Cotidiano

Pais impedem que reforma mal feita seja entregue

Obras custaram R$ 100 mil; Estado diz que pagamento só seria feito após a conclusão, mas construtora garante que já recebeu

Três Barras do Paraná – É público e está no Facebook para quem quiser ver. O chefe da Casa Civil do Estado do Paraná, Valdir Rossoni, resolveu bater boca com moradores da cidade de Três Barras do Paraná, no oeste, apenas pelo fato de um pai reclamar de uma obra mal feita, paga com recursos públicos.

Com várias postagens repetidas, Rossoni ameaça o morador de “responder criminalmente” se a denúncia não for comprovada. Mas a própria postagem comprova a denúncia. Isso porque várias fotos mostram os “acabamentos” do Colégio Princesa Izabel, em reforma recém-concluída e que seria inaugurada no último fim de semana.

Enquanto discutia em rede social, uma mãe conseguiu uma ação prática. Os protestos da mãe de um dos alunos provocou uma reviravolta, cancelou a inauguração e os serviços terão de ser refeitos pela construtora.

Escola 1000

As melhorias que deveriam ter sido feitas no Colégio Estadual Princesa Isabel fazem parte do programa do governo do Estado chamado Escola 1000. São quase R$ 100 mil destinados aos reparos, mas que, segundo a membro do Conselho Fiscal da APMF, Noeli Deon, o serviço está mal feito e inacabado. “Há salas onde a tinta escorre pelas paredes, as portas estão sujas de tinta, há furos na parede e no teto. Não podemos aceitar uma reforma dessas”, denuncia.

O caso foi levado às redes sociais, onde a discussão ganhou notoriedade e chamou a atenção de Rossoni. Uma das declarações de Rossoni foi a seguinte: “Sr. tem certeza que esta sua afirmação é verdadeira, pagamento só pode ser feito se o Diretor receber a obra, Quem paga é o diretor, se sua afirmação for falsa terá q responder criminalmente (sic)”, ao rebater as críticas de um homem que dizia que a obra teria custado quase R$ 100 mil e estava em péssimas condições.

Resultados

Mas o exercício de cidadania se fez valer e gerou uma reunião na tarde de ontem com representantes do Núcleo Regional de Educação, o coordenador regional do governo do Estado no oeste, Eliezer Fontana, membros da APMF, direção da escola e representantes da construtora.

Entre os itens que ficaram acordados é que a empresa terá 15 dias para refazer o serviço, que levara quase dois meses para concluir, sem ônus aos caixas do Estado nem interferência ou remanejamento das salas de aula.

Imagens denunciam trabalho mal feito

O trabalho mal feito pode ser constatado pelas fotos feitas pelos próprios pais dos alunos e postadas nas redes sociais. Elas mostram furos nas paredes não tapados, a tinta escorrendo pelas paredes em várias salas de aula, lajotas se soltando do chão e nem mesmo o quadro negro se salvou: as laterais estão grosseiramente manchadas de tinta. Há inúmeros problemas, inclusive, com os interruptores de energia elétrica, alguns removidos e não recolocados, outros sujos com tinta e um preso à parede com a ajuda de uma espécie de pregos.

Ontem o Jornal O Paraná esteve na unidade educacional. A direção não quis se manifestar sobre a situação, mas nas ruas o que se vê é indignação. “Moro aqui há 32 anos, meus filhos estudaram aqui e nunca vi um trabalho tão mal feito”, disse a mãe de outro aluno.

Mas engana-se quem pensa que a história vai acabar por aí. Alguns pais estão reunindo os documentos necessários e vão formalizar a denúncia no Ministério Público em Catanduvas até amanhã. Já existe uma lista de pais que discordam da entrega da unidade da forma como ela está e os pais querem saber, principalmente, se os valores pagos correspondem aos serviços ditos executados.

Ainda de acordo com o apurado pela reportagem, o diretor da escola registrou um boletim de ocorrência por ter sido coagido, a partir de um telefone desconhecido, indicando que responderá a um processo administrativo para investigar sua conduta diante de tudo o que aconteceu. O diretor não quis falar com a reportagem, mas pais confirmaram a ameaça e o registro do BO.

A escola foi inaugurada em 1982 e é a única que oferece Ensino Fundamental e Médio no perímetro urbano de Três Barras. Ela atende 1,2 mil alunos nos períodos da manhã, da tarde e da noite.

CONTRADIÇÕES

Rossoni: pagamento só após entrega; construtora diz que recebeu

O chefe da Casa Civil Valdir Rossoni disse, por meio da sua assessoria de imprensa, que o dinheiro (equivalente a R$ 100 mil) não foi depositado ainda e que isso só ocorrerá depois que uma vistoria feita pelo diretor da escola, o engenheiro responsável pela fiscalização do programa e a APMF liberarem a obra. No entanto, os pais contestam e dizem que não foram chamados para fazer a vistoria, tendo em vista que a solenidade para a entrega das reformas estava agendada para a última sexta-feira, o que teria acontecido se uma mãe não tivesse enfrentado tudo e todos.

Rossoni admitiu “que houve falha do engenheiro e do diretor da escola”, que deveriam ter chamado a empresa para refazer os serviços e as alterações necessárias. “A construtora terá 15 dias para fazer os reparos e depois disso a obra será submetida a uma nova vistoria. O dinheiro não é liberado se não houver esta concordância”, declarou, ao reforçar que “a comunidade escolar deve mesmo fiscalizar”.

Questionado sobre a discussão pública com os moradores pelo Facebook, Rossoni disse que o que tinha para dizer foi dito lá e que não vai se manifestar sobre isso.

A direção do Núcleo Regional de Educação foi procurada, mas não atendeu as ligações.

DINDIM NA CONTA

Já um dos donos da empresa contratada para os serviços, a Materpol Construção Civil, o engenheiro Assis Vicentin, contrapôs a informação de Rossoni de que o pagamento só ocorreria após a liberação dos trabalhos. Questionado se ele recebeu pelos serviços prestados, Vicentin foi claro: “O que estava previsto em contrato já está tudo certo”.

Segundo ele, o que deverá ser refeito são apenas “alguns reparos na pintura e duas tomadas que ficaram sem colocar”.