Cotidiano

Os 40 anos da Honda CG, o veículo mais vendido na história do Brasil

INFOCHPDPICT000062431316INDAIATUBA – O caro leitor imagina qual é o veículo mais vendido da história no Brasil? Nem Fusca, nem Gol, nem Uno: é a Honda CG, com mais de 11 milhões de unidades entregues! Muito à frente, portanto, dos automóveis: o Gol já somou 6,2 milhões, o compacto da Fiat chegou a 3,2 milhões e o velho besouro, a 3 milhões. São 40 anos de muito sucesso e, claro, alguns tropeços.

Para se ter uma ideia do ritmo de produção, são entregues, em média, 26 mil dessas motos por mês. O Chevrolet Onix, o carro mais vendido do país, tem cerca de 11.600 unidades emplacadas mensalmente. Quer mais? Na fábrica de Manaus (a maior da Honda no mundo, adivinhe por qual motivo…), uma CG ? cujo nome significa City Ground, ou ?terreno urbano?, em tradução livre ? fica pronta a cada 22 segundos. Não é por acaso, portanto, que 404 mil CGs ganharam as ruas do país em todo o ano passado.

E eis que, neste aniversário de quatro décadas da CG, quem ganha o presente somos nós: a oportunidade de pilotar algumas das oito gerações do modelo na pista da Honda, em Indaiatuba (SP).

O DNA DO MODELO

A primeira moto a ser testada é a mais nova: uma CG 160 Titan Série Especial de 40 Anos, que foi lançada no mês passado. É o futuro no presente: uma street pequena que parece média, com seu conjunto imponente, sólido, seguro, bonito e confortável. E meio caro, também ? custa R$ 10.290. Mas é o preço disso tudo, somado à exclusividade, já que apenas 7 mil unidades serão vendidas.

Este modelo está muito mais distante da ?bolinha? de 1976 do que sugerem as quatro décadas que as separam. O visual segue a linha robótica que tem predominado nos últimos anos, mas (ainda bem) sem tantos abusos.

Estão lá o farol com cortes retos e moldura, o tanque alto com abas lateais, as carenagens com prolongamentos, a rabeta arrebitada, os piscas pequeninos e transparentes e até o para-lama dianteiro com ressalto ?esportivo?. Tudo bem valorizado pela pintura nas cores branca, vermelha e azul da divisão de competições da Honda, e pelas rodas douradas da série especial (há ainda um embleminha dos 40 anos sobre o tanque).

INFOCHPDPICT000062428986Embora não faça milagres com seus 15,1cv de potência máxima, o motor de 160cm³ é valente e proporciona um desempenho muito satisfatório. Entrega sua força de maneira progressiva e sem buracos, exigindo apenas que o piloto mantenha o motor cheio com o uso bem frequente do câmbio de cinco marchas.

Com satisfatória capacidade de esterço, a agilidade é exemplar e não causa sofrimentos mesmo no trânsito mais apertado (motos com pouco estreço, como a falecida CB 300R, eram um tormento nesse sentido). A posição de pilotagem é excelente, o banco é anatômico e as suspensões transmitem muita segurança, assim como os freios combinados ? acione o traseiro e parte da força também vai para o dianteiro ?, que em nada lembram os tambores preguiçosos de antigamente.

Mas esta CG 160 Titan de hoje tem algo que já se via naquela ?bolinha? de 1976, e que é a principal virtude e DNA da moto: a ótima ciclística, aquele aspecto tão subjetivo quanto importante, que faz uma moto ser fácil de pilotar, como se você vestisse uma roupa feita sob medida.

Não temos aqui nem sinal de frente pesada, de traseira rebolativa ou de oscilações nas curvas, decorrentes de torções de chassi, que já vimos em tantas concorrentes de marcas mais ou menos famosas, e de origens diversas. Nesse aspecto, a CG, desde sua primeira geração, sempre foi imbatível. Não há moto com pilotagem tão fácil e agradável.

UMA JORNADA NO TEMPO

Hora de voltar no tempo e pilotar a primeira CG, uma 125 1976 ?bolinha?. A moto pertence ao Museu da Honda e não tem nem 100km rodados. Então, todo cuidado é pouco. O motor ronrona com seus parcos 11cv, a suspensão é durinha e os freios são uma vaga lembrança. Mas a posição de pilotagem gostosa e o banco ?bolo de noiva?, muito confortável, compensam. O câmbio com as quatro marchas para baixo causa algum estranhamento no começo, mas em segundos se torna familiar. Se há uma CG que dá vontade de levar para casa, é essa!

A 1983 que piloto em seguida já exibe alguma evolução. Tem freios melhores e câmbio bem mais macio. O banco meio quadrado quadrado, porém, é menos confortável. O para-lama dianteiro ainda é cromado e o farol, redondo, mas as linhas do tanque e das laterais ficaram mais retas e já não têm o charme das anteriores. Seu aspecto, porém, é mais robusto e imponente. As respostas do motor de 11,6cv são praticamente iguais às da antecessora.

CarroETC 02-11Na CG 125 2004, a terceira em nossa experimentação, algumas coisas melhoraram e outras pioraram. As suspensões são mais macias e o freio dianteiro, mesmo que ainda seja a tambor, pega melhor. Mas o banco é mais duro e fico em posição mais alta, um tanto desengonçada, à qual demoro para me ambientar. É uma moto mais sólida, sem dúvida, mas que não transmite tanto prazer na pilotagem quanto as antecessoras. Sem sal.

A evolução para muito melhor acontece, mesmo, na CG Titan 2007 que vem a seguir. O freio dianteiro a disco faz toda diferença e transmite muito mais segurança. O motor, agora, com 150cm³ e 14,2cv, tem respostas mais honrosas e grita pouco. Este modelo permite entender melhor porque a CG satisfaz tão bem do motoboy que entrega documentos na Avenida Rio Branco ao agroboy que toca o gado no sertão. Ágil e rápida, resolve tudo.

A última moto de nossa pequena degustação é, para mim, a menos encantadora: a CG 150 2009 ?diabinha?. Não que seja ruim ? as virtudes de antes estão lá. Mas inspira antipatia o desenho estranho, com moldura exagerada em torno do farol triangular de grandes dimensões, e com piscas laranjas embutidos.

Porém, é preciso ser justo: a dirigibilidade da moto é tão boa quanto a da anterior, as rodas de liga tiram peso nas manobras e o tanque arredondado permite um correto encaixe das pernas. Ainda bem que a geração seguinte, mais discreta e harmoniosa, devolveu o visual bacana que a moto merece. Todas são, sem dúvida, CGs.