Política

“O prefeito não é o dono de Cascavel”

Veja a primeira entrevista com os candidatos a prefeito de Cascavel

“O prefeito não é o dono de Cascavel”

Neste ano, Cascavel tem oito postulantes à chefia do Executivo, o que aumenta a possibilidade de a disputa ir para o segundo turno. Para manter a tradição da ampla cobertura das eleições municipais em Cascavel, o Jornal O Paraná entrevista esses candidatos.

A coligação Amor por Cascavel é o que nos Move, encabeçada pelo deputado estadual Marcio Pacheco, tendo Samanta Sitnik para vice, ambos do PDT, abre a série de entrevistas.

Sem entrar em detalhes específicos, Pacheco fala sobre seu plano de governo, sua trajetória política, a expectativa de uma campanha sem um grupo político e pouquíssimo tempo de propaganda gratuita na TV (menos de um minuto) e como entende que a gestão pública deve ser feita. A íntegra você confere no site do jornal (oparana.com.br).

O Paraná – Qual a diferença do Marcio Pacheco de hoje com o que disputou as eleições a prefeito em 2016?

Márcio Pacheco – Em 2016, eu tinha três anos e meio de vida política. Tinha sido eleito vereador em 2012, com 1.412 votos, e no segundo dia em que cheguei à Câmara fui eleito presidente da Câmara de Cascavel, um ano e meio depois eu me tornei deputado estadual, com quase 25 mil votos em todo o Estado, e um ano e meio depois era candidato a prefeito de Cascavel. Ou seja, naquele momento, eu tinha 3 anos e meio de vida política. A experiência que eu tinha era a experiência que fizemos na gestão da Câmara de Cascavel, que era um orçamento para 15 vereadores, mas passou a ser 21 vereadores e, mesmo assim, não pedi mais dinheiro e em dois anos eu devolvi mais de R$ 4 milhões à prefeitura. Nossas contas foram aprovadas por unanimidade, e, no segundo ano, foi aprovada sem ressalva. Eu tinha uma experiência de gestão, mas a experiência política é hoje incomparavelmente melhor. Hoje tenho praticamente oito anos de vida política. A relação com o governo, com o meio político, com as pessoas… hoje sou mais conhecido em Cascavel. O que nós conseguimos trazer para Cascavel só neste ano é próximo de R$ 6,4 milhões, fora os R$ 650 mil que liberei agora para reinício das obras da Ala Materno-Infantil do HU. Hoje tenho uma visão muito mais abrangente, do ponto de vista do Tribunal de Contas, das leis… Temos uma experiência que acredito que vai ser muito agregadora para a eleição e, evidentemente, para nossa gestão pública a partir do ano que vem.

“A população está atenta a isso e vai perceber a diferença: há um Golias e nós estamos na condição de Davi, e nós sabemos qual foi o resultado disso”

O Paraná – O PDT ficou sozinho e o grupo ficou pequeno. Como isso vai influenciar sua campanha?

Pacheco – Vai influenciar positivamente. Quanto maior a quantidade de bezerros, maior a necessidade de leite para alimentá-los. Vamos de chapa pura com muita honra. A Samanta tem uma sensibilidade imensa para nos ajudar a pensar todas as causas que o homem não tem essa sensibilidade… pensar a vida dentro de casa, os filhos, e, no caso dela, tem uma realidade especial, com três filhos autistas. É presidente da Amac (Associação das Mães de Autistas de Cascavel). Foi ela que me ajudou a entender essa realidade e, a partir dela e das amigas dela, que passei a me importar com essa causa. Ir com chapa pura é muito agregador para o voto consciente, para o eleitor consciente, que sabe a importância de se chegar à prefeitura sem aquele monte de compromissos, tendo a liberdade para fazer uma gestão pública eficiente para montar uma equipe que se baseia unicamente na capacidade técnica e não nos conchavos nem no cabide de emprego, para chamar à prefeitura aqueles que foram os apoiadores na campanha. A campanha do Bolsonaro foi assim, tinha 9 segundos na TV e se tornou presidente da República. A população está atenta a isso e vai perceber a diferença: há um Golias e nós estamos na condição de Davi, e nós sabemos qual foi o resultado disso.

O Paraná – Como está sendo montado plano de governo?

Pacheco – Tem uma participação muito grande de todas as pessoas. Mandei ofícios para em torno de 400 a 500 entidades, líderes que representam a população de Cascavel para que apresentassem suas ideias. São ideias coletadas de todos os cantos da cidade, de todas as esferas de sentimentos da população, um plano participativo. O plano, na íntegra, será publicado na internet, tem mais de 50 páginas. Agora, é só aprimorar e acolher outras ideias boas.

O Paraná – Cidades vizinhas, há anos, deixam uma fatia específica do orçamento para os vereadores, cujas emendas são impositivas. Existe alguma intenção sua de abrir essa possibilidade em Cascavel?

