Cotidiano

Para evitar acusações, Planalto vai monitorar de longe a eleição na Câmara

BRASÍLIA – Na reta final da eleição para a presidência da Câmara, o Palácio do Planalto decidiu que manterá a postura de não interferir diretamente na disputa. Hoje, o presidente interino Michel Temer negou pedido de encontro com o candidato oficial do PMDB, Marcelo Castro (PI), sob o argumento de que isto poderia ferir suscetibilidades entre os demais candidatos. Se fosse receber um dos postulantes ao comando da Câmara, Temer teria de se encontrar com todos os 12 nomes da base aliada que concorrem nesta eleição, apontam seus auxiliares. A ordem é receber deputados, incluindo o vencedor, apenas ao final do pleito.

A princípio, os ministros mais próximos de Temer acompanharão a eleição de seus gabinetes no Planalto. O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, também foi orientado a não ir ao Congresso durante a eleição. Encarregado das articulações políticas do governo, a presença do ministro poderia provocar, entre os parlamentares, suspeitas de que estaria trabalhando por um determinado candidato. O ministro monitora por telefone as negociações dos deputados.

O suposto trabalho do Planalto, ainda que discreto, a favor do principal candidato do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF), gerou críticas na Câmara. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, esteve mais cedo no Congresso, mas, deixou o local ainda no início da tarde, horas antes da eleição.

Na noite de ontem, Marcelo Castro esteve com Geddel no Palácio do Planalto para tentar aparar as arestas deixadas devido às posições divergentes sobre o impeachment. Então ministro de Dilma Rousseff, Marcelo Castro contrariou decisão do PMDB e votou contra o afastamento da petista. Apesar de ser da base e do partido de Michel Temer, Castro é visto como o pior nome para o governo entre os candidatos.

A colegas da bancada, Marcelo Castro se queixou, hoje, de que Michel Temer esteve na noite de ontem no aniversário do ministro Mendonça Filho (DEM), um evento que serviu para intensificar a campanha de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mais uma demonstração de que o clima nos momentos finais antes da eleição não é bom entre o governo e o candidato do PMDB.

Reservadamente, auxiliares de Temer apostam que a disputa irá para o segundo turno entre Rodrigo Maia e Rogério Rosso. Na avaliação de interlocutores do governo, o lançamento da candidatura do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) e a divisão no PT poderão retirar votos de Castro, favorecendo Maia.