Cotidiano

Orquestra perde patrocínio e faz crowdfunding para bancar concerto

2015 837056304-CBB3.jpg_20150730.jpgRIO ? No ano em que comemora três décadas, a Cia. Bachiana Brasileira se viu em compasso de espera. O conjunto musical, formado por orquestra e coro dirigidos pelo maestro carioca Ricardo Rocha, já não havia conseguido abrir sua temporada, como de praxe, no primeiro semestre, por falta de verba. Seu primeiro concerto sinfônico foi marcado para 9 de outubro, a convite da direção do Teatro Municipal, que lhe cedera o palco. As passagens aéreas da solista, a violoncelista alemã Regine Daniels-Stoll, foram compradas com a ajuda do Consulado Geral da Alemanha. Mas eis que, há quatro semanas, o patrocinador do concerto, combalido pela crise, avisou que não poderia bancá-lo.

? Esse patrocinador (a orquestra prefere não divulgar o nome da empresa) está conosco há muitos anos e sempre foi um porto seguro. Mas ele nos comunicou que não teve lucro real, que é um requisito para se valer da renúncia fiscal. Então, eu fiz uma reunião de emergência com os conselheiros e os associados da Bachiana Brasileira, e a solução sugerida foi um crowdfunding. Só uma pessoa era contra: eu mesmo. Eu não queria repassar essa responsabilidade à sociedade, mas pensei melhor, vi que até o grande maestro inglês John Eliot Gardiner já recorreu a esse expediente e mudei de ideia ? conta Rocha, que regerá seu primeiro concerto do ano no dia 28 de setembro, na série Quartas Clássicas do BNDES (cujas atrações são escolhidas por edital e têm seus custos arcados pelo banco), com a Bachiana Brasileira em formação de câmara.

Já para a apresentação sinfônica de outubro, Rocha precisa de 36 vozes no coro e 24 músicos na orquestra, para interpretar o ?Concerto de Brandemburgo nº 5? e a cantata ?Christ lag in Todesbanden?, ambos de Bach, as ?Bachianas brasileiras nº 9?, de Villa-Lobos, e o concerto para violoncelo e orquestra de cordas de Marcos Lucas. A solista convidada foi escalada para essa última obra e também para tocar a suíte para violoncelo solo nº 1 de Bach. Além disso, ela dará masterclasses para jovens participantes de dois programas socioculturais, o Aprendiz, de Niterói, e o Projeto Som + Eu, do Morro da Providência.

A campanha de crowdfunding ? feita pelo site benfeitoria. com/bachiana, até o dia 21 de setembro ? levantou por enquanto R$ 12.540, pouco mais de um quinto da meta (de R$ 57 mil). Além dos gastos com os artistas, há os de produção, que vão de aluguel do local de ensaios até transporte dos músicos, aluguel de partituras e impostos. Em troca das doações, a Bachiana oferece recompensas como ingressos e até um quadro de moedas comemorativas da Olimpíada Rio-2016.

? O programa desse concerto, com música alemã e de compositores brasileiros, é semelhante ao do concerto de estreia da orquestra, que se chamava então Sociedade Musical Bachiana Brasileira ? lembra o maestro, que estudou regência na Alemanha e se especializou no repertório germânico. ? Um concerto clássico não atende a uma lógica de mercado, não é como um espetáculo musical que faz temporada e sai em turnê, por isso é muito mais difícil captar patrocínios, e o Estado, que deveria assumir essa tarefa, a transferiu para a iniciativa privada. Nós, músicos clássicos, ficamos num limbo.