Opinião

O cerco nas fronteiras

Por Carla Hachmann

A prática de contrabando e descaminho é tão comum em algumas regiões que, para a população, é quase como um emprego e não uma atividade ilícita, como aconteceu há poucos meses em Guaíra, onde diversas pessoas queriam protestar contra o recrudescimento da fiscalização naquela região, tirando-lhes o “ganha-pão”.

Quem nunca trouxe uma mercadoria “importada” sem passar pela aduana, encomendou algo de alguém que fosse para outro país ou, ainda, comprou algo de camelôs sabendo que sobre aquele produto não havia sido pago imposto?

É por essas e outras que a contravenção penal parece inocente, quase sem dolo. Ledo engano. Por trás do contrabando existem milionárias e perigosas quadrilhas alimentadas ou que alimentam o crime organizado dos grandes centros. Nada há de “inocente” nessa prática.

Entra governo e sai governo e a promessa de fechar a fronteira e endurecer a fiscalização é repetida, sem que isso ocorra efetivamente, salvo algumas operações mais pontuais.

Todos eles sabem que ali reside um grande problema, que esconde crimes ainda mais graves, como tráfico de drogas e de armamento pesado. Cerceando um, cerceará todos. A lógica impera nesse caso.

Recentemente, até o governador do Rio de Janeiro sugeriu enviar homens da sua força policial para fechar a fronteira com o Paraguai sugerindo que parte dali a origem de toda a criminalidade carioca.

Mas se todos sabem do perigo da fronteira por que muitas portas continuam abertas? Afinal, além do crime organizado que se sustenta nessa prática, ela ainda é nefasta para os cofres públicos, pois significam impostos que deixam de entrar.

Esse é um caso em que a lógica, o senso comum e a realidade parecem destoar um do outro. Por quê? Talvez apenas poucos saibam como responder a essa pergunta.