Esportes

OJ Simpson é personagem central de documentário favorito ao Oscar

RIO, 25 (AG) – Todo atleta busca troféus, consagração de trabalhos que envolvem sacrifício e boa dose de talento. Não há dúvida de que o ex-running back Orenthal James Simpson, ou apenas O. J. Simpson, reunia esforço e dom natural, tanto que deixou seu legado como um grande jogador de futebol americano, mas não é só isso que faz dele parte central de um filme de oito horas e cinco capítulos que é favorito a ganhar o Oscar de melhor documentário, na noite deste domingo à noite, em Los Angeles, cidade que abrigou grande parte da montanha russa que é sua vida. A TNT transmite a partir das 21h.

O documentário transcende a batalha nos tribunais em meados dos anos 1990 que dividiu a sociedade americana entre aqueles que acreditavam que O. J. havia matado violentamente sua ex-mulher, num bárbaro homicídio duplo (que incluiu Ron Goldman, amigo dela), e os que confiavam em sua inocência. O diretor Ezra Edelman – o mesmo de “Magic & Bird” – volta às origens dos problemas raciais na Califórnia, ponto central do julgamento.

Ao mesmo tempo que o estado no Oeste era um convite aos negros do Sul, que ali conseguiam comprar casas, a segregação ainda era realidade. Em 1965, distúrbios em Watts resultaram em 34 mortes. Foi a poucos quilômetro de distância que, dois anos depois, o jovem O. J. seria catapultado à fama com atuações espetaculares pela University of Southern California.

É neste contexto que surge O. J. – apelido que remete às suas iniciais e à forma como os americanos chamam o suco de laranja (orange juice). Atlético, talentoso, carismático e bonito, ele se tornou um improvável garoto-propaganda para grandes marcas num país que ainda vivia resquícios do movimento dos direitos civis. O ex-jogador, no entanto, jamais flertou com o discurso de Malcolm X ou Martin Luther King, Jr. O filme retrata um homem que se via acima dessa questões. Não era negro ou branco.

– Sou O. J. – dizia, colocando-se num patamar exclusivo, que o excluía da necessidade de levantar bandeiras.

Queridinho dos Estados Unidos, ele foi o primeiro escolhido no draft de 1969 para os Bills, da cidade de Buffalo. O clima gélido e a população proletária da localidade ao norte do estado de Nova York pouco tinham a ver com sua personalidade. No auge da fama, O. J. era um homem de Hollywood, cercado majoritariamente de homens ricos e brancos, que desfrutavam de sua companhia numa mansão em Brentwood, Los Angeles.

A vida que parecia ser uma festa para O. J. tornou-se um inferno na noite de 12 de junho de 1994, quando sua ex-mulher, a belíssima Nicole Brown, e Ron Goldman foram assassinados a facadas. Cinco dias depois, quando deveria se entregar à polícia, ele fugiu pelas estradas numa caçada humana com contornos épicos, numa cena surreal, transmitida ao vivo em rede nacional e com direito a ovação de fanáticos nas ruas.

Não há dúvidas de que a reação da contestada polícia de Los Angeles, escoltando o veículo de um fugitivo, era completamente diferente do comportamento geralmente dispensado a negros na cidade. Quatro anos antes, o negro Rodney King fora espancado por policiais brancos. Apesar de a cena ter sido flagrada em vídeo, os agressores foram inocentados num controverso julgamento.

A vida de O. J. nos momentos de sucesso já renderia livros e filmes, mas foram os lances trágicos que ajudaram a fazer dele um filão. A Netflix exibe uma série de dez capítulos sobre o astro. Em “The People v. O. J. Simpson: American Crime Story”, Cuba Gooding Jr atua como o ex-jogador e John Travolta é Robert Shapiro, parte do Time dos Sonhos de advogados que transformou o julgamento em um capítulo do debate racial nos EUA – e que conseguiu a absolvição de seu cliente.

Sem jamais ter a inocência presumida pela opinião pública, Simpson perdeu seu status até que, em 2007, envolveu-se num roubo na tentativa de recuperar antigos pertences em Las Vegas. Sua condenação a 33 anos de prisão é tida por muitos como um punição tardia pelo duplo homicídio que não o condenou.