos impactos sociais das UPPs em favelas cariocas?, a pesquisa dois mil moradroes, em 20 comunidades. O estudo foi dividido em duas etapas. A primeira entre 2 de abril e 1º de junho de 2014, nas ?UPPs antigas?: Santa Marta, Cidade de Deus, Jardim Batam, Babilônia, Tabajaras, Providência, Borel, Formiga, Andaraí e Vidigal. A segunda etapa foi feita entre 6 de novembro do ano passado a 8 de janeiro deste ano, em comunidades classificadas como ?UPPs recentes?: Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, Alemão, Vila Cruzeiro, Rocinha, Manguinhos, Jacarezinho, Barreira do Vasco/Tuiuti, Cerro Corá, Lins e Vila Kennedy.

Nas UPPs mais antigas o projeto foi melhor avaliado. Quando questionados se a UPP deve ou não acabar após a Olimpíada, 87,4% dos moradores da UPPs responderam que o modelo deve continuar, enquanto apenas 6% disse que ele deve acabar. No grupo das UPPs recentes, 64,2% dos entrevistados disseram que deve continuar, contra 23,2% dos que opinaram que deve acabar.

Segundo Márcio Grijó, coordenador do FGV Opinião, a principal conclusão do estudo é que, apesar de apontarem críticas, a maior parte dos moradores avaliam positivamente a presença das UPPs nas comunidades.

? Embora façam uma série de críticas à atuação dos agentes e aos serviços oferecidos pelo Estado, a maioria dos moradores pede que as UPPs continuem. É um mito acreditar que os moradores apoiam o tráfico. Pelo contrário, muitos deles temem que as UPPs encerrem suas atividades após as Olimpíadas ? explica o coordenador do FGV Opinião.

Segundo ele, os pesquisadores também realizaram pesquisar qualitativas, ouvindo moradores sobre suas respostas:

? Quando defendem a necessidade de se manter a UPP apesar dos problemas apontados, eles falam que não querem homens armados pelas ruas, venda e consumo de drogas. Como no restante da cidade formal, eles querem segurança.

Ainda de acordo com o dados, nos dois grupos, 43,4% dos entrevistados responderam que a UPP vai acabar após os Jogos Olímpicos. Entre os moradores das UPPs antigas, 42,7% responderam que o modelo vai continuar. Já entre os que vivem nas UPPs recente, apenas 40,2% acreditam na manutenção da UPP.

Segundo Grijó, a percepção de que o projeto vai acabar logo após as olimpíadas foi um dos fatores para as notas baixas dadas pelos entrevistados sobre o desempenho das UPPs, 5,3 em média, e influenciou também os resultados sobre a confiança nos policiais da unidades:

? Para aqueles que têm a percepção de que a UPP vai continuar, 48,6% afirmaram confiar nos policiais, contra 35,5% que não confima. Mas no caso dos entrevistados que acham que a UPP vai acabar, apenas 29,8% disseram confiar na polícia. Essa ?desconfiança? tem a ver com o futuro desses moradores na comunidae. Se eles acreditam que a UPP vai embora, então é melhor ficar distante da polícia, para não virar alvo de traficantes depois ? explicou o pesquisador.

As piores avaliações são de moradores de UPPs de comunidades com graves problemas de segurança, onde são comuns os confrontos entre policiais e traficantes. As piores notas estão nas UPPs do Lins (2,8) do Alemão (3), na Vila Cruzeiro (3,3) e do Jacarezinho (3,8). Entre as melhores estão as UPPs do Borel e de Vila Kennedy (6,8), seguidos do Batan (6,7) e do Santa Marta (6,4).