Cotidiano

Oscar termina com trapalhada sobre o palco

RIO ? 89ª cerimônia do Oscar teve um desfecho inacreditável. Após o veterano ator Warren Beatty ter anunciado ?La la land: cantando estações? como melhor filme, foi revelado que o vencedor era, na verdade, ?Moonlight: sob a luz do luar?. A equipe de ?La la land? já estava no palco agradecendo, e o constrangimento foi geral. Beatty chegou a dizer que recebera o envelope errado (do prêmio anterior, dado à atriz Emma Stone, por ?La la land?). Mas não ficou claro ? e ninguém explicou ? o que de fato aconteceu. Veja a lista completa de vencedores.

Favoritíssimo da noite, ?La la land?, dono de 14 indicações, levou seis prêmios, incluindo direção, para Damien Chazelle. A vitória de ?Moonlighr? na principal categoria confirmou a diversidade da noite. Um ano após receber uma saraivada de críticas pela ausência de negros entre seus indicados, o Oscar reagiu consagrando artistas afro-descendentes e premiando filmes de perfis variados.

A festa, realizada ontem em Los Angeles, deu aos favoritos Viola Davis (?Um limite entre nós?) e Mahershala Ali (?Moonlight: sob a luz do luar?) os Oscars de melhor atriz e ator coadjuvante, respectivamente. Barry Jenkins e Tarell McCraney levaram o Oscar de melhor roteiro adaptado por ?Moonlight: sob a luz do luar?. Já Ezra Edelman ganhou o melhor documentário por ?O.J. Made in America?. O filme traz uma reflexão sobre racismo, celebridades, violência e o sistema de justiça criminal dos EUA. Favorito à estatueta de melhor ator por ?Um limite entre nós?, Denzel Washington perdeu o prêmio para Casey Affleck, de ?Manchester à beira-mar?.

A festa foi marcada, ainda, pela tensão entre Hollywood e Donald Trump. Durante boa parte da noite, houve críticas e ironias ao presidente americano. Quem deu o tom político, logo na abertura, foi o humorista Jimmy Kimmel, apresentador da festa pela primeira vez. No seu monólogo inicial, Kimmel atirou contra a política externa do presidente americano ao dizer que a festa estava sendo transmitida para mais de 300 países ?que agora nos odeiam?. E seguiu assim ao longo de toda a noite. Duas horas após o início da cerimônia, disse que estava preocupado com o silêncio de Trump, abriu sua conta no Twitter, ao vivo, e cutucou o presidente, escrevendo: ?ei, Donald Trump, você está acordado?? Em um minuto, a mensagem foi replicada 90 mil vezes.

Kimmel também fez um ato de desagravo à atriz Meryl Streep, chamada de ?superestimada? por Trump após discursar em defesa das liberdades individuais no Globo de Ouro.

? Hoje é a noite de homenagear os atores que parecem bons, mas na verdade não são. Eles passaram no teste do tempo em papeis superestimados. Não sei quem seria essa atriz ? ironizou o apresentador, para depois pedir uma salva de palmas para Meryl, que foi ovacionada.

Entre os vencedores, a fala mais contundente contra as medidas adotadas pelo presidente Trump veio do diretor iraniano Asghar Farhadi, que venceu seu segundo Oscar de melhor filme estrangeiro com ?O apartamento? e não compareceu à cerimônia. Em carta lida por Anousheh Ansari, engenheira americana de origem iraniana, o diretor explicou que sua ausência era em solidariedade às pessoas do mundo todo desrespeitadas por Trump.

? Eu sinto muito, mas minha ausência é por respeito às pessoas do meu país e de outras seis nações que foram desrespeitadas pela lei que bloqueia a entrada de imigrantes nos Estados Unidos. Dividir o mundo entre nós e os inimigos gera medo e justifica agressão e guerra. Essas guerras impedem o desenvolvimento da democracia. Os cineastas podem usar suas câmeras para mostrar qualidades humanas, romper estereótipos e criar empatia. Nós precisamos hoje de empatia mais do que nunca ? escreveu Farhadi.

Apresentador das categorias de melhor curta e melhor longa de animação, o ator mexicano Gael García Bernal também criticou Trump, mas sem citar seu nome.

? Como mexicano, como latino-americano, como trabalhador imigrante e como ser humano, eu sou contra qualquer tipo de parede que tente nos separar ? disse Bernal, numa referência ao muro que o presidente americano pretende construir entre os dois países.

Ao receber seu prêmio, Mahershala Ali, o primeiro muçulmano laureado com uma estatueta, preferiu fazer um discurso agradecendo aos seus professores e a sua família.

Viola Davis também homenageou a família. Com seu primeiro Oscar nas mãos após três indicações, afirmou que é preciso ?exumar e contar as histórias das pessoas comuns?:

? Há um lugar onde todos que têm potencial se reúnem. Esse lugar é o túmulo. As pessoas me perguntam: que histórias você quer contar? Eu digo: vocês têm que exumar esses corpos, as histórias das pessoas que sonharam sonhos grandes e nunca conseguiram concretizar, se apaixonaram, se perderam.