Cotidiano

'Os templos da Universal estarão acima das leis?', por Márvio dos Anjos

Quando se fala de prefeitura e Universal, é preciso perguntar: por que a organização tem tanta dificuldade de erguer megatemplos com transparência, conforme as leis municipais de construção e zoneamento? Por que tantas ações na Justiça e acordos emergenciais? É tão duro dar a César o que é de César?

Neste mês, a Igreja Universal foi punida em São Paulo por ter obtido um alvará de reforma ? usando informações falsas ? para erguer o Templo de Salomão, um caso que se estendeu por três anos. O correto, segundo o Ministério Público e a gestão Haddad, seria pedir um alvará de construção, já que não havia edifício no terreno. Depois de várias rodadas de negociação em sigilo de Justiça, a Universal foi obrigada a doar, no último dia 20, um terreno de R$ 38 milhões para evitar a demolição do templo.

Segundo a investigação, largamente noticiada pela ?Folha de S.Paulo?, a principal vantagem da Universal ao driblar o alvará foi a obrigação de dedicar 40% do terreno a moradias populares. Para isso, a Universal beneficiou-se em 2006 de decisões de um funcionário público que atropelou todos os pareceres em contrário. O servidor, Hussain Aref, é investigado hoje por suspeita de propinas para liberar outras construções durante a gestão Kassab. Para se ter uma ideia, em 2012 foi revelado que, em sete anos, Aref adquiriu 106 imóveis em São Paulo. Não se sabe, porém, de propina ligada ao Templo de Salomão.

No Rio, um megatemplo na Abolição ? inaugurado sem habite-se em 2004 ? só foi legalizado em 2012, através de um projeto de lei da prefeitura. O acordo só ocorreu porque a organização religiosa queria construir um anexo ao templo. Crivella participou da negociação com Paes, que perdoou R$ 3 milhões em dívidas de IPTU e taxas. O GLOBO noticiou o acordo.

Uma bagatela, se verificarmos que a Universal abrirá em 2017 um megatemplo em Curitiba com um investimento de R$ 414 milhões, e já adquiriu um terreno de R$ 90 milhões em Taguatinga-DF, também para outra catedral.