Reportagem: Cláudia Neis
Toledo – A celebração do Dia Internacional do Idoso, neste 1º de outubro, data instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas), traz à reflexão a importância de proteger e acolher esse público.
Neste ano, a data é comemorada já com um olhar diferente. As mudanças repentinas e os desafios imensos causados pela pandemia do novo coronavírus colaboraram para que a sociedade voltasse seus olhos para as pessoas com mais de 60 anos. “A pandemia trouxe um novo protagonismo em relação ao idoso. Por ser o público mais suscetível à doença, a sociedade e o poder público tiveram um movimento nunca visto de mapear os locais em que os idosos vivem, verificar quais são as necessidades que eles têm, se tem alguém que zele por eles, se estão em situação de vulnerabilidade… todo esse levantamento foi feito durante a pandemia. Mesmo nas casas de longa permanência, houve uma união entre esses locais na troca de informações. Um movimento para aproximar os idosos e a família, seja pelo celular ou pelo tablet, já que as visitas não eram mais possíveis. De modo geral, agora temos mais números sobre os idosos, porque foi preciso uma mobilização para que eles pudessem ser protegidos”, explica a médica geriatra e professora do curso de Medicina da PUC-PR Lindsey Nakakogue.
Saúde mental
Por outro lado, o risco maior de contrair a covid-19 e desenvolver um quadro mais grave da doença fez com que os idosos precisassem ficar mais isolados e, com isso, já é possível observar algumas consequências desse período. “É possível observar duas situações diferentes quanto a esse isolamento e distanciamento necessários: os idosos que já tinham atividades mais caseiras, como leitura, jardinagem, crochê e trabalhos manuais em geral, não sofreram tanto com o isolamento. O que impacta é o distanciamento dos familiares, pois muitos vivem sozinhos e contavam com a visita dos filhos. Como essa situação, que a princípio era passageira e se prolongou por meses, eles vão sentindo cada vez mais essa falta. Então, por isso, é preciso que os filhos mantenham essa presença física, pois por telefone não é o suficiente, uma passadinha rápida, com todos os cuidados necessários, pode fazer muito bem”, orienta Lindsey.
A segunda situação é mais complicada, pois diz respeito aos idosos que mantinham uma vida social mais ativa. “Esse público que costumava sair bastante, ir a jogos, encontrar os amigos, ir a bailes ou mesmo à igreja, foi o mais impactado pelas medidas. E isso tem efeito na saúde mental. No consultório, tivemos um aumento em cerca de 25% no número de idosos com sintomas de depressão e insônia. Alguns tiveram que aumentar as doses de medicamentos e outros iniciaram a medicação. Foi algo muito rápido. No início, as notícias ruins tiveram muito impacto sobre eles”, explica a médica.
A psicóloga e também professora da PUC-PR Sandra Boufleur observa as dificuldades em lidar com o sofrimento psíquico criado pela pandemia. “Primeiro, nós não temos um caso materializado no sentido de vivência que possamos nos espelhar, nunca passamos por um processo pandêmico, foi algo extremamente abrupto que veio como um choque, sem que tivéssemos dados e suporte psicológico para lidar com isso. Outra situação complicada, mais ainda aos idosos, é a perda do vínculo social, pois o nosso contato com as pessoas hoje é virtual e, mesmo a nossa geração, que está mais habituada ao digital, enfrenta dificuldades em relação a isso, agora veja o idoso, que não passou pelo processo de aprendizado e muitas vezes nem sabe usar a tecnologia, ou, se sabe, tem muita dificuldade em se adaptar a esse tipo de relação”, explica Sandra.
Ela ressalta que o cuidado com a saúde mental é uma cultura que precisa ser construída. “Outra questão que parece muito complicada ao público idoso é o estigma que se tem com a psicologia, a própria dificuldade em aceitação de uma fala ou escuta ativa da psicologia. Porque, muitas vezes, ela é vista por muitas pessoas como um recurso para quem tem uma doença de fato e não no sentido de ajuda. É um momento de reflexão sobre a nossa vida também, então, é preciso estar atento a isso e buscar ajuda na psicologia se observar ser necessário. A saúde mental é a mesma coisa que cuidar da saúde física, elas estão relacionadas e essa é uma cultura que precisa ser construída para o público em geral”, enfatiza a psicóloga.
75% das vítimas de covid-19
Dados do Boletim Estadual da covid-19 no Paraná mostram que a média de idade das pessoas que perderam a vida por causa da doença é de 68,5 anos, e 75,1% dos óbitos correspondem a pessoas com mais de 60 anos.
Das 4.378 mortes confirmadas no Estado até 29 de setembro, 3.288 eram idosos. “O envelhecimento já reduz a imunidade e os idosos geralmente já têm algum tipo de comorbidade, então respondem menos aos tratamentos e tendem a passar longos períodos em UTI, muitas vezes não resistindo à doença”, explica a médica geriatra Lindsey Nakakogue.
Ela também reforça para a necessidade de presença física da família e da prática de exercícios. “É preciso manter a mente o mais saudável possível. Ouvir música, ler, fazer atividades que gostem, tudo isso é importante. Nada impede uma caminhada no bairro, usando máscara e tomando os cuidados necessários. E, em caso de algum sintoma diferente, tristeza, desânimo, fome em excesso ou a falta dela, variação de sono, essas situações permanecendo por mais de 15 dias é hora de buscar ajuda. Seja no médico de confiança, seja na unidade de saúde mais próxima”, recomenda Lindsey Nakakogue.
