Política

OPINIÃO: Melódia, o governo dos piores

Melódia - desentendimento, incompreensão, antagonismo. Caquistocracia - governo dos piores.

Essas duas velhas expressões foram revisitadas recentemente, sob a provocação da atual crise da civilização, que é múltipla: política, econômica, sanitária e ambiental, para ficar só no básico.

Para o ex-ministro Delfim Netto, às voltas com a Lava Jato, a confusa situação criada pela reversão de expectativas de mais um corte na taxa de juros foi uma ação olímpica de “Zeus”, para se divertir e confrontar a arrogância humana. Agitou as águas nacionais ao romper a habitual tabelinha mercado-Bacen. Como impichar um deus grego?

Melódia é palavra adequada para definir o mundo, entre a Itália e os trópicos. O planeta é uma festa para pessimistas, embora os otimistas aleguem, recorrendo ao velho Heráclito de Éfeso, que “a harmonia é resultante da tensão entre contrários”. Se é, o Brasil é o reino da harmonia.

O palavrão caquistocracia foi usado pelo ex-diretor da CIA John Brennan para designar o Governo Donald Trump. A palavra surgiu na política originalmente com Paul Gosnold, em 1644, temendo que a guerra civil britânica levasse a um governo sem os requintes da monarquia.

Trump estaria pondo em risco o “reinado” estadunidense? Será que os EUA, a Grécia da crise anterior, a Itália bola da vez, a Inglaterra do Brexit, as nações atoladas na dívida, caíram nesse abismo por conta de governos dos “piores”, trogloditas incapazes de recrutar os melhores para cuidar da burocracia, planejamento e finanças?

Platão dizia que “o castigo dos homens capazes que se recusam a tomar parte nas questões governamentais é viver sob o regime dos homens incapazes”. Só que trabalhar e pagar impostos são ações perfeitas de homens capazes. Deles vêm o respaldo às ações governamentais.

Eleições nem tanto, sempre arranjadas para manter o status quo. Pedro II supunha que as eleições, “como são feitas no Brasil”, dificultam o progresso. No pleito de 2018, repetindo a sina, as regras do jogo viciadas só favorecem os partidos com mais corruptos já apanhados e enredados.

O jogo é bruto, arrumado para o Centrão continuar manipulando a coalizão e ditar as ações do próximo presidente, que chegará ao governo engessado pelas contas que não fecham e bancadas ávidas para fazer negócios, eleitas pelas velhas regras do jogo. A República veio para dar fim aos privilégios da monarquia, mas os presidentes republicanos compartilharam o poder com monarquistas eleitos ao parlamento. O grande nome da República entre 1900 até morrer, em 1912, foi o Barão do Rio Branco.

E o sonhado “novo”? A Revolução de 1930 veio para pôr fim à corrupção, mas os maus costumes da Velha República permaneceram. De golpe em golpe, antes e após 1964, mais e mais crises e subcrises. Morrem jovens índios nas florestas, mas os caciques partidários prolongam seus poderes jogando para que cheguem ao segundo turno das eleições não os “novos” que tantos ingenuamente anseiam, mas políticos com dez a vinte anos acomodados no sistema de sempre.

Alceu A. Sperança é escritor – [email protected]

Platão dizia que “o castigo dos homens capazes que se recusam a tomar parte nas questões governamentais é viver sob o regime dos homens incapazes”