Cotidiano

Odebrecht doou a filho de Renan para agradecer apoio em MP, diz delator

SÃO PAULO. O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse ao Ministério Público Federal (MPF) que presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria atuado em defesa dos interesses da empreiteira no Senado, com o intuito de estender o fornecimento de energia mais barata para a indústria eletrointensiva no Nordeste. O assunto teria sido tratado por Melo Filho com Renan em seu gabinete, e resultado na apresentação de emenda aprovada pelo Senado tratando do tema, que posteriormente foi vetada pela presidente Dilma Rousseff.

De acordo com Filho, o emprenho de Calheiros com o projeto resultou em um ?crédito? para o senador. ?Esse crédito foi relembrado por ele a mim quando, em 2014, pediu que a companhia fizesse pagamento financeiro a seu filho a pretexto de contribuição de campanha. Justamente pela existência desse crédito, o pedido de Renan em favor de seu filho foi acolhido?, escreveu o executivo em um dos esboços de sua delação, apresentado ao Ministério Público Federal (MPF).

A reunião onde Renan teria solicitado recursos para a campanha do filho foi detalhada pelo executivo em outro trecho da delação. De acordo com o relato, em 2014 os dois participavam de um encontro com outros funcionários da Odebrecht, na residência oficial do Senado. A reunião havia sido agendada para tratar da mesma MP, sobre contratos de fornecimento de energia.

Segundo o relato, em determinado momento da conversa, Renan teria dito que o filho era candidato ao governo de Alagoas e solicitado uma contribuição financeira para o pleito.

?Acredito que o pedido de pagamento para a campanha de seu filho ao governo de Alagoas, justamente no momento em que se apresentavam os aspectos técnicos relevantes, era uma contrapartida para o forte apoio dado à renovação dos contratos de energia, inclusive publicamente, que culminou na edição da MP 677/15?, disse o lobista ao MPF.

Para não ter seus interesses contrariados, a Odebrecht doou, naquele ano, R$ 320 mil à campanha do filho de Renan, valores oficialmente declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nas planilhas da Odebrecht, o presidente do Senado, Renan Calheiros, era tratado na Odebrecht pelo codinome ?Justiça?, provável referência ao fato de ter ocupado o ministério da Justiça entre 1998 e 1999, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Planilha do setor de Operações Estruturadas da empreiteira aponta que Renan recebeu pelo menos R$ 500 mil, em espécie, pagos em duas parcelas em agosto e setembro de 2010. O motivo do pagamento não foi esclarecido pelo executivo no documento.

Renan Calheiros é tratado por Melo Filho como integrante do grupo político representado pelo também senador Romero Jucá (PMDB-RR), citado como principal interlocutor do lobista da Odebrecht no Senado.

?Ainda que em alguns casos, eu não tenha tratado diretamente com o senador Renan Calheiros, eu sempre tive a certeza de que os entendimentos acertados com Romero Jucá eram automaticamente acertados com Renan?, disse o executivo.

De acordo com seu relato, a parceria entre os dois políticos era ?notória? a ponto de, em determinada oportunidade, ter sido interrompido ao tentar tratar, com Renan, de tema anteriormente tratado com Jucá. ?Renan Calheiros me interrompeu logo no início, afirmando já estar ciente e garantindo que eu não me preocupasse?, relatou.

Para o lobista, Jucá ?centralizava o recebimento de pagamentos e distribuía os valores internamente no grupo do PMDB do Senado Federal, especificamente, no que posso atestar com toda segurança, no que diz respeito aos senadores Renan Calheiros e Eunício Oliveira?.

Em nota divulgada sobre o relato do executivo da Odebrecht, Renan disse que ?jamais credenciou, autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância?. Disse que a chance de se encontrar irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais ?é zero?.

?O senador ressalta ainda que suas contas já são investigadas há 9 anos. Em quase uma década não se produziu uma prova contra o senador?, escreveu a assessoria, que não comentou as acusações de interferência de Renan em processo legislativo a pedido da Odebrecht.