Pacheco – Queremos pensar em Cascavel. Queremos construir as obras que de fato sejam importantes para a vida das pessoas. Pensamos a participação das pessoas de uma maneira mais efetiva. Queremos ouvir a comunidade, as lideranças, estabelecer cada comunidade três prioridades, pensar esse orçamento participativo de maneira ainda mais democrática. Queremos que a participação seja da própria comunidade, levando suas demandas, e, assim, vamos estabelecer essas prioridades a partir das pessoas e não a partir da vontade do prefeito. O prefeito não é o dono de Cascavel. Deve estar lá para administrar, para gerir os recursos públicos.

“O enxugamento da máquina pública que diminui a qualidade da atenção para a população é um enxugamento burro”

O Paraná – Pretende alterar a estrutura administrativa da prefeitura?

Pacheco – Vamos reorganizar com nosso olhar. A Fundetec, por exemplo, é uma autarquia extremamente importante para Cascavel. Não tem como pensar o desenvolvimento econômico, a geração de emprego, a criação de novas empresas sem um protagonismo da Fundetec. É para isso que ela foi criada, mas foi completamente desvirtuada da sua função. Vamos estruturar a Fundetec de maneira que possa existir de fato e não apenas de direito. A gestão pública existe para atender as pessoas com eficiência. Não só para economizar dinheiro público, mas comprando materiais, equipamentos ou construindo uma obra que seja tão barata a ponto de em pouco tempo estar destruída. A gestão pública tem que ser uma facilitadora da vida das pessoas, do empresário que quer gerar emprego. Nossa gestão vai romper com esse conceito tradicional de fazer gestão pública do jeito que foi feito sempre. Vamos enxugar a máquina pública, mas com inteligência, sem que traga prejuízo para a população. Porque o enxugamento da máquina pública que diminui a qualidade da atenção para a população é um enxugamento burro. Vamos estruturar o que já existe, retirar o que não é necessário ou o que não funciona, e criar pastas… vou dar um exemplo: acho um absurdo não existir uma secretaria de esportes em Cascavel. O esporte melhora a saúde pública, a segurança pública… quem pratica esportes não se envolve com drogas, com criminalidade, quem pratica esportes tem saúde, ou seja, não será uma consulta a mais na unidade de saúde…

Outro exemplo é a Agrotec, que está agregada à Fundetec. Não tem suporte para a agricultura, que é outra pasta importantíssima. O Município tem uma dívida com o interior de Cascavel, com nossos agricultores. Por que Cascavel é essa pujança toda? Vem do agronegócio, da agricultura, e não tem estrada rural aos agricultores… você não poder dar um incentivo para o produtor verticalizar a produção, agregar valor ao seu produto… Como que faz isso? Com uma entidade fortalecida, que se chama Agrotec. Vamos dar vida própria para a Agrotec, para que possa dialogar com a Fundetec, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Agricultura. Esses quatro serão o pilar do desenvolvimento, da geração de riqueza e de emprego em Cascavel no nosso governo.

O Paraná – Como vai escolher os secretários?

Pacheco – Três requisitos básicos para toda a equipe: tem que ter honestidade, competência/capacidade e comprometimento com a cidade. E vamos priorizar o servidor efetivo, porque quem conhece realmente do serviço público são os servidores que já estão dentro da pasta.

O Paraná – A pandemia revelou a fragilidade dos sistemas de saúde no mundo todo. Como organizaria a saúde diante de tudo o que aconteceu?

Pacheco – O primeiro ponto fundamental é ouvir quem entende de saúde pública. Quem mais entende de saúde pública em Cascavel são os servidores que estão na linha de frente e me dizem que, além de não serem ouvidos, estão se sentindo desvalorizados e desrespeitados. Quem trabalha dentro de uma unidade de saúde sabe a realidade. São o melhor termômetro e temos que agir a partir dessas informações. Não obstante todo o planejamento que vamos apresentar com informações técnicas, muito mais importante que isso, vamos, no começo da gestão, chamar os servidores que estão dentro da área da saúde (e de todas as pastas, dentro da prioridade, que são a saúde e a geração de emprego) para que nos ajudem a pensar quais são os remédios que temos que implementar dentro da saúde pública para que passe a funcionar. A partir disso teremos um raio-X muito claro do que precisamos fazer para melhorar.

 

 

“Certamente você não pode deixar as crianças em casa eternamente, à la vontê, com o argumento que não dá para retomar”

O Paraná – Como se inicia o ano de 2021: com as crianças dentro ou fora da escola?

