Cotidiano

O que um antigo jornal luso falava sobre o Rio no século XVIII

10a7a1e0-5c1f-4791-9f3d-8fd587870e22.jpg

RIO ? Principal periódico de informação português entre os inícios do século XVIII e XIX, o ?Gazeta de Lisboa? trazia principalmente notícias da Europa e de países orientais. Apenas na última página ? e às vezes nem sempre completa ? vinham as notas sobre Portugal, incluindo o Ultramar. Nesse pequeno espaço, o Brasil tinha presença constante, assim como o Rio de Janeiro.

Habituado a pesquisas de peso, como ?Teatro a bordo de naus portuguesas nos séculos XV, XVI, XVII e XVII?, que investiga as representações teatrais feitas nas embarcações lusas; ou ainda ?Astronomia na Amazônia no século XVIII?, sobre a saga dos astrônomos Ignácio Szentmártonyi e Giovanni Brunelli para demarcar os limites estabelecidos pelo Tratado de Madri, o historiador Carlos Francisco Moura rastreou, nas edições do antigo periódico de Portugal, toda e qualquer referência sobre o Rio. O resultado da coleta está no recém-lançado primeiro volume de ?O Rio de Janeiro nas notícias da ?Gazeta de Lisboa?? (Editora Real Gabinete Português de Leitura), que abrange o período de 1715-1750. Um futuro segundo volume será dedicado aos anos de 1751 a 1800.

A iniciativa levou três anos para ser completada. Mas houve um facilitador: como pesquisar nos originais da ?Gazeta? necessitaria um exército de historiadores, ele recorreu ao livro ?Notícias históricas de Portugal e Brasil?, publicado pela Universidade de Coimbra em 1961, que já havia compilado tudo que o jornal publicou sobre os dois países ao longo do século XVIII. Moura consultou o livro e filtrou o conteúdo, focando apenas nas referências à Cidade Maravilhosa. O historiador também se socorreu na coleção da Biblioteca Nacional e dos avulsos do Real Gabinete Português de Leitura.

O conjunto dessas notas desenha a evolução comercial, política e cultural do Rio. São informações sobre troca de governadores e bispos, atividades marinhas, produtos exportados, ou festejos públicos e comemorações reais. Há também curiosidades sobre legislação, como a referência a uma regra que impedia as mulheres do Brasil de irem ao Reino. Aliás, outro fato digno de nota: nas páginas do jornal, o país não é citado como colônia, mas como Estado do Brasil. Ao fim do volume, fica clara a nova importância que o Rio havia adquirido na metade do século XVIII.

? Uma das últimas notícias de 1750 descreve sucintamente o desenvolvimento que a cidade tinha alcançado até então, e que pode ser cotejado, por exemplo, com a planta da cidade atribuída a João Massé (militar francês) e a ?Carta Topográfica? de André Vaz Figueira (cartógrafo) ? diz Moura. ? Mudanças culturais aparecem nas notícias de festas públicas, inclusive nas inesperadas promovidas pelo governador Vahia Monteiro, ?o Onça?.

Entre as muitas curiosidades do livro, Moura destaca a nota sobre a bravura de Maria Úrsula, uma das poucas portuguesas a ter servido nas Forças Armadas no período colonial; e os registros dos festejos da inauguração do Convento de Santa Teresa:

? Outro elemento interessante são as notícias sobre a quantidade de ouro exportada para Portugal, que falta na documentação de arquivos portugueses da primeira metade do século XVIII.