Cotidiano

'O Guns nos escolheu. Acho que eles queriam essa junção ímpar', diz vocalista da Plebe Rude

RIO ? O ano de 2016 tem sido interessante para a Plebe Rude, um dos ícones da geração de bandas de rock que surgiu em Brasília há 30 anos e conquistou o país. Ao lado de Clemente (guitarra e voz), André X (baixo) e Marcelo Capucci (bateria), o vocalista e guitarrista Philippe Seabra diz ter encontrado a formação ideal para o grupo. Juntos, eles lançaram, em 2014, o disco “Nação daltônica” e têm feito apresentações elogiadas em festivais e shows solo.

Em setembro, por exemplo, a Plebe lotou o Circo Voador em uma noite que contou ainda com show da Camisa de Vênus ? outra das bandas tidas como rebeldes nos idos de 1980. Agora, Seabra e companhia têm encarado, a convite do Guns N’ Roses, um público dez vezes maior ao participar como atração de abertura da turnê “Not in this lifetime”, que reúne no palco três dos cinco integrantes originais da banda americana: o vocalista Axl Rose, o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan. Links Guns N Roses

Depois de duas apresentações em São Paulo no último fim de semana, Guns e Plebe Rude chegam ao Rio nesta terça-feira para tocar no Estádio Nilton Santos, o Engenhão (ainda há ingressos; saiba mais aqui) ? a banda brasileira abre às 19h15 e os americanos prometem subir ao palco às 20h30. Antes de entrar na turnê ? em Porto Alegre, a também brasiliense Scalene abriu ?, Seabra conversou com o GLOBO.

Não é a primeira vez que vocês abrem para o Guns N’ Roses, certo?

Não, a gente chegou a fazer também na formação anterior do Guns, em 2014. Eles curtiram o show que fizemos em Brasília e nos chamaram para tocar em São Paulo também e, agora, voltaram a nos convidar para esta turnê.

Apesar da óbvia diferença na sonoridade, em que ponto as duas bandas se aproximam?

“O concreto já rachou” e “Appetite for destruction” foram lançados mais ou menos na mesma época (1986 e 1987, respectivamente) e, com as devidas proporções, claro, eles causaram um impacto parecido em seus respectivos países. Os dois discos têm uma pegada mais suja que chamou atenção, na época. As duas bandas devem ter ouvido coisas parecidas antes de entrar no estúdio. Há, sim, uma pequena simbiose. Talvez para algumas pessoas pode parecer uma junção ímpar, mas acho que era isso mesmo que eles (o Guns) queriam.

Shows de abertura costumam ser mais curtos, mais corridos. A ideia é fazer uma seleção de clássicos para a galera cantar junto? Ou dá para trazer uma ou outra novidade?

São 45 minutos de show. Nós queremos tocar duas do disco novo e traremos ainda uma música inédita. A Plebe nunca foi banda de baile, de ficar tocando só sucessos e, quando acaba, toca hits dos outros só para divertir a galera. Isso vai contra nosso intuito. Desde que começamos, nosso objetivo e mostrar essa nossa urgência, nossa vontade de passar a mensagem, e é isso que vamos fazer. É como um show comum da Plebe, mas com 45 minutos. Plebe Rude – Até Quando Esperar (DVD – Rachando Concreto ao vivo em Brasília 2011)

Você é fã do Guns N’ Roses? Tem um disco preferido?

“Appetite for destruction” foi um disco bem impactante para a nossa geração, importante para o meio e trouxe esse rock de raízes de volta. É claro que o som é diferente do da Plebe, mas ambos trazem muita raiz, muito som, uma coisa muito honesta.

Entre diversas mudanças de formação (apenas Seabra e o baixista André X estão desde o início), vocês estão na estrada há 35 anos (houve um hiato entre 1994 e 1999) e suas últimas performances têm sido bastante elogiadas. Como você avalia esse momento da banda?

Muito, muito legal. A gente finalmente acertou com um empresário. A Plebe não é uma banda comercial, nunca foi. Sempre tivemos embates com as gravadoras. Não adianta nos mandar para o Clube do Bolinha. A Plebe não é uma banda para ser empurrada, não faz música de sucessinho de radio. A gente não desceu o caminho do sucesso fácil. A gente sabe compor, não faz cover dos outros. E, ainda assim, olha o que aconteceu com a banda nos últimos três ou quatro anos. Estivemos em quatro filmes, como o “Faroeste caboclo” (2013), que eu fiz a trilha sonora premiada no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, no “Rock Brasília” (2011), eu e Andre recebemos o título de cidadão honorário de Brasília… Isso para uma banda de rock que tanto critica a política nacional. Concorremos ao Grammy Latino (de melhor álbum de rock brasileiro, em 2011, pelo CD e DVD “Rachando contreto: Ao vivo em Brasília). Agora, a gente acertou com o passo com o empresário e, desde então, já tocamos em seis estados. E surgiu essa turnê com o Guns, que eles escolheram a gente, e é legal por ser praticamente a formação original dos caras. Relembre todos os shows do Guns N’ Roses no Rio

Você já pensou em fazer uma turnê com a formação original da Plebe?

Sim, estávamos pensando nisso na época em que o Clemente entrou na banda (em 2004). Tentamos, tentamos, mas não dava certo. As coisas acabam, faz parte da vida. Além do mais, demorou 35 anos, mas eu finalmente estou com a formação da banda que eu sempre quis ter.

Como você avalia o momento do rock nacional em comparação com o de vocês?

Vejo muitos colegas que viraram banda de leite. Como eles mesmo falam, estão cuidando do leite das crianças. E fazemos o caminho contrário. Fico feliz com o nosso momento porque esse é um exemplo de que você nao precisa se nivelar por baixo. E a cultura está tão nivelada por baixo, os rocks que tocam na rádio são tão bonitinhos, tão certinhos. Mas, há alguns anos, Arnaldo Antunes, Legião Urbana e Plebe Rudem tocavam na rádio. Vejo a função da Plebe como a de ser um contraponto para mostrar que vale a pena ter princípios. Boa parte do que chega ao grande público hoje é muito pobre em letra e postura. E essas coisas são importantes para nós, e foi o que nos destacou no início.

E tem acompanhado a nova geração de bandas de rock que surge pelo país?

Sim. Existe a cena e eu sempre falo de como as coisas formam um arco. Quando nós começamos, não tinha mercado no Brasil. Não tocava música jovem na rádio. Ninguém pensava em fazer disco ou coisas do tipo. Por isso, as bandas da nossa época eram tão puras, tão descoladas, tão preocupadas com o som, com a postura, com a mensagem. Aí veio a explosao e o rock virou commodity. Depois, entrou a pirataria, a má gestão e as coisas foram perdendo o rumo. Agora, eu estou vendo a volta daquela pureza inicial. Hoje em dia, é muito difícil ter uma banda, viver disso, então é quase como um retorno àquela inocência. Vejo muita banda nova surgindo, e com bons olhos.

SERVIÇO

Quando: 15/11, terça-feira (feriado), 20h30m. Onde: Estádio Nilton Santos – Engenhão. Quanto: R$ 280 (cadeira superior leste e oeste), R$ 360 (pista), R$ 420 e R$ 680 (pista premium). Vendas e classificação indicativa: Ingresso Rápido.