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O sonho com uma trajetória que poucos cumpriram

Acompanhar o futebol brasileiro em todos os níveis, da elite que joga no exterior ao Campeonato Brasileiro com suas jovens revelações disputadas pelos clubes europeus, é parte do trabalho a que Tite se propõe. Mas é natural que a visita do técnico da seleção principal ao time olímpico tenha também um caráter simbólico, de demonstração de unidade. Tite vai comandar a equipe que representa o passo seguinte para quase todos os 18 selecionados para a Olimpíada do Rio. Deles, só Neymar e, talvez, Renato Augusto se afirmaram na seleção principal. E, historicamente, o ritual de passagem foi para poucos.

A Olimpíada de Atlanta, em 1996, marca a primeira presença do Brasil em um torneio olímpico sob a regra do limite de 23 anos para 15 dos convocados, além de três jogadores com idade livre. Desde então, o futebol brasileiro disputou quatro edições da competição. Em média, dos jovens convocados em cada Olimpíada, apenas dois foram à Copa do Mundo seguinte. E 3,5 foram a algum Mundial posterior. Considerando todo o elenco, inclusive os jogadores mais velhos, a média de aproveitamento em Copas do Mundo sobe para 5. Ou seja, não chega a um terço.

O recorde positivo foi justamente em Atlanta, escala cumprida por Dida, Roberto Carlos e Ronaldo para chegar à Copa da França. Convocados acima dos 23 anos, Aldair, Bebeto e Rivaldo também foram ao Mundial de 98. Além deles, Juninho e Luizão chegaram à Copa em 2002. Ao contrário, do time de Sydney, em 2000, que não contou com jogadores acima de 23 anos, apenas Ronaldinho Gaúcho e Lúcio jogaram uma Copa do Mundo.

Em 2012, em Londres, foi mantida a média de cinco jogadores na Copa seguinte, a do Brasil: Oscar, Neymar, Thiago Silva, Marcelo e Hulk, os três últimos já acima de 23 anos. Ou seja, para os novatos o funil é mais apertado ainda.

Acontece que Tite inicia um trabalho. Embora haja nomes naturais em convocações futuras, como Neymar, as esperanças parecem renovadas.

? Fiquei feliz que ele me cumprimentou e me chamou pelo nome. Sinal de que está acompanhando ? festejou o lateral Zeca, do Santos.

Tite evitou projetar convocações de jogadores olímpicos.

? Difícil quantificar (quantos podem ser convocados). O meu compromisso é acompanhar o desenvolvimento de todos os atletas ? afirmou, tentando tirar parte da carga que a seleção olímpica carrega pelo ineditismo da conquista e pelos resultados recentes da seleção. ? Não dá para se preocupar em apagar histórias. O desempenho atual já é uma responsabilidade grande.

esperança dos olímpicos

Naturalmente, o abraço em Neymar atraiu mais atenções. Mas Tite fez sua ressalva:

? É desumano colocar o peso numa pessoa só. O coletivo potencializa o individual.

Há motivos para os jovens olímpicos, principalmente os que atuam no Brasil, nutrirem esperanças. A convocação para a próxima rodada das eliminatórias coincidirá com o início de temporada na Europa, o que dará aos ?estrangeiros? um estágio físico abaixo dos jogadores domésticos. O que pode abrir espaço para atletas locais.

A CBF tenta adiar a data da lista para os jogos com Equador e Colômbia, o primeiro deles no dia 2 de setembro. Pelo prazo estabelecido pela Fifa, a convocação teria que acontecer na véspera da semifinal olímpica. A comissão técnica teme tirar o foco de algum jogador envolvido com a disputa da medalha de ouro. Seja pela euforia, seja pela decepção.