Cotidiano

Nova promessa no mercado de arte contemporânea

63411183_RG EXCLUSIVO Rio de Janeiro RJ 19-12-2016 Perfil do artista Elvis Almeida - O artista plast.jpgRIO – Em seu ateliê, Elvis Almeida busca uma imagem que nunca viu. Sem projeto, sem
um caderno de esboços em que tenha rascunhado algo, ele investe na repetição de
movimentos com o pincel sobre a tela. O resultado quase sempre é uma surpresa
para ele próprio.

? Gosto de ser surpreendido por mim
ao final do trabalho. E gosto da ideia de olhar uma pintura de anos atrás e me
perguntar: ?Como foi que eu fiz isso?? ? diz o artista.

As telas de Elvis têm sido uma
surpresa também para curadores, galeristas e outros pintores. Há um mês, o
artista plástico Luiz Zerbini publicou um de seus trabalhos no Facebook. Na
legenda, lia-se: ?Elvis Almeida. No momento, o melhor pintor do Brasil.? Em
novembro, a Galeria Mercedes Viegas recebeu sua segunda exposição individual. Um
ano antes, ele já havia participado de uma mostra coletiva no mesmo espaço. Em
meio a 30 ótimos artistas, uma de suas telas foi a primeira a ser vendida. Nesta
última exposição, a procura foi grande. Um colecionador que mora fora do Brasil
chegou a comprar algumas de suas obras pelo site, sem que precisasse vê-las ao
vivo.

Para Zerbini, Elvis é um talento nato. A trajetória do jovem pintor, hoje com
31 anos, mostra isso. Quando saiu do colégio, ele diz que só tinha uma certeza:
não continuaria a estudar.

? A escola foi uma experiência
ruim, aquela formalidade não tinha nada a ver comigo. Mas gostava de desenhar,
fazia quadrinhos e grafite, as pessoas achavam que eu tinha talento. Alguns
diziam que valeria a pena tentar entrar para a Escola de Belas Artes da UFRJ.
Depois de um tempo, foi o que fiz ? conta Elvis.

63424329_RG - Decoração. Pinturas de Elvis Almeida.jpgEntrou para o curso de escultura, formou-se em gravura e, no fim da
faculdade, começou a trabalhar como assistente de Zerbini. Não tinha nenhum
conhecimento formal de pintura. Começou por observação.

? O trabalho dele é inteligente,
radical, violento. Um cara que veio do grafite e também tem uma linguagem de
quadrinhos. É bastante completo, traduz muito do que está acontecendo. Publiquei
seu trabalho nas redes sociais porque queria que as pessoas prestassem atenção
nele. É difícil acreditar em si, até eu às vezes fico na dúvida se sou um bom
pintor ou não ? brinca Zerbini.

Enquanto a maior parte das escolas de arte, galerias e ateliês está
concentrada na Zona Sul, Elvis optou por Ramos, na Zona Norte, para se instalar.
Ali, divide um ateliê com sete amigos de infância e adolescência ? que trabalham
com tatuagem, grafite e música ? bem perto de casa. Vai andando de onde mora até
o espaço, que fica em um apartamento na Rua Uranos, bem ao lado da linha do
trem.

? Uma única vez uma curadora se recusou a vir até aqui. Sei lá, ela morava no
Leblon, acho que não queria se deslocar… Mas foi a única. Todas as outras
pessoas que se interessam vêm, algumas visitando a Zona Norte pela primeira vez
? lembra Elvis. ? Acredito que este é um novo momento, em que artistas da Zona
Norte entram cada vez mais em contato com o mercado da Zona Sul. É um reflexo de
uma mudança na sociedade mesmo, de um maior acesso da população às universidades
públicas. Os artistas da Baixada também vêm conquistando espaço.

O artista faz parte da primeira
geração de sua família que chegou à faculdade. A mãe é do Maranhão e o pai, do
Rio Grande do Norte. Vieram do Nordeste para o Rio em busca de trabalho:

? No início, eles ficaram com medo dessa minha escolha pela arte. Por conta
de trabalho mesmo, de segurança financeira. Mas depois viram que eu comecei a me
virar, que conseguia pagar minhas contas. Começaram a frequentar as exposições
e, enquanto morava com eles e pintava em casa, aos poucos foram mudando o olhar.
Passaram a ter um entendimento sobre pintura também.