Cotidiano

Oposição suspeita de operação em escritórios da Odebrecht em Caracas

VENEZUELA-OPPOSITION-RALLYSÃO PAULO – Autoridades venezuelanas afirmaram terem feito uma operação nos escritórios da Odebrecht em Caracas, na última terça-feira. Segundo o governo de Nicolás Maduro, os promotores estão aprofundando uma investigação sobre a construtora brasileira que admitiu pagar cerca de US$ 98 milhões em subornos para obter contratos governamentais na Venezuela ? o maior montante de propina pago fora do Brasil. Mas como boa parte das instituições do país é vinculada a Maduro, as apreensões levantaram suspeitas da oposição.

O deputado Juan Guaidó, do Vontade Popular (VP), escreveu no twitter desconhecer que a apreensão tenha sido ordenada pelo Ministério Público.

?Quem faz a operação é a Direção Geral de Contrainteligência Militar, nem sequer o Ministério Público ou a Procuradoria?, disse o deputado, colocando dúvidas sobre a intenção da operação.

Em comunicado, o Ministério Público disse que ?a investigação visa esclarecer a situação e determinar se os projetos para os quais a empresa foi contratada foram concluídos?. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que os responsáveis devem ser punidos, mas seus críticos dizem que o governo tem sido lento para responder ao escândalo.

Em dezembro, a Odebrecht e a petroquímica afiliada Braskem se declararam culpadas em um tribunal americano por violar as leis dos EUA e terem pago suborno em troca de obras em 12 países. Os US$ 98 milhões a funcionários do governo venezuelano teriam sido pagos entre 2006 e 2015 ? pegando os governos de Hugo Chávez, morto em 2013, e Nicolás Maduro.

Em nota, Juan Guaidó, que é presidente da Comissão de Controladoria da Assembleia Nacional, lembrou ?não ser coincidência? as buscas na empresa terem sido realizadas no mesmo dia em que a comissão intimou representantes da Odebrecht a comparecerem no Congresso para dar explicações sobre a atuação da empresa no país.

?Qual a intenção por trás dessa busca? Investigar ou dificultar??, questionou o deputado, que é do mesmo partido de Leopoldo López, preso desde 2014 sob a acusação de incitar manifestações contra o governo.

?Não se pode tapar o sol com um dedo, fazendo operações em escritórios ou expulsando jornalistas que investigam um caso terrível como o da Odebrecht, é óbvia a vinculação do regime com este caso?, diz a nota do deputado, que disse que se a intenção do governo e do Ministério Público é ?obter a verdade e deter os responsáveis do caso, contará com a Assembleia Nacional?.

Entre as obras sob suspeita da Odebrecht na Venezuela estão três linhas de metrô da capital e da Grande Caracas, financiadas pelo BNDES. No fim de semana, um grupo de jornalistas da TV Record chegou a ser detido no país, após filmar obras da empresa no estado de Maracaibo.

Nenhum processo envolvendo a empresa ou políticos foi aberto até agora na Venezuela.