Esportes

O melhor amigo de cavaleiros e amazonas

Se, no hipismo olímpico, a integração entre atleta e animal é fundamental, nas modalidades paralímpicas, a sintonia tem de ser mais do que perfeita. O motivo é simples: a segurança de cavaleiros e amazonas, todos com algum tipo de deficiência física e dificuldade motora, depende de cavalos e éguas.

Por isso, o animal exemplar para as provas de adestramento ? são cinco graus de dificuldade e há a modalidade mista por equipes ? precisa ter o equilíbrio entre a vitalidade e a sensibilidade para lidar com os movimentos dos diferentes tipos de deficiência. Nos graus de maiores dificuldades, os tratadores aquecem os animais.

? A única diferença entre os cavalos olímpicos e os paralímpicos é a personalidade. São do mesmo tamanho, peso, há de todos os gêneros. Mas buscamos um animal que interaja mais com o atleta, pois ele vai nos ajudar o tempo todo. Nós precisamos que ele entenda a gente ? disse o cavaleiro brasileiro Marcos Fernandes Alves.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Joca, como é conhecido o cavaleiro que disputa na categoria1b ? cadeirantes com níveis distintos de dificuldades no controle do tronco e de membros ?, sabe bem diferenciar as modalidades olímpica e paralímpica. Antes de sofrer uma queda do cavalo, em 85, e ficar paraplégico, ele competia nos saltos. Em 2003, retomou a carreira de atleta na versão paralímpica. Em sua quarta edição do evento, busca mais medalhas: foram duas de bronze em Pequim-2008.

? Há muitas coisas que poderia fazer sobre o cavalo, mas pela minha deficiência, não consigo. Mas quando ganho a confiança do cavalo, consigo exigir mais dele. Por isso, considero que estou montando o Vladimir pela segunda vez aqui. Estou com ele há dois meses, mas encontrei nossa sintonia nesses últimos dias ? conta o brasileiro, que usa cela especial e, por não ter sensibilidade nas pernas, todo o trabalho é feito com as mãos e o uso de dois chicotes.

No caso de Joca, a sintonia chegou às vésperas da competição, que começa hoje de manhã, em Deodoro. Porém, é necessário um pouco mais de tempo e contato para que haja essa união. Por isso, a maioria dos atletas faz as vezes de tratador, alimentando e cuidando do animal. O reconhecimento da voz também é fundamental.

? Nós procuramos os cavalos de acordo com as deficiências de cada atleta e os preparamos para essas diferenças. Cada categoria exige coisas diferentes (passo, trote e galope), mas todos os animais precisam ter características básicas do adestramento, como andadura e curvatura. Além disso, precisam ser mais dóceis e calmos que os olímpicos ? explica a diretora da Confederação Brasileira de Hipismo, Marcela Parsons.

Para a competição no Rio, ainda houve uma preparação extra dos animais. Como são treinados em ambientes calmos, o barulho da torcida, que foi alto nas Olimpíadas, pode assustá-los e causar algum acidente. O jeito foi adaptá-los ao clima brasileiro.

? Tentamos recriar esse ambiente, batendo palmas, colocando barulho… Minha filha ficava mexendo com eles, interagiu muito, colocando óculos, bonés. Mas queremos o público. Temos certeza que ele vai cooperar. Temos algumas pessoas que vão ficar na pista e vão fazer como o Bolt, pedindo silêncio. Estão todos muito ansiosos, e tentamos preparar a equipe para isso. Vai ser muito emocionante. Ver 11 mil pessoas aqui, vou me arrepiar lá de dentro ? disse Marcela, já com os olhos marejados.

Além de Joca, a equipe brasileira conta com Rodolpho Kistalla, grau III ? o cavalo Warenne não passou na primeira inspeção e será avaliado novamente hoje de manhã, antes da competição ?, Sérgio Froes Oliva e Vera Lúcia Mazilli, de 65 anos, ambos da classe 1a. E, claro, a mascote Mônica, a boneca bebê da personagem dos quadrinhos, que acompanha o time desde Pequim.

? Ela fica guardadinha lá na França, com a mulher do Nicolas (Commenge, técnico da equipe), e vem nos encontrar em todas as competições ? brinca Joca.