Esportes

Odair Santos, um carro para dois pilotos

Paralimpíada ESPORTE 08/09É comum ouvir que os guias são os olhos dos corredores com deficiência visual. Mas a brasileira Terezinha Guilhermina, que é recordista mundial dos 100m na categoria T11 (destinada aos atletas totalmente cegos), prefere fazer uma comparação com a Fórmula-1 para explicar melhor essa relação. Para ela, o corredor é um carro potente enquanto o guia é o piloto. Sem uma sintonia fina entre os dois é impossível ter um bom desempenho. No caso de Odair Santos, de 35 anos, que conquistou o primeiro pódio do país no megaevento com a medalha de prata nos 5000m (T 11) ao fazer 15m17s55, nesta quinta-feira, no Engenhão, são necessários dois pilotos para dirigi-lo. Isso porque ele correu cada metade da prova com diferentes guias. Os dois são fundistas convencionais especialistas nos 1500m: Eriton Nascimento e Carlos dos Santos, o Bira.

? Fico mais à vontade correndo com dois guias. É um prova longa, e quero ter tranquilidade para saber que posso acelerar mais sem prejudicar o meu parceiro. Preciso estar confortável ? disse Odair que é dono de nove medalhas paralímpicas, mas que vai tentar a primeira de ouro na final dos 1500m, na terça-feira.

Odair é um carro tão potente que precisa de dois guias. E tanto Bira quanto Eriton entendem essa relação a ponto de abrir mão das medalhas já que os guias também recebem a honraria desde que não haja revezamento entre eles na prova. Por isso, Odair foi ao pódio sozinho enquanto os quenianos Sawell Kimani (15min16s11) e Wilson Bill (15min22s96) participaram da cerimônia junto com os seus guias James Boit e Bernard Korir, respectivamente.

? Abrimos mão da medalha pelo conforto de Odair. Ele é a razão de estarmos aqui, conseguindo uma exposição e resultados mais expressivos do que conseguimos como atleta convencional ? disse Bira, que foi nono colocado nos 1500m do Pan de Toronto, no ano passado.

Eriton explica que o trabalho do guia não é nada silencioso.

? Temos que ficar o tempo todo avisando quando estamos na curva, na reta, a posição em relação ao adversário. Por corrermos do lado direito, ou seja, mais pra fora da pista, acabamos percorrendo uma distância maior também. É um trabalho de muita responsabilidade. Não podemos em nenhum momento passar a frente de Odair ou queimar a linha de largada. Ou seja, nosso trabalho só aparece quando acontece algum erro ? disse Eriton.

Odair ficou feliz com a prata, mas queria mesmo era o ouro. Ele é bicampeão mundial dessa prova, mas ao defender o título no ano passado ele teve uma hipertermia no calor de Doha enquanto já liderava a prova e deixou escapar o tricampeonato. Na ocasião, Odair chegou a cair no chão e se tremeu de frio. Mas Bira estava ao seu lado e o ajudou a completar a prova mesmo não ficando no pódio.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

? O que eu puder fazer pelo Odair, eu faço. Correr com ele, além de abrir minha cabeça para uma realidade (o movimento paralímpico) que eu não conhecia, eu também melhorei meus tempos Baixei 10 segundos nos 1500, um minuto nos 5000 e dois minutos nos 21km. Isso porque eu só queria saber de competir. Com o Odair a gente investe muito tempo nos treinamentos para achar uma sincronia perfeita. E isso me fez evoluir tecnicamente no esporte ? disse Bira.

ALAN FONTELES FORA

A decepção do primeiro dia de atletismo ficou com Alan Fonteles, que ganhou uma projeção mundial ao bater Oscar Pistorius nos 200m da T44 (para amputados) em Londres-2012. Ontem, ele desacelerou no fim das eliminatórias dos 100m quando viu que estava com o quarto lugar garantido. Mas apenas os três primeiros avançavam diretos para a final que acontece hoje. As outras vagas seriam preenchidas de acordo com os melhores tempos das três baterias, mas os milésimos de segundos que Alan abriu mão ao desacelerar em sua prova acabaram lhe deixando de fora da decisão.

Os 100m não é a prova principal de Alan. Mas a eliminação ontem o deixou de fora da ?Super Sexta? como as disputas estão sendo chamadas hoje já que há oito finais de 100m, a partir das 17h, nas categorias: T35; T37; T38; T11; T12; T54; T53; e T44. Na parte da manhã, entre 10h e 12h30m, ainda ocorrem as finais dos 100m da T36 e T13. Além disso, juntando as provas de campo e pista, a sexta-feira terá mais 10 finais a serem disputadas.