Economia

Pandemia faz produtos sumirem das prateleiras

Diversos produtos considerados não essenciais sumiram do mercado

Pandemia faz produtos sumirem das prateleiras

Reportagem: Patrícia Cabral

Se você precisou comprar tintura para o cabelo ou mesmo matéria-prima para fazer seu artesanato e não encontrou nas prateleiras, saiba que esse é mais um dos reflexos da pandemia do novo coronavírus.

Diversos produtos considerados não essenciais sumiram do mercado. O motivo é a diminuição da mão de obra nas indústrias, os gastos com a distribuição dos produtos e, até, mais cautela dos empresários na reposição dos estoques.

Em tempos de crise e risco de quarentena, muitos comerciantes optaram por disponibilizar nas gôndolas produtos que apresentam mais demanda nesse período, limitando as opções para o consumidor.

As lojas de cosméticos, por exemplo, estão com poucas opções de produtos de higiene, perfumaria e beleza e direcionaram a reposição do estoque para artigos comprados por profissionais. “Estamos fazendo promoções com o que temos há algum tempo. Evitamos fazer pedidos de maquiagens, esmaltes, acessórios e trabalhamos com o que temos. O que mais estamos repondo são produtos para os salões, como água oxigenada, removedor de esmalte, cremes e algumas tinturas de determinadas marcas”, lista a gerente de uma loja no Centro de Cascavel.

Até na sorveteria em que Ivanete de Lima trabalha há dois anos, também no Centro, as opções estão reduzidas. “De maio para cá, diminuímos a frequência dos pedidos para a distribuidora, o número de potes e de caixas de sorvetes, Mesmo assim, ainda escolhemos os sabores mais tradicionais e com mais saída”, comenta.

Em outros casos, é preciso ter paciência. Uma das maiores lojas de equipamentos para o setor de fisioterapia, reabilitação, estética e fitness teve que aumentar o prazo de entrega para o cliente. “Grande parte dos produtos que trabalhamos é terceirizada. Alguns deles estamos comercializando com prazo mais longo de entrega. Continuamos fazendo pedido para as empresas fornecedoras, mas agendando a entrega para o cliente para daqui a 60 dias porque faltou matéria-prima para a finalização dos equipamentos”, conta a responsável pelo departamento de vendas Graziela Rottava.

Sem material e obra parada

A procura por materiais de construção cresceu 54% nos últimos meses, de acordo com pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas), com destaque para produtos como cimento, cal e areia e material elétrico.

A situação também foi registrada na região oeste do Paraná.

Isso aconteceu por dois motivos, segundo o presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção do Oeste, Silvino Bigolin. “Uma delas é o aumento da exportação. As indústrias estão exportando muito mais por causa do dólar alto, e acaba sendo mais rentável, vantajoso, especialmente com relação a materiais como aço, ferro, PVC, cerâmica”.

A outra razão é que as pessoas resolveram investir mais em imóveis. “A única opção boa de investimento neste momento é o imóvel. Quem tem dinheiro aplicado não consegue obter rendimento e decide construir, reformar, ampliar casas, empresas, apartamentos…”

Segundo ele, a perspectiva de melhora entre a procura e a oferta deve normalizar apenas daqui a alguns meses. “A expectativa de prazo para a acomodação dessa situação é de 90 dias. Antes do fim do ano é um pouco difícil de isso acontecer”.

Prejuízo com cardápio e garrafas vazias

Um dos segmentos mais atingidos pelas medidas adotadas para conter a pandemia, o setor alimentício também não ficou fora dessa. O empresário Gilberto Martignoni tem sentido a mudança forçada nos bares e nos restaurantes que administra na cidade. “Com relação à comida, apesar do aumento no valor dos produtos, não repassamos essa diferença para o consumidor. Isso aconteceu com o queijo, com a picanha… Não precisamos tirar nenhum prato dos nossos cardápios. O que acontece é que muitas vezes é melhor não ter no restaurante do que oferecer e não conseguir obter o mínimo de lucro necessário com a venda”.

Outro ponto importante é a quantidade dos produtos comprados. “O que tem acontecido de maneira frequente também é fazermos os pedidos, principalmente para os frigoríficos, e eles entregarem só metade do que solicitamos”, acrescenta Martignoni.

Nos bares, a falta de algumas bebidas está sendo frequente: “Em todos os nossos bares, bebidas como cerveja estão terminando antes de o local fechar. Destilados como vodka e whisky estão em falta porque determinadas marcas, especialmente as mais famosas e procuradas pelos clientes, não estão sendo encontradas em atacados e distribuidoras”, conta.

Sem matéria-prima

E como fica a situação de quem precisa dos produtos para sobreviver? Mariângela Gomes produz peças de crochê. A clientela é grande e os pedidos são muitos. Os produtos que ela faz sob encomenda vão desde capas de almofadas, tapetes, porta-copos a roupas. O grande problema é encontrar matéria-prima para produzir. “Fitas e linhas ainda consigo encontrar com mais facilidade, mas meu grande problema é o barbante. Está em falta desde o mais tradicional até os coloridos, e isso atrapalha muito a minha renda. Quando encontro o que preciso, estão bem mais caros”.

Sem produto, sem cliente

Nem o consumidor mais fiel resiste à falta do item que busca. Para o empresário do setor de marketing Eduardo Serralheiro, se falta produto nas gôndolas, o comerciante pode ficar sem o cliente. “Independente se ele compra há anos no mesmo lugar, tenha cartão fidelidade ou outros benefícios, caso não encontre o que precisa, certamente vai buscar no concorrente”, alerta.

Ou seja, se o comerciante deixa de oferecer um produto, ele corre o risco de perder a clientela. “Custe o que custar, o produto não pode faltar. Essa é uma frase que retrata bem essa situação. Independente do motivo, seja pelo alto custo, pela falta nas distribuidoras ou pelo atraso na entrega dos pedidos pelos atacadistas, o reflexo é automático e pode ser bem negativo. Muitas lojas oferecem algo similar, genérico, outro sabor, outro tamanho, outra marca que até pode ser aceito pelo cliente. São alternativas, mas nem sempre eficientes”, completa.