Cotidiano

Oposição fica perto de completar nova etapa de referendo contra Maduro

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CARACAS ? A oposição venezuelana relatou ter mais de 156 mil assinaturas em favor da convocação de um referendo revogatório contra Nicolás Maduro. A cifra declarada pelo líder opositor Freddy Guevara representa cerca de 80% da quantidade de validação exigida pelo órgão eleitoral do país para ativar a consulta popular. O processo, que já cumpriu uma primeira etapa, pode terminar levando ao encurtamento ou fim do mandato do presidente.

Na segunda-feira, venezuelanos começaram a validar suas assinaturas em centenas de postos espalhados pelo país. O processo é coordenado pela coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) que, em maio, entregou 1,85 milhão de firmas a favor da convocação do referendo ? 600 mil destas foram invalidadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). maduro

Os estados de Trujillo, Vargas, Apure, Yaracuy, Cojedes, Guárico e Portuguesa são os que registraram maior participação até agora. Muitas urnas registraram problemas e filas enormes, e até estenderam seu funcionamento por mais meia hora.

O processo acontece em todo o território venezuelano até a próxima sexta-feira, dia 24 de junho. Mas a expectativa da oposição era alcançar a quantidade de validações exigidas pelo CNE no segundo dia ? correspondendo a 194.729 assinaturas, ou seja, 1% das firmas aprovadas pelo órgão eleitoral.

? Buscamos uma solução urgente, pacífica e eleitoral a essa crise ? disse Guevara.

MADURO ‘DISPOSTO A VER ATÉ O DIABO’

Durante a tarde, Maduro disse que está disposto ?a ver até o diabo?, para iniciar um diálogo com a oposição. Após quase seis meses de uma luta de poderes entre o Executivo e o poder legislativo, controlado pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), o presidente estendeu o novo convite a seus adversários, em particular a Henry Ramos Allup, presidente do Parlamento. Mas apesar do chamado para a conciliação, ele acusou dirigentes ? incluindo Allup ? de buscar ?um clima de confronto e violência interna que justifique uma intervenção no país?.

? Sou capaz de ir ver até o diabo ? disse, durante um ato na capital venezuelana, pedindo apoio para ?obrigar a MUD e Allup a se sentarem para conversar?. ? A Venezuela está exigindo o diálogo.

Maduro também deu as boas-vindas ao diplomata americano Thomas Shannon, subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, que chegou a Caracas. Shannon foi ao país a pedido do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e atendendo a um convite do governo venezuelano.

? Me parece muito bem que se deem passos certeiros para relações de respeito com os Estados Unidos: eles lá, e nós cá ? afirmou.

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BATALHA POLÍTICA

A oposição acusa o governo de tentar atrasar o processo revogatório. Se o referendo for feito este ano e o presidente Nicolás Maduro perder, uma nova eleição presidencial deverá ser convocada. Mas se a votação ficar para o próximo ano, o vice-presidente assumiria em caso de vitória de Maduro.

? O objetivo do CNE foi não nos dar material suficiente para validar as assinaturas e, assim, atrasar o processo ? denunciou o deputado Stalin González.

A segunda fase do processo é a coleta de mais de quatro milhões de firmas, para ativar formalmente a consulta popular. Se não ocorrerem imprevistos, o referendo poderia acontecer entre a segunda quinzena de novembro e meados de dezembro, segundo o especialista em temas eleitorais Eugenio Martínez.

Na semana passada, no entanto, Maduro apresentou uma demanda de fraude na coleta das assinaturas ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), o que, segundo juristas, poderia implicar o atraso do processo e, inclusive, sua anulação.

A oposição venezuelana tem investido em uma forte ofensiva contra o mandato de Maduro. Nos últimos meses, parlamentares contrários ao seu governo declararam uma campanha pela sua saída do governo, que inclui diferentes mecanismos legais e a convocação de manifestações nas ruas.

O presidente viu sua popularidade despencar devido à recessão brutal, uma inflação de três dígitos, escassez generalizada de produtos e longas filas nos estabelecimentos comerciais. Pequenas manifestações anti-Maduro e saques vêm acontecendo em várias cidades nas últimas semanas.