Cotidiano

O bebê no lixo

Aconteceu há oito anos. Um bebê com poucas horas de vida  foi encontrado enrolado em um cobertor no aterro sanitário de uma cidade.  O caso ganhou notoriedade, ainda mais que o garoto, em função do frio, adquiriu uma doença respiratória que poderia levá-lo à morte. Pelo noticiário de televisão, pessoas acompanhavam o estado de saúde do garoto e dezenas se candidataram para ficar mais tarde com ele. Mas o bebê já estava na ficha de adoção para Augusto. Solteiro, mas querendo muito ser pai, Augusto estava há algum tempo aguardando ser chamado quando descobriu que candidatos que aceitassem crianças com doenças infecto-contagiosas (o que incluía AIDS) tinham preferência pela adoção.

Os futuros pais escolhem sexo, cor e idade da criança que pretendem adotar, mas a vontade de Augusto era tanta que ele aceitava qualquer criatura que Deus colocasse em sua vida. Aidética, tuberculosa, deficiente mental, não importava: o homem de 45 anos queria ser pai.

A evolução do menino foi lenta, gradual e progressiva. Augusto demorou ainda três meses para levar aquele que seria seu filho para casa. E os problemas não pararam de aparecer. Alergia à proteína do leite da vaca, fimose e estrabismo foram outras questões que exigiram acompanhamento. O menino era uma caixinha de surpresas, se desconhecia seu histórico familiar para saber para o que mais ele tinha pré-disposição.

O tempo passou, e já vi no facebook a alegria do garoto na Disneylândia ao lado do pai e do outro menino que ele adotaria, nas mesmas circunstâncias, três anos depois.  O recém-nascido abandonado no lixão é um belo moreno de olhos verdes, estuda em bom colégio, é sócio em clube que tem piscina e já entendeu que tem o melhor pai do mundo. O garoto e seu irmão não parecem se incomodar pelo fato de terem sido abandonados por suas mães, figuras que nunca farão parte de suas vidas já que Augusto é gay. Para quem convive, o passar dos meses torna a surpresa inicial uma situação corriqueira:  um pai e seus dois filhos, uma das mais famílias mais felizes e realizadas que tive o grande prazer de conhecer.  

Vivian Weiand