Economia

Ociosidade na indústria atingiu nível recorde com a pandemia

A última vez em que a indústria brasileira usou toda a sua capacidade produtiva foi no último trimestre de 2013

Ociosidade na indústria atingiu nível recorde com a pandemia

Rio de Janeiro – A indústria brasileira fechou o segundo trimestre deste ano com uma ociosidade histórica. O PIB (Produto Interno Bruto) industrial encerrou o período 15,4% abaixo de sua capacidade produtiva, segundo estudo do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), informou o Estadão. O resultado representa o pior desempenho da série histórica do hiato do produto – diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial, ou seja, a distância entre o que foi de fato produzido e a capacidade total de produção – iniciada em 1998. A última vez em que a indústria brasileira usou toda a sua capacidade produtiva foi no último trimestre de 2013.

Com a recuperação da produção desde maio, é esperada uma redução na ociosidade do setor neste terceiro trimestre, mas, possivelmente, o hiato apenas voltará aos níveis elevados do pré-pandemia – entre 5% e 7% abaixo do potencial produtivo -, longe de recuperar o que foi perdido na recessão anterior, que se estendeu de 2014 a 2016.

“Com certeza, o terceiro trimestre vai trazer uma melhora, mas não vai voltar ao que era antes de 2014. Você tem uma capacidade para produzir, mas não está tendo demanda. Uma das razões para a inflação baixa é essa”, diz Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB da FGV e um dos autores do estudo do Ibre/FGV, ao lado das pesquisadoras Elisa Andrade e Juliana Trece.

Passado o pior momento da crise provocada pela pandemia, o empresário industrial se mostra mesmo mais confiante. O ICI (Índice de Confiança da Indústria) apurado na prévia da sondagem de setembro teve um avanço de 7,2 pontos em relação ao resultado de agosto, para 105,9 pontos, informou ontem a FGV. Caso se confirme, o índice alcançará o maior patamar desde janeiro de 2013.

Para Elisa Andrade, pesquisadora do Ibre/FGV, o cenário para a indústria brasileira como um todo não é animador, porque uma retomada com mais fôlego, a ponto de reduzir a ociosidade para patamares pré-recessão de 2014/2016, depende de uma redução no atualmente elevado nível de incertezas e recuperação de investimentos na economia.

“A indústria perdeu muito na recessão anterior. Mesmo antes da pandemia, ela teve três anos para se recuperar, mesmo assim não estava conseguindo voltar ao que era antes. Agora teve essa nova queda. Então não há muito a comemorar, mesmo que volte ao patamar de fevereiro deste ano”, avaliou Elisa. “A indústria é muito dependente de um cenário estável que atraia investimentos. É necessária mais estabilidade econômica, política e sanitária”, completou.