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Ouro em Copacabana, holandês busca repeteco no Rei e Rainha do Mar

O último 16 de agosto foi o dia mais importante da vida do holandês Ferry Weertman, de 24 anos. Hospedado em um apartamento em Copacabana após breve passagem pela Vila Olímpica, ele levantou às 5h da manhã e logo foi mergulhar no mar ?para acordar?. Quatro horas mais tarde, ainda em Copacabana, o nadador estava largando para se tornar o campeão da maratona aquática do Rio-2016. Uma vitória que teve contornos dramáticos e de justiça.

Neste domingo, às 11h, Ferry compete no Rei e Rainha do Mar, no mesmo palco que o fez entrar no Olimpo. A Rede Globo transmite.

É especial voltar onde conquistei o ouro. Trabalhei por esse pódio olímpico pelos últimos seis anos

De volta ao Rio, cidade para onde já tinha vindo duas vezes antes dos Jogos, Ferry vê um filme passar em sua cabeça. Ao completar os 10km da prova olímpica, o holandês teve a sensação de que havia tocado na plataforma primeiro. Mas ficou confuso com a comemoração efusiva do rival Spyridon Giannotis. Em um primeiro momento, a vitória havia sido dada ao grego.

? Foi uma explosão de sentimentos. Eu vi que tinha tocado antes do Spyridon. E, quando você ganha uma medalha, você grita, comemora. Eu não tive essa reação. E ele teve. Depois de nadar 10km, seus pensamentos não são tão claros assim ? conta Ferry, relembrando um torneio que venceu em 2014. ? Eu lembro que, quando eu fui campeão europeu, eu precisei tocar três vezes na plataforma até ela reconhecer o meu toque. Isso me marcou. Então, eu não gosto de ser o cara que fica gritando ?eu fui o primeiro, eu fui o primeiro?. Esse não sou eu.

Ferry teve a certeza de sua vitória minutos depois de sair da água:

? Um amigo, que viu a prova pela televisão, me ligou e disse ter a certeza de que eu havia vencido a prova. Eu procurei manter a calma depois dessa notícia. E, cerca de 15 minutos depois, após os juízes terem revisto o vídeo, confirmaram a minha vitória.

DINASTIA HOLANDESA

Se Ferry está começando a brilhar na carreira, Spyridon, de 36 anos, tem dois títulos mundiais na distância e cinco participações olímpicas contando com o Rio-2016. No último Mundial, no ano passado, em Kazan (Rússia), Spyridon revelou a Ferry que trocaria todas as participações olímpicas pelo primeiro pódio no maior dos eventos esportivos.

? Spyridon ficou muito feliz com a medalha que conquistou no Rio. Ele é um amigo, um ídolo. Cinco participações olímpicas é algo muito impressionante ? comenta Ferry, que foi prata nos 10km do Mundial de 2015 enquanto Spyridon foi bronze. O título ficou com o americano Jordan Wilimovsky na ocasião.

Não sei explicar os motivos por esses números maiores de vitórias olímpicas. Mas somos muito atentos ao detalhe. No alto desempenho, faz diferença

Ainda sem título mundial, Ferry conta que trabalhou seis anos para chegar ao topo do pódio no Rio. Ele não sabe explicar por que os holandeses são tão bons em águas abertas. Desde que a modalidade entrou no programa olímpico, em Pequim-2008, nenhum país conquistou mais ouros que a Holanda. São três medalhas: além de Ferry, Maarten van der Weijden venceu na estreia olímpica e Sharon van Rouwendaal foi campeã no Rio-2016, com a brasileira Poliana Okimoto chegando em terceiro.

? Não sei explicar os motivos por esses números maiores de vitórias olímpicas. Mas somos muito atentos ao detalhe. Por exemplo, fizemos treinamento de campo no Brasil antes dos Jogos, fizemos questão de dormir perto da competição na véspera. No alto desempenho, o detalhe faz diferença ? pensa Ferry.

TÍMIDO E BRINCALHÃO

Além dos detalhes, Ferry contou com a ajuda de sua namorada, a nadadora holandesa Ranomi Kromowidjojo (tricampeã olímpica). Segundo ele, o maior conselho de Ranomi foi não se deslumbrar com os encantos da Vila Olímpica. Ferry garante ter seguido à risca o conselho da namorada. Campeã olímpica no 4x100m livre (Pequim-2008), 50m livre e 100m livre (Londres-2012), Ranomi passou em branco no megaevento carioca.

Um pouco tímido para entrevistas e brincalhão ao ser fotografado, Ferry não é uma estrela na Holanda, apesar de ter sido recebido por uma multidão no aeroporto em seu retorno com a medalha de ouro. Depois disso, ele conta que apenas de vez em quando é reconhecido na rua. Sua namorada, neste quesito, é mais popular. Os dois passaram a morar juntos após o Rio-2016 e também estão dividindo o mesmo treinador: o holandês Marcel Wouda.

Ferry demorou pouco mais de uma semana para acreditar que havia conquistado o ouro olímpico, fruto de seis anos de dedicação. Na última segunda-feira, um dia antes de vir ao Brasil, ele vivenciou uma situação no Canadá que também está custando a acreditar.

? Fui escolhido o homem do ano da maratona aquática no prêmio da Fina (Federação Internacional de Esportes Aquáticos). O Phelps levou o prêmio principal. É difícil de acreditar que fui premiado na mesma noite que um dos maiores nomes da história olímpica. Confesso que nunca havia imaginado essa situação ? diz Ferry.

FIQUE DE OLHO

O Rei e Rainha do Mar é disputado em duplas mistas, cada uma representando um país. O holandês campeão olímpico Ferry Weertman será parceiro de sua compatriota Esmee Vermeuten. Já o Brasil será representado por duas duplas. A mais forte delas é formada pela medalhista bronze no Rio-2016 Poliana Okimoto e Allan do Carmo, campeão do circuito mundial em 2014. A outra é composta por Betina Lorscheitter e Luis Rogério Arapiraca.

No total, serão oito duplas na disputa. Além de Holanda e Brasil, Estados Unidos, Itália (com Rachele Bruni, medalhista de prata no Rio-2016), Argentina e Peru também serão representados no torneio.

Pelo formato da competição, cada atleta faz três voltas de 500m (450m de água e 50m de corrida na areia). A largada será feita pelos homens e, em seguida, as mulheres. A dupla mais rápida leva o título.