Opinião

Os desvios e os descasos

Por Carla Hachmann

Há anos que a imprensa denuncia viaturas sucateadas nos pátios das corporações. Os próprios comandantes informam os superiores da necessidade de reforma, sem contar que qualquer pessoa, que dirá gestor, sabe que manutenção faz parte.

Como explicar um contrato milionário, ineficiente que continua em vigência e pior, é prorrogado?

A Operação Peça Chave deflagrada ontem revelou o que muitos, mas muitos mesmo, já tinham alertado. Como consequência do descaso, pelo menos R$ 125 milhões podem ter sido desviados dos cofres públicos estaduais. Recursos que fazem falta em muitas áreas, especialmente na própria segurança pública, que está sucateada. E que também não é segredo para ninguém.

Além dos prejuízos ao erário, o esquema também lesou diretamente a sociedade, com diversas empresas que sofreram calote. É mais de um ano de serviços não pagos. O governo nunca se atentou a isso? Como é possível estender um problema por tanto tempo?

Algumas particularidades do poder público são incompreensíveis. E não dá para usar a burocracia como desculpa, não dá mesmo!

Apesar de todos os problemas, um contrato desses é prorrogado. E, cientes das dificuldades, de que os serviços não eram feitos a contento, o governo leva mais de seis meses para fazer outra licitação. Como se explica essa lentidão? E agora, quem é que vai pagar a conta?

Muito mais perigoso que os desvios de recursos na administração pública é o descaso. Ele causa um rombo tão grande ou ainda maior à sociedade. E não adianta dizer que vai fazer, ou que está fazendo. É preciso que já tivesse sido feito.