Cotidiano

Os perigos dentro de casa

É na infância que a curiosidade é ainda mais latente e provoca inquietação nas crianças. A fase das descobertas dos pequenos, no entanto, esconde vários perigos. É neste momento que os pais precisam acionar o alerta e evitar graves acidentes.

Um projeto de extensão do HUOP (Hospital Universitário do Oeste do Paraná) sobre acidentes domésticos na infância traz uma estatística preocupante. Segundo a coordenadora do projeto, Claudete Gomes de Faria, 22% dos internamentos no hospital durante todo o ano de 2016 foram ocasionados por acidentes que ocorreram dentro de casa. Segundo ela, esta foi a principal causa de internações no ano passado. “São muitos casos e na maioria deles de traumas. Quando as crianças são encaminhadas para o HUOP o caso já é grave e geralmente precisa de cirurgia”, relata.

De janeiro a dezembro de 2016 foram registrados 1.742 internamentos envolvendo bebês e crianças, e destes 384 ocorreram por acidentes domésticos. A faixa etária mais atingida é dos cinco aos dez anos. “É nessa fase que eles estão mais peraltas, brincam mais, e é também quando os acidentes mais acontecem”, conta uma das colaboradoras Osmarina Matias.

As quedas e traumas são as causas de internamentos mais comuns. Somente em 2016 foram 333 internações por conta desse problema. Na lista estão ainda asfixia, engasgamento e sufocação, intoxicação e envenenamento, queimaduras, choque elétrico, mordida de animais e afogamento.

MAIOR AINDA

O tema até então não apresentava índices. O número divulgado, que já é expressivo, pode ser ainda maior. Isso porque os dados foram captados apenas entre os internamentos no HUOP, que são de alta complexidade, sem contar as crianças que passam pela UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Pediatria, em Cascavel. “Até tentamos fazer essa contabilidade, mas é praticamente impossível, até porque não há este controle na unidade”, diz Claudete.

Tragédias que alertam

Um dos casos mais recentes e ressaltado no projeto foi o da menina de quatro anos que sofreu um acidente no parquinho de uma creche em Cafelândia. Ela estava em um balanço e ficou com o pescoço preso no suporte do brinquedo. Você deve estar se perguntando: mas o acidente foi na escolinha e não em casa, por que entrar na estatística? Segundo Claudete, quando a criança passa o dia todo na creche ou CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) e sofre qualquer acidente, este é considerado doméstico, já que passa a maior parte do dia neste local.

O acidente deixou uma sequela irreversível à criança. Ela permanece em estado vegetativo e será encaminhada a um hospital em Brasília (DF) para que os familiares e a vítima aprendam a conviver com as limitações. “Isso é muito grave e os pais ou responsáveis precisam sempre estar atentos”, diz a coordenadora.

Outra situação foi de um menino que engoliu uma pilha e o material derreteu em seu organismo, gerando uma lesão no esôfago que lhe fez enfrentar o centro cirúrgico. Até que recebesse alta, foram 13 dias de tratamento no HUOP.

Como evitar?

No projeto, um panfleto foi elaborado e entregue à comunidade para evitar que as estatísticas engrossem. Para que não ocorram traumas e quedas, por exemplo, é indicado sempre ter grade protetora e observar a altura da cama ou berço da criança. Não deixar que crianças e bebês subam em bancadas e mesas, nem que fiquem sozinhas em cima de camas e móveis.

As colaboradoras pedem ainda que produtos tóxicos e medicamentos não fiquem ao alcance de crianças, evitando assim intoxicação e envenenamento. Nas tomas, sempre é bom usar protetores.

Ensinamentos

Uma ideia adotada pelas escolas do Rio de Janeiro, mas que saiu de Cascavel. A escritora do livro infantil A nova missão de Alertina, Shirley Fonseca, criou dois personagens para contar uma importante história. Com uma panela e um litro de álcool, denominados Alertina e Altino, a autora mostra os perigos escondidos dentro de casa e onde cada objeto deve ser armazenado, sempre longe das crianças. O livro foi lançado em 2012 e neste ano ganhará uma releitura.