Pacheco – As crianças do Município são as menores e estudos técnicos indicam que elas são praticamente imunes e, se forem acometidas pelo coronavírus, a ampla maioria é assintomática e não transmite o vírus. Acredito que a partir do ano que vem teremos novo cenário. Se não tem condições de acolher 100% das crianças, certamente você não pode deixar as crianças em casa eternamente, à la vontê, com o argumento que não dá para retomar. Há estudos muito consistentes de que, no caso das crianças, não deveria ter havido suspensão das aulas. Em Cascavel, já há quanto tempo que a vida do cidadão está praticamente normal? Então, se fecha para algumas coisas, mas para outras… você não pode ter as crianças em sala de aula, mas está autorizado a fazer eventos relativamente grandes em Cascavel. São dois pesos e duas medidas. Não pode reabrir porque de fato é um entendimento técnico ou por que, com isso, você tem toda a máquina pública não gastando dinheiro público? Se não pode ir à escola, então não deveria ir a vários outros ambientes que estão abertos e funcionando normalmente. Então, este discurso não é bem verdadeiro: “Não estamos abrindo porque não tem orientação”. Essa orientação é técnica ou é política, porque não convém trazer as crianças agora porque aumenta gastos, enfim…

O Paraná – Como adequar as escolas para a estrutura de segurança sanitária adequada?

Pacheco – O poder público tem condições, sim, de fazer as contratações devidas, dentro do seu limite, para oferecer a higiene nas escolas. Qual é a prioridade neste momento? É cuidar da saúde da população e cuidar da geração de emprego. Essas são as duas maiores prioridades. E cuidar da saúde envolve toda essa questão de higiene, de orientação, inclusive para retomar a educação de Cascavel. É muito fácil você falar que está fechado porque não pode voltar. Com base em que você está falando isso? Com base em evidências técnicas mesmo ou por que alguém está orientando ou por que é cômodo? Deixar as UBS fechadas como ficou tanto tempo, é porque de fato era… Não pode ir à UBS, mas pode ir ao bar, pode ter evento, pode ter um monte de festa e ninguém fiscaliza. Agora, à UBS não pode ir. As pessoas adoeceram muito mais em casa porque não podiam ir à UBS. É um discurso com embasamento técnico ou um discurso que é muito cômodo? Por que, enquanto as pessoas não estão indo, o poder público está economizando dinheiro para dizer que “nós cuidamos bem da gestão pública”. Isso não é cuidar da gestão pública, isso é fazer propaganda pública com o sofrimento alheio.

O Paraná – Por que o eleitor deve votar em você?

Pacheco – Primeiro porque o slogan da nossa coligação já diz por que que eu sou candidato: O amor por Cascavel é o que nos move. E é verdadeiramente isso. Porque, se fosse pensar em mim, eu nem candidato deveria ser. Estou muito bem como deputado, estou eleito até 2022, tenho um grande respeito na Assembleia Legislativa, o que me move para ser candidato a prefeito de Cascavel é o amor por essa cidade, é a gratidão que eu tenho pelo que Cascavel me deu. Tudo o que eu tenho na minha vida pessoal e, inclusive, profissional, foi Cascavel que me deu. E eu entendo que, com esse sentimento, com essa capacidade, essa visão, essa experiência e as pessoas que estão ao nosso redor, inclusive de uma maneira muito especial a Samanta, temos condições de fazer uma grande gestão em Cascavel. Estamos com vontade, temos comprometimento com a população, não somos movidos por interesses pessoais, somos movidos por amor a Cascavel, e toda nossa história demonstra isso. O fato de estar na vida pública há tanto tempo, com ficha limpa, a disciplina que a Polícia Militar me ensinou e o planejamento que a Polícia Federal me ensinou (não existe operação da Polícia Federal sem um grande planejamento) e é isso o que vamos fazer em Cascavel: trabalhar com amor, com disciplina, com respeito pelas pessoas e com muito planejamento. Não com improviso. Gestão pública se faz com planejamento, com equipe capacitada tecnicamente e com a capacidade do prefeito de saber ouvir, e, graças a Deus, eu tenho essa grande capacidade, que considero uma grande virtude, eu sei ouvir as pessoas. Espero que a população compreenda esse desejo nosso que é por Cascavel e que vamos promover uma gestão muito eficiente, transformadora, facilitadora da vida das pessoas, com prioridades estabelecidas de maneira participativa e não para fazer propaganda ou com a vontade do prefeito.

Veja a entrevista na íntegra:

Coligação: PDT

Chapa: AMOR POR CASCAVEL É O QUE NOS MOVE

Candidato a prefeito: Marcio Pacheco

Candidata a vice: Samanta Sitnik

Perfil

Marcio Pacheco tem 43 anos, casado com Silvana, pai de três filhos, policial federal. Reeleito deputado estadual em 2018 para a legislatura 2019-2022. Iniciou a trajetória política em 2012, quando foi eleito vereador e em seguida presidente da Câmara de Cascavel, para o biênio 2013/2014. Em 2016 concorreu à Prefeitura de Cascavel e ficou em segundo lugar (56.260 votos).

Samanta Sitnik atua como corretora em Cascavel, formada em Administração pela Unioeste, e voluntária da educação especial. Mãe de três filhos autistas, ajudou a fundar o Caut (Centro de Apoio e Defesa dos Direitos dos Autistas de Cascavel) e a Amac (Associação das Mães de Autistas de Cascavel). Hoje preside a Amac.