Cotidiano

O papel transformador dos jovens

Como o esporte, cultura e lazer podem interferir no dia a dia dos adolescentes

Cascavel – “Foi transformador”. É assim que o estudante de Jornalismo, Edinei da Silva, de 18 anos, define o período em que frequentou o Centro da Juventude Professor Jomar Vieira Rocha, de Cascavel. A mudança, segundo ele, tem seus frutos colhidos hoje, principalmente por conseguir frequentar uma faculdade. “Trabalhei desde muito cedo para ajudar em casa. Quando cheguei ao Paraná, em 2011, tinha um emprego informal em um lavacar, e nunca imaginava cursar uma graduação. Graças ao Centro, consegui”, celebra. 

O relato de Edinei exemplifica um dos três eixos exercidos pelos profissionais do Centro da Juventude: a cidadania aliado ao protagonismo juvenil. Desde 2012, quando o espaço foi inaugurado por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social junto com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, jovens entre 12 e 18 anos podem vivenciar um mundo totalmente diferente daquele que conhecem. No local, o esporte e a cultura, os outros dois eixos do Programa dos Centros da Juventude, abrem caminhos para o desenvolvimento dos frequentadores.

“As oficinas que fiz enquanto adolescente eram voltadas ao rádio e fotografia, experiência que me motivou a estudar”, relata Silva. Hoje, ele é quem transforma a vida de outros adolescentes, que chegam ao espaço sem nenhuma perspectiva, fazendo parte da equipe de educadores.

Acolhimento

Conforme a Secretaria de Assistência Social de Cascavel, o Centro da Juventude atende 305 adolescentes que participam de acordo com a escolha das atividades e disponibilidade de horários, acordado previamente com os responsáveis legais. Todos os dias há oficinas de teatro, música, aulas de inglês, natação, futebol, vôlei, desenho, além de disponibilizar aos adolescentes um acervo atualizado na biblioteca.

“O adolescente precisa ter acesso aos direitos. Oportunizando-os desta forma é que conseguimos potencializar aquilo que de melhor ele sabe fazer, mas que por falta de incentivo ou próprio desconhecimento, não havia sido descoberto”, comenta a psicóloga Vanessa Albiero.

A assistente social Poliana Lauther reitera que as ações socioeducativas visam a cidadania, a convivência social e a formação do protagonismo juvenil, bem como acolher grupos organizados de jovens nas mais diversas políticas. “Muitos adolescentes que ainda frequentam o Centro conhecem o espaço desde a criação. É importante ressaltar que diante deste protagonismo, alguns ‘ex-adolescentes’ – termo utilizado aos jovens que frequentavam o espaço – orgulhosamente hoje fazem parte do quadro de funcionários, pois nada melhor do que jovens ensinando jovens”, diz Poliana.

“Em casa eu não aprendia nada”

 A estudante Bruna Ewald, de 14 anos, frequenta o Centro da Juventude há seis meses. Ela foi encaminhada pelo Cras (Centro de Referência de Assistência Social) de Cascavel e desde então integra o grupo de jovens do espaço. “Antes, eu ficava em casa e não aprendia nada. Agora, não fico nem um dia sem vir para cá”, afirma.

Outra característica que define o programa é a interação. Isso porque o interesse individual do jovem pode interferir na realidade de outro de forma positiva, tornando-se assim um bem coletivo. “Uma semana depois que entrei, falei para minha amiga sobre as atividades e agora eu ela viemos juntas todos os dias”, conta. Ao seu lado, Ana Paula Mazureck, de 13 anos, descobriu, com um empurrãozinho de Bruna sua aptidão ao vôlei, atividade preferida da jovem. “Gosto muito de jogar vôlei, é meu esporte favorito e sempre pratico aqui no Centro”, diz.

Além dos jovens, o espaço será aberto agora aos pais ou responsáveis. São oportunizadas oficinas de artesanato, informática e em breve natação, atividades que a mãe da Bruna já frequenta. “É muito bom, pois minha mãe também aprende um ofício e pode vir aqui também”, relata.

Kabum!

O nome “Kabum”, segundo a psicóloga Vanessa, representa uma explosão de conhecimento e por isso as aulas de inglês levam essa denominação. Elas são ministradas diariamente pelo educador Gabriel Kenji, que é ex-adolescente do Centro. Da mesma forma que Edinei, ele descobriu no espaço que levava jeito para ensinar e também dançar, já que faz parte da oficina de hip-hop. Neste ano, ele iniciou a graduação de Letras, numa faculdade em Cascavel, e tudo que aprende leva aos seus alunos. Além da profissão de professor, outros inúmeros ofícios surgiram por meio das atividades realizadas no Centro da Juventude. No caso de Kenji, quatro anos foram suficientes para escolher qual profissão iria seguir. “Frequentei por quatro anos o Centro como ‘adolescente’ e hoje ensino outros tudo aquilo que aprendi”, diz.