Política

Novo diretor do DER era “informante” da Econorte

Curitiba – O novo diretor-geral do DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná), Paulo Montes Luz, também é investigado pela força-tarefa que apura fraudes no pedágio no Estado. A revelação foi feita pelos próprios procuradores do MPF (Ministério Público Federal) que investigam o caso, ao rebater as críticas de Luz, que classificou como “equívoco” a ação da Lava Jato no DER.

E tem mais. Montes Luz, que substituiu Nelson Leal – preso pela Operação Integração -, era “informante” das concessionárias de pedágio sobre as investigações do MPF. Para os procuradores, as declarações de Montes em entrevista coletiva logo após sua posse, em defesa de Leal, são mais uma evidência de que ele sabia e de que era conivente com as irregularidades que o MPF diz ter encontrado nas relações entre o governo estadual e as concessionárias.

Quebras de sigilo telemático revelaram que Montes passou por e-mail ao presidente da Econorte, Hélio Ogama, também preso, o teor de declarações que prestou em depoimento tomado pelo MPF em outubro de 2016, quando os procuradores já estavam trabalhando no inquérito.

O Ministério Público anota no inquérito que, “embora não se tratassem de depoimentos prestados em autos sigilosos, é bem provável que o acesso ao depoimento dos servidores do DER/PR tenha chegado ao conhecimento das concessionárias por intermédio dos próprios agentes públicos, que ficaram com uma cópia do termo.”

Para a força-tarefa da Lava Jato, “apesar de não ter sido alvo de buscas e apreensões ou de prisões, [o novo diretor] é também investigado do caso, com quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático deferidas judicialmente e também apresenta um volume considerável de depósitos em espécie na sua conta-corrente”. Não há qualquer pedido de restrição cautelar a Paulo Montes Luz.

O DER-PR é subordinado à Secretaria de Infraestrutura e Logística, pasta administrada por José “Pepe” Richa, irmão do governador do Paraná, Beto Richa.

“Acrescenta-se que o atual diretor do DER/PR, Paulo Montes Luz: (i) tem envolvimento direto na elaboração dos aditivos contestados pelo Parquet, o que explica seu interesse pessoal em atacar as conclusões do MPF; (ii) figurou como mensageiro da Econorte e de Nelson Leal Jr. até um dia antes da prisão deste; […] Havendo suspeitas de seu envolvimento nas ilicitudes investigadas, não devem ser suas declarações consideradas como argumento defensivo ou técnico em benefício de Leal Jr.”, destaca o MPF.

Outro lado

Paulo Montes Luz afirmou que acha normal ser investigado, uma vez que era diretor de operações do órgão e agora é diretor-geral do DER-PR. “Também assinei os termos aditivos. Não tenho nada para esconder”, disse. Em relação à acusação de movimentações financeiras na sua conta-corrente, Luz afirmou que recebe apenas o salário do DER-PR e que não “há depósito que não possa ser provado”.

Ele também rebateu o termo “mensageiro”, utilizado pelos procuradores. “Eles são de usar palavras impactantes, mas eu era diretor responsável, não tenho nada a esconder”. “Tudo foi feito dentro da ética e da moral para acertar os passivos e ficar no 0 a 0 no fim do contrato de concessão, em 2021. Nunca escondemos nada”.

 

MPF pede nova prisão preventiva

Ontem o MPF fez novo pedido de prisão preventiva em relação a Nelson Leal Jr. – o terceiro já formulado no âmbito da Operação Lava Jato. As reclusões temporárias dos diretores e empresários detidos semana passada, seis no total, se encerraram ontem. A Justiça Federal tem de decidir se converte as prisões em preventivas ou se opta pela liberdade dos investigados.

Os procuradores também afirmam que a nomeação de Paulo Montes Luz não representou o total afastamento de Nelson Leal Jr. de sua posição no DER-PR: “Aborda a defesa a exoneração de Nelson Leal Jr. do cargo de direção no DER/PR para argumentar que sua liberdade não representa risco à ordem pública nem à instrução criminal. Contudo, é de se considerar que a atual direção do DER/PR – ocupada por Paulo Montes Luz, que se mostrou próximo a Leal a partir das conversas obtidas com o celular deste – também tem envolvimento com as irregularidades investigadas e que, conforme demonstra situação de outros investigados (como GILSON BECKERT e OSCAR GAYER), o afastamento formal do DER/PR não representa afastamento de fato daquele departamento”, argumenta o despacho.

Os procuradores ainda rebatem a defesa de Nelson Leal Jr. por tratar como “natural” a identificação de proximidade entre o antigo diretor do DER-PR e os diretores das empresas concessionárias, e pedem que sua prisão seja mantida por tempo indeterminado.

 

Deputado pede providências a Dallagnol

Em meio ao escândalo recente de corrupção deflagrado pela Operação Lava Jato, envolvendo as concessões de pedágio no Paraná, encontra-se em trâmite no DER novas licitações para a contratação de empresas terceirizadas de gerenciamento e fiscalização de obras e serviços rodoviários. Somados os valores, o montante chega a R$ 26,2 milhões. “É terceirizar a fiscalização de algo que o DER tem competência e recursos para atuar”, criticou o deputado estadual Requião Filho, que protocolou pedido de providências ao procurador da República Deltan Dallagnol, no Ministério Público Federal, para averiguar a destinação correta dos recursos. Dallagnol é um dos responsáveis pelas investigações da Lava Jato no Paraná.

O parlamentar conta que a motivação também se deu após tomar conhecimento de uma ação popular ter sido protocolada esta semana, para questionar a legalidade e a necessidade de tais licitações.