Cotidiano

O futuro incerto da ilha revolucionária após a morte de Fidel

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HAVANA ? O vai acontecer em Cuba com a morte de Fidel Castro? “Um grande funeral”, ironizam os cubanos ante a pergunta, tentando minimizar o impacto que teria na ilha o desaparecimento do pai da revolução cubana.

? Os cubanos já enterraram Fidel faz tempo ? afirmou um diplomata ocidental que viveu vários anos em Cuba. ? Eles estão com a cabeça no futuro, para muitos deles Fidel não é mais que um passado glorioso.

Deixando o poder em 2008 para seu irmão mais novo Raúl, Fidel Castro conservou um peso moral exercido principalmente através de seus artigos publicados de forma regular na imprensa oficial.

? Com a morte de Fidel, a situação política e econômica provavemente se abrirá. Tirará um peso sobre Raúl. Ele não terá mais que se preocupar com as contradições com seu irmão mais velho, uma personalidade avassaladora ? afirmou á AFP Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, um centro de estudos americanos.

Desde sua grave doença em 2006, sua imagem se modificou e ele trocou seu uniforme verde oliva pelos trajes esportivos. A figura paternal do “comandante em chefe”, tão respeitada quanto temida, permaneceu onipresente, apesar de toda sua vida Fidel Castro cuidadosamente evitar o culto à personalidade ao estilo estalinista.

Em Cuba não há estátuas suas nem grandes retratos nas ruas, mas os muros estão cobertos por frases suas e a imprensa oficial cita cotidianamente suas frases grandiloquentes.

O COMANDANTE

70% dos cubanos jamais conheceram outro líder a não ser aquele que chamam simplesmente Fidel, “o comandante” ou “o chefe”. Nas conversas, os mais prudentes simplesmente aludiam a ele fazendo um gesto de acariciar a barba, e falando baixo…

? A imensa maioria dos cubanos conserva um vínculo pessoal com Fidel. Tanto quem o apoiava, totalmente ou com discrepâncias, como aqueles que viam nele a causa de todos os males de Cuba ? afirma o analista político Rafael Hernández, diretor da revista ?Temas?.

? Eu não sou comunista, sou fidelista ? professavam os cubanos que se aventuravam a falar de política com estrangeiros.

? A expectativa de mudança vai crescer entre a maioria dos cubanos. A morte de Fidel muito certamente abrirá a porta para conflitos maiores e confrontos entre as pessoas que exercem o poder. Se terá ido o árbitro supremo de todos os conflitos em Cuba. Raúl terá mais, muito mais espaço, mas também o terão seus adversários políticos ? estimou Michael Shifter.

Arturo López Levy, especialista em assuntos cubanos do Centro de Estudos Globais da Universidade de Nova York, foi mais prudente.

? Depois da morte de Fidel, ganharão ímpeto a reforma orientada para o mercado e a erradicação das políticas comunistas mais impraticáveis. Sem o carisma de Fidel, as disposições do Partido Comunista descansarão nos resultados econômicos ? afirmou. ? Mas o impacto sobre o ritmo e a natureza das reformas de Raúl será limitado. Raúl já tem a última palavra na aplicação de sua agenda reformas. Ele não necessita provar sua legitimidade.

? A era pós-Fidel começou em 2006, o que conta de agora em diante é a o pós-Raúl ? afirmou o diplomata ocidental.