Cotidiano

Padilha e Moreira, os homens do presidente

moreira-temer.jpgBRASÍLIA – Arrastado para o centro da Lava Jato pela delação do executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, o presidente Michel Temer teria dois operadores bem definidos no esquema de recebimento de recursos legais e por meio de caixa dois para campanhas eleitorais: o ministro Eliseu Padilha e o secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos, Moreira Franco.

O delator afirmou que Moreira e Padilha tinham por hábito misturar pedidos de ajuda financeira com questões institucionais. Cláudio Filho relatou que em uma reunião na Secretaria de Aviação Civil, quando Moreira ocupava o cargo de ministro, houve solicitação de dinheiro para a campanha de 2014, que levou à reeleição a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. Sem especificar ano e mês do encontro, disse que a discussão principal era o contrato do Galeão. A Odebrecht integrou o consórcio que arrematou o aeroporto e Moreira convocou a reunião para cobrar soluções rápidas, como a reforma de banheiros e escadas rolantes, limpeza e segurança do local.

201611091110292841.jpg?Nesta reunião, solicitou que apoiássemos financeiramente o partido dele nas eleições de 2014. Transmiti essa demanda, já que, evidentemente, um pedido de ministro para realizar um pagamento de dinheiro poderia nos trazer prejuízos em caso de não atendimento ou, ainda, vantagens em caso de atendimento. O fato é que pagamentos ocorreram em razão de um pedido feito por um ministro de Estado em ambiente institucional e por ocasião de uma reunião de trabalho?, disse o executivo.

Odebrecht ? delaçãoSegundo Cláudio Filho, este é apenas um exemplo de como se dava a relação com os principais assessores de Temer. Quando assumiu o lugar de Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil, Padilha manteve o estilo do antecessor nas cobranças de ajuda financeira.

?Algumas vezes fui cobrado por Eliseu Padilha a respeito do pagamento que havia sido solicitado por Moreira Franco. Ficou clara a existência de correlação entre a quantia em dinheiro almejada e o cargo de ministro de Estado ocupado pelas duas pessoas que, em momentos distintos, fizeram o mesmo pedido. O local em que os pedidos foram feitos carrega relevante simbologia que não pode ser desconsiderada?, disse o delator.

Chamado de ?preposto? por Cláudio Filho, Padilha foi descrito como a pessoa mais destacada do grupo de Temer para falar com agentes privados e centralizar as arrecadações.

?Ele atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos. Esse papel de ?arrecadador? cabe primordialmente a Eliseu Padilha e, em menor escala, a Moreira Franco. Tanto Moreira Franco como Eliseu Padilha, contudo, valem-se enormemente da relação de representação/preposição que possuem de Michel Temer, o que confere peso aos pedidos formulados por eles, pois se sabe que o pleito solicitado em contrapartida será atendido também por Michel Temer?, relatou o executivo.

Moreira Franco rebateu o conteúdo da delação. ?É mentira. Reitero que jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Cláudio Melo Filho?, disse via assessoria.

Padilha também refutou as afirmações do delator, chamando as acusações de mentiras, assim como Moreira.

?Não fui candidato em 2014! Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira! Tenho certeza que no final isto restará comprovado?, afirmou.