Cotidiano

Oito em cada dez trabalhadores cursaram só até o ensino médio

Toledo – Neste Dia do Trabalhador, 1º de maio, uma informação que merece reflexão. Em uma ponta, os trabalhadores mais qualificados e com as maiores remunerações estão concentrados nas mãos de quem está mais preparado do ponto de vista acadêmico, no outro, a região ainda vive um retrato preocupante de baixa escolaridade.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), nas seis maiores cidades do oeste – Assis Chateaubriand, Cascavel, Foz do Iguaçu, Marechal Rondon, Medianeira e Toledo -, oito em cada dez profissionais no oeste cursaram só até o ensino médio. Isso não significa que eles tenham o ensino médio concluído, pelo contrário. Uma parte expressiva dos quase 177 mil com carteira assinada nessas cidades nem sequer chegou a iniciar o ensino médio, estacionando no ensino fundamental ou nas formações anteriores. Para se ter ideia, do total de empregados, mais de 50 mil chegaram só até o ensino fundamental.

Para a educadora de jovens e adultos Ivânia Roque, o reflexo disso pode ser notado nas salas de aula: “Trabalho com a alfabetização de jovens e adultos e ainda é impressionante o número de analfabetos que chegam todos os anos às salas de aula”.

Na prática, o levantamento do MTE aponta que, somente ano passado, 616 profissionais foram identificados dentro das empresas sem nem mesmo saber ler ou escrever.

De volta à sala onde Ivânia ministra aulas, o que se nota é que muitos chegam ali “empurrados” pelas empresas que os contrataram ou porque precisam de um trabalho que exija, no mínimo, o básico da escrita e da leitura. “Não se pode admitir que exista uma única pessoa, em pleno século XXI, que não saiba ler e escrever o básico. Por isso o mercado tem se fechado cada vez mais para essas pessoas”, reforça.

Para a professora, a evasão, por sua vez, está diretamente associada com a falta de oportunidade e a necessidade de trabalhar. “Em 20 anos de profissão tenho observado que muitos abandonam os estudos para trabalhar, são poucos os que deixaram os cadernos e livros só por preguiça ou falta de determinação”, avalia.

Na outra ponta da tabela existem 34,5 mil pessoas que têm o ensino superior nas seguintes condições: incompleto 6.631; completo 26.546 e mestrado ou doutorado 1.251.

Pensando nos empregos do futuro

Unir qualificação e preparo: esse é um dos objetivos pelos quais o empreendedorismo tem emergido na região oeste e não é só do ponto de vista de saber gerenciar um negócio, mas a própria vida.

Dar caminhos ao empreendedorismo dentro das salas de aula passou a ser um desafio cada vez maior e de forma que o aluno seja incentivado, desde o ensino básico, a não desistir, nem da sua qualificação acadêmica, muito menos da vontade de empreender, E olha que isso não tem nada a ver só com abrir o próprio negócio, mas para dar direcionamento e gerenciar uma carreira.

Coordenado pelo Sebrae/PR, o Programa de Educação Empreendedora na região oeste ganha as faculdades e as universidades, mas já há escolas e colégios parceiros.

A consultora Nara Pick lembra que antes as instituições educacionais eram celeiros do conhecimento. “Isso funcionou bem por um tempo. Agora, precisa participar do processo de inovação para desenvolver territórios e eles são compostos por empreendedores, mas precisam do apoio e do envolvimento do governo, das empresas e da academia, que é onde vai surgir o conhecimento técnico, além das boas experiências já vividas em outros lugares e que merecem ser desenvolvidos”, contou.

Em um cenário de mudança constante das atividades, o grande desafio da empregabilidade, lembra o diretor da PUC/PR campus de Toledo, Renato Trach, está justamente na inovação. “Pelo menos 60% das atividades profissionais em 2030 ainda não existem, nem foram pensadas, enquanto 45% dos ativos hoje deixarão de existir. Segundo o Fórum Econômico Mundial, a grande dificuldade está na resolução de problemas complexos porque hoje está tudo muito fácil e não precisa pensar muito. O grande desafio dos profissionais para este futuro próximo está na criatividade”, desafiou.

“Não podemos pensar no nosso aluno para o ano de 2018 ou 2019, temos a obrigação de projetá-lo para 2030, quando estiverem no auge do seu trabalho”, ponderou.

Nara Pick completa lembrando que tudo passa essencialmente pelo caminho da qualificação.