Cotidiano

Obra do estádio: milionária e problemática

Os investimentos milionários no Estádio Olímpico Regional de Cascavel não foram suficientes para atender a estrutura com as adequações previstas.

Na avaliação do diretor da secretaria de Esportes e Lazer, Leonardo Mion, os recursos foram mal investidos e sem a atenção mínima às condições necessárias para uma obra desse porte.

“Hoje o estádio toma 30% do tempo da secretaria de Esportes e Lazer para resolução de problemas pelo nosso corpo técnico, administrativo e financeiro. A licitação foi emaranhada e ainda há muito que ser feito”, afirma.

O diretor relata dificuldades orçamentárias e com servidores, mas garante que hoje o município oferece muito mais serviços à comunidade. “No ano passado havia 12 nomeados e nós com quatro dobramos os serviços”, destaca.

Acompanhe a seguir a íntegra da entrevista:

Perfil

Leonardo Mion é formado em Direito e por dois mandatos foi vereador em Cascavel. No governo do Paraná esteve à frente da secretaria Especial da Juventude entre 2013 e 2016 e atualmente assume o cargo de diretor da Secretaria de Esporte e Lazer de Cascavel.

Servidores

“Contamos com 77 servidores concursados, dentre eles, 33 orientadores técnicos desportivos, com concurso para quatro horas. Entretanto, esporte e lazer não se faz somente 20 horas de segunda à sexta-feira, temos o sábado e o domingo, por isso, enfrentamos problemas com o pagamento de horas extras. Hoje a grande dificuldade do esporte é com a questão de orçamento que poderá ser melhorado pelo PPA (Plano Plurianual) e a falta de recursos humanos, principalmente na área técnica”.

Iniciação

“Dentro do alto rendimento trabalhamos com 35 categorias e modalidades, sejam elas representativas nos jogos oficiais do Estado ou em competições nacionais. Entre elas, encontramos duas com iniciação. Não adianta ter modalidade de alto rendimento se não há preparação da base, pois daqui a cinco anos esse rendimento acaba. Por meio de parcerias conseguimos ampliar para oito o número de modalidades com iniciação e a ideia do município e que isso ocorra em todas elas. O governo Paranhos aumentou muito mais o leque de oportunidade no esporte e lazer para a comunidade”.

Esporte e lazer

“Poderíamos oferecer muito mais à comunidade se tivéssemos cinco técnicos a mais com oito horas semanais, por exemplo. Os espaços esportivos somam mais de 160, entre piscinas, ginásios, autódromo, estádio, kartódromos, campos e academias e não temos toda equipe de funcionários para cuidar. As pessoas têm demandas e Cascavel só aumenta. Então hoje a gente tem que buscar dentro da legalização PPs – Parcerias Público Privadas. Se vamos realizar um evento de corrida para dois mil inscritos, por exemplo, podemos fazer um chamamento de R$ 50 mil para alguma empresa ser patrocinadora”.

Abnegados

“O chamamento público é exigência nova para repasses de subvenção do município para assistência social, saúde, educação e esporte. Como é uma coisa nova, o processo é difícil. O que vemos são abnegados pelas modalidades e categorias de esporte. Há pessoas que não receberam nada e foram defender competições com dinheiro do bolso. Conseguimos receber uma parcela do chamamento a tempo dos principais jogos do ano, mas a gente vê que é isso é o que leva o município. Se não fosse a parceria de atletas e pessoas que se dedicam e têm paixão pelo esporte, muitas modalidades já poderiam ter sido eliminadas”.

Receita

“Vejo alguns problemas na secretaria com receitas. Uma corrida da Stock Car no autódromo de Cascavel tem o custo de R$ 15 mil pela legislação e investimos para isso. Entretanto, o dinheiro pago pelo aluguel vai para o cofre geral do município. Então acredito que a gente poderia ter mais autonomia e celeridade com uma Fundação para agilizar alguns processos. Acredito que a fusão de
Secretaria de Esporte e Lazer e Cultura precisa trazer benefícios para os dois públicos. Todo mundo sabe da dificuldade que é grande dos dois lados. Então com bom senso e boa vontade isso pode somar, além de trazer economia que pode ser revertida em interesse público das pastas”.

Estádio

“O Estádio Olímpico Regional infelizmente sofreu com muitos cortes e problemas. Hoje o Estádio toma 30% do tempo da secretaria de Esportes e Lazer para resolução de problemas pelo nosso corpo técnico, administrativo e financeiro. A licitação foi emaranhada e ainda há muito que ser feito. Na minha opinião foi um investimento mal feito, sem avaliação mínima das condições necessárias de uma obra daquele porte. O Estádio nem ao menos recebeu um placar, não digo nem eletrônico. A reforma exigiu R$ 7 milhões e hoje só recebe dez mil pessoas. Isso porque glosaram por licitação para videomonitoramento”.

Problemas

“Devido ao vento forte, um terço do Estádio foi destelhado no meio da reforma e somente isso foi reformado, o resto está a Deus dará. Se cobramos a empresa, nos dizem que não é algo do contrato, então isso fica para a Secretaria de Esporte. Nos banheiros públicos não houve melhorias porque já havia sido reforma há dez anos e no dia da inauguração vimos goteiras. Toda vez que o estádio é usado aparece um novo problema. O poço artesiano do jeito que foi ativado, só traz impurezas à água. O custo para avaliação da água não foi discutido e previsto. Na iluminação, não foi trocada uma lâmpada, precisamos emprestar uma do ninho da cobra para poder inaugurar o estádio. A gente não faz uma reforma na nossa casa começando pela pintura e pelo gesso. Primeiro verificamos problemas para depois fazer o acabamento”.

Ajustes

“O maior dos problemas é que após intervenção, o Corpo de Bombeiros liberou o local por meio de termo de ajustamento de conduta e temos até o mês de março para tentar adequá-lo, mas não creio que seja possível até lá. É inadmissível ver uma obra de R$ 7 milhões com tantas coisas faltando e que não é de total interesse público. Hoje para o cascavelense ir ao estádio o time precisa estar bem e para isso você pagará ingresso”.

Centro de Atletismo

“Vejo de maneira positiva a implantação da escola militar e uma conquista para Cascavel. Estamos aliando o alto rendimento com a possibilidade de uma boa manutenção por parte da Polícia Militar e principalmente a disciplina e o rigor que se exige da PM em seus atos. Essa foi uma grande alternativa. Recebemos verbas estadual e federal e que não havia ainda a definição de quem faria a manutenção e um plano de gestão, o que exigiria no mínimo R$ 200 mil. É algo bom para a comunidade e acredito que teremos um espaço de referência em todo como celeiro do atletismo e educação”.

Território Cidadão

“Com o advento do Território Cidadão estamos fazendo muitas mudanças. No ano passado havia 12 nomeados e nós com quatro dobramos os serviços para a comunidade. Os territórios cidadãos estão implantando a maior parte disso. Oferecemos atividades para todas as idades. Há idosas do grupo da terceira idade que participam de atividades esportivas e conseguiram perder 12 quilos.Temos nos focado em ações de recreação e iniciação e a ideia é poder entrar nas comunidades e realizar parcerias que podem trazer resultados para o município. Além disso, queremos reativar competições importantes como o campeonato amador de futebol no interior, de bocha e o esporte de participação e comunitário”.