Cotidiano

Número de idosos trabalhando bate recorde na Espanha

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MADRI – O número de ocupados por conta própria e assalariados com mais de 65 anos de idade cresceu 28% nos dois últimos anos, na Espanha, atingindo 162,6 mil pessoas no segundo trumestre de 2016. Um recorde. Nunca antes tantos idosos estiveram ativos. A Espanha é o país da União Europeia com a taxa de ocupação mais baixa entre o que já podem se aposentar.

Francisca Tricio exemplifica esses números: tem 70 anos e um contrato de trabalho. Faz cinco anos que já pode se aposentar, mas optou por seguir no mercado. Seu caso chama atenção porque apenas 1,93% dos espanhóis continua trabalhando depois de atingir a idade legal para se aposentar. Paca, como costumam chamá-la, é gerente da União Democrática de Pensionistas e disse que o seu trabalho permite que ela tenha contato com pessoas com as quais não teria de outro modo. Por isso não se aposenta.

A evolução desse grupo no mercado de trabalho acompanha a situação econômica. Durante o pior período da crise no país, entre o segundo trimestre de 2012 e o primeiro de 2014, o número de ocupados com mais de 65 abos caiu de 161 mil para 127 mil. E, quando a economia começou a se recuperar, aumentou o número de pessoas maiores de idade que seguiam trabalhando.

– Na Espanha, as empresas empurram os trabalhadores para a aposentadoria – diz Tomás Arrieta, patrono da fundação Ativos com Grande Experiência (AGE) – Existe uma ideia de que o ideal é aposentara-se o quanto antes, instalada tanto nos trabalhadores quanto nas empresas – assegura.

Desde 2013 é possível se aposentar com 35 anos de carteira e 65 anos de idade, e seguir trabalhando, recebendo metade da aposentadoria – a chamada aposentadoria ativa. Antes, os empregados tinham que escolher entre o emprego ou a aposentadoria.

A AGE entende que o ideal seria a compatibilidade plena. Ou seja, receber 100% da pensão e seguir trabalhando.

– É a opção mais transparente, evita que os trabalhadores sumerjam e é a alternativa social mais justa – argumenta Arrieta, que defende que a proposta não prejudica o emprego entre os mais jovens porque são cargos distintos a que concorrem.

Cerca de 30 mil espanhóis optaram pela aposentadoria ativa. Cerca de 80% são autônomos, disse um porta-voz da Seguridade Social. Rosa Zappino é uma delas. Tem 68 anos, é psicóloga e trabalha como autônoma, dando aulas de coaching e assessorando empresas. Aos 58 ano, deixou seu cargo como diretora de Qualidade de Serviços ao Cliente da IBM e reorientou a sua carreira. Quando completou 65 anos, se aposentou, mas nunca pensou em deixar de trabalhar.

– Não penso agora em parar, pois meu trabalho faz parte da minha vida. Tenho uma situação econômica sólida, mas continuo exercendo minha profissão porque me ajuda a me manter ativa e útil.

Também há que necessita continuar trabalhando por questões financeiras, explica José Antonio Sánchez Lucán, presidente do colégio de Habilitados de Aulas Passivas da Espanha. Uma vez cumprida a idade mínima para se aposentar, por cada ano adicional de trabalho a remuneração aumenta entre 2% e 4%, não podendo passar de 20% no acumulado ao longo dos anos.

– A Espanha não pode renunciar o talento dos mais velhos – afirma um porta-voz da Seguridade Social, lembrando que o governo tem implementado nos últimos cinco anos uma série de reformas que buscam promover a aposentadoria ativa, reduzir as precoces e combater a discriminação por idade.

– Em outros países se deram conta antes de que não se pode apagar as pessoas de determinada idade porque isso significa prescindir de uma grande porcentagem da população ativa.