Cotidiano

'Os heróis épicos fazem parte da minha carreira?, diz Thiago Lacerda

thiagolacerda.jpgRIO ? Sob a ótica de Thiago Lacerda, Ciro, o vilão interpretado por ele na novela ?A lei do amor?, tem a alma de Macbeth, protagonista da obra homônima de Shakespeare. O dramaturgo inglês é uma presença constante na trajetória do ator, que celebra 20 anos de carreira em 2017 intercalando trabalhos na TV e no teatro. TV 18.2

? Ciro é Macbeth. Tentaram colocar a etiqueta superficial de vilão, mas sempre enxerguei que ele poderia ser um homem bom se não fosse a sua ambição desmedida. Ele é como Macbeth, que se corrompe pela ambição até se transformar em um animal.

Para o ator, todo mundo tem o direito de desejar uma ilha em Angra dos Reis, por exemplo. Mas ninguém deve fazer caixa dois ou apertar um gatilho para conseguir o que quer.

? Se o Ciro não tivesse cruzado com a Magnólia (Vera Holtz) teria sido moldado por outra pessoa. Ele poderia ter trilhado um caminho interessante. Mas chegou uma hora em que não tinha mais para onde ir, estava com as mãos sujas de sangue, como Macbeth ? compara.

Na novela das 21h da Globo, Ciro trocou o posto de diretor da tecelagem Costa Leitão pelo de ex-presidiário.

O discurso de Lacerda, de 39 anos, traduz a sua intenção de popularizar a obra de Shakespeare. Desde 2012, quando subiu ao palco no papel de Hamlet, o ator, que deu os primeiros passos na carreira em ?Malhação? (1997), persegue esse objetivo.

? Shakespeare falava para todos os públicos, tanto para os nobres quanto para os plebeus. O meu principal objetivo é desconstruir esse gigantismo que está no imaginário coletivo. E levar as pessoas comuns para assistirem às suas peças.

MOCINHO MARCANTE

Na opinião do ator, Shakespeare tratava como ninguém da fragilidade humana, dos encontros e desencontros da vida.

? As pessoas têm medo de não entender (o texto do autor), mas a obra de Shakespeare é acessível ? observa Thiago, que complementa: ? Quero voltar a fazer Repertório Shakespeare, em que enceno ?Macbeth? e ?Medida por medida?, ainda esse ano.

A sua ideia é viajar pelo país contando essas histórias. Duas décadas depois do seu primeiro encontro com a arte, o intérprete do Ciro mantém o interesse pelo ofício inalterado. Assim como a predileção pelos mocinhos:

? Adoro os heróis. Eles têm valores, mas também podem ser muito contraditórios. Coincidência ou não, os trabalhos que fiz e mais marcaram foram os mocinhos. Até hoje falam do Matteo (de ?Terra nostra?, de 1999), por exemplo. Os heróis épicos fazem parte da minha carreira de um modo definitivo.