Cotidiano

País precisa unificar ações contra o crime

As cenas de violência no Maranhão, onde, em São Luís e entorno, facções do crime organizado ordenaram de dentro dos presídios uma série de ataques contra ônibus, são episódios cuja motivação não está circunscrita ao estado. Ali, a degradação da segurança pública é, de fato, uma das mais graves do país. Mas os chefes de quadrilha que, de suas celas, deram as ordens de ataque seguiram um manual exógeno, importado de Rio e São Paulo.

Mais do que sugerir, o terrorismo nas ruas da capital maranhense, já visto no Sul do país, é sintoma de que o crime organizado segue um protocolo nacionalizado em suas ações. Não é coincidência, por exemplo, que a onda de violência tenha chegado também a presídios do Ceará, em rebeliões que provocaram a morte de 14 detentos.

Os presídios são um capítulo à parte nessa escalada de nacionalização de ações do crime organizado. Disso, explosões de violência em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e outros estados são decorrência direta. De um lado, uma política penitenciária inócua, que não recupera detentos, e, de outro, a leniência de setores do poder público com o princípio da segurança que deve nortear a gestão das unidades prisionais juntam-se para transformar boa parte das cadeias em escritórios de onde bandidos administram seus ?negócios?.

Dos muros dos presídios para dentro, nas suas celas, chefões têm poder de vida e morte sobre a população carcerária; da cadeia para fora, comandam atos de violência nas ruas. Mas esse é apenas um dos aspectos de uma questão mais ampla. Ao manter teimosamente estanques, sem conexões eficazes entre os organismos de combate ao banditismo, as políticas públicas de segurança, o país assiste ao temerário crescimento da criminalidade. Ainda que as quadrilhas, envolvidas em brigas pelo controle de territórios, não obedeçam a um comando único, é notório que as grandes facções de São Paulo, principalmente, e Rio estabeleceram um modus operandi que na prática cria uma linha de ação uniforme para grupos de bandidos de todo o país.

É cada vez mais urgente e crucial criar mecanismos modernos de defesa da sociedade, com o intercâmbio entre os organismos policiais das distintas instâncias da administração pública. Não se pode desarmar as quadrilhas, por exemplo, sem blindar as fronteiras contra o tráfico de armas. Uma política penitenciária que não seja inócua, o aperfeiçoamento da execução penal, a revisão dos critérios de encarceramento, entre outras, também são providências inescapáveis de uma mesma formulação de segurança pública, multidisciplinar, em nível nacional.