Policial

Nova morte de policiais acirra tensão racial nos EUA

WASHINGTON — O assassinato de três policiais no estado da Louisiana na manhã deste domingo, que deixou outros três agentes feridos — um em situação grave — gerou comoção nacional e o temor de um verão sangrento nos Estados Unidos. Este é o quarto episódio grave de violência este mês, o segundo de Baton Rouge, a cidade de 300 mil habitantes que há duas semanas ficou chocada com o assassinato de Alton Sterling, homem negro de 37 anos, pela polícia. A motivação deste ataque ainda não havia sido esclarecida pela investigação, levando autoridades e especialistas a agirem com cautela. Mas o temor de que pode se tratar de mais um episódio de perseguição a policiais e de ódio racial levou o presidente Barack Obama a pedir, em pronunciamento, que todos moderem suas palavras e “abram seus corações”.

— Até agora não sabemos o motivo do assassino. Não sabemos se ele tinha o objetivo de alvejar policiais ou se ele partiu para o ataque respondendo a uma operação policial. Independentemente do motivo, a morte desses três bravos oficiais ressalta o perigo que a polícia enfrenta todos os dias — disse Obama, em pronunciamento, lembrando que estes ataques são “obras de covardes”. — Ataques contra a polícia são um ataque contra todos nós e contra o estado de direito que torna a sociedade possível.

Obama, lembrando que há apenas cinco dias estava em um funeral coletivo de policiais mortos em Dallas, no Texas, fez novamente um pedido à união dos americanos e à superação do ódio. Ele afirmou que os EUA não precisam de uma “retórica inflamatória”, lembrando que o país está diante de duas semanas de convenções partidárias que confirmarão os postulantes à Casa Branca e que, nestes momentos, as emoções ficam mais afloradas:

— E é por isso que é tão importante que todos nós, independentemente da raça, partido ou opinião política, independentemente das organizações das quais façamos parte, temos agora que nos concentrar em palavras e ações que possam unir o país, e não dividi-lo ainda mais — disse o presidente. — Nós precisamos moderar nossas palavras e abrir nossos corações.

DÚVIDAS SOBRE A MOTIVAÇÃO DO CRIME

O atirador, que acabou morto no confronto, foi identificado como Gavin Eugene Long, de 29 anos, morador de Kansas City, no Missouri. Segundo a CBS, ele era negro, o que reforça a tese de uma eventual motivação racial. O caso de Sterling, que foi filmado e divulgado em redes sociais, onde supostamente foi morto quando estava dominado e sem oferecer risco aos policiais, além do episódio de Philando Castile, no Minnesota — onde uma mulher transmitiu ao vivo a morte do namorado negro, que levou quatro tiros em uma blitz policial comum —, gerou uma onda de protestos em todo o país. Em uma destas manifestações, em Dallas, cinco policiais foram mortos e outros sete ficaram feridos por um homem negro que queria vingança e que saiu com o objetivo de “matar policiais brancos”.

O atirador era um marine, segundo a CNN, e serviu durante um ano no Iraque. A polícia local disse que ele agiu sozinho, mas o governador John Bell Edwards informou que ainda investigava se havia cúmplices no ataque. Segundo o “New York Times”, a polícia local anunciou nos últimos dias que estava investigando uma suposta conspiração de quatro pessoas para matar policiais. Em uma emocionada entrevista, Edwards disse que o episódio foi “uma tragédia indescritível” e que “o ódio tem que acabar”.

A polícia contou que, por volta das 8h40m de domingo, recebeu uma chamada indicando que um homem todo vestido de preto, e com o rosto coberto, carregava um rifle perto de uma loja de conveniência de Baton Rouge. Relatos de outras pessoas indicavam que o suspeito estava perto de uma loja de cosméticos quando foi observado por policiais e, na sequência, as pessoas ouviram disparos. Às 8h46m, outro relato indica que o suspeito estava próximo de um lava-jato, quando foi abordado por outros agentes. Ocorreu novo tiroteio e, então, o atirador havia sido baleado e morto.

De acordo com a CBS, um dos policiais mortos, Montrell Jackson, de 32 anos, era negro — o que levanta dúvidas sobre a motivação racial do crime. Jackson escrevera, após a morte de Alton Sterling — o homem negro morto em Baton Rouge —, estar “cansado física e emocionalmente”. Os outros mortos eram Matthew Gerald, de 41 anos, e um agente de 45 anos cujo nome não foi revelado. Um dos feridos, de 51 anos, está em estado crítico no hospital, enquanto os outros dois apresentam quadro estável.

O prefeito da cidade, Kip Holden, chegou a pedir para que a população de Baton Rouge permanecesse em casa no domingo. O xerife Sid Gautreaux disse que a cidade está de luto:

— Nós somos uma família, e estamos aqui unidos. A maior prioridade nesse momento é proteger a comunidade.

A polícia descartou a possibilidade de ainda haver um atirador pelas ruas. Mike Edmonson, superintendente da polícia de Louisiana, afirmou acreditar que “a pessoa que atirou e matou os policiais é a mesma que foi atingida e morta no local”.

Terrance Carter, sobrinho de Alton Sterling, disse que sua família condena a violência racial e que seu tio “não queria ver a violência continuando após sua morte”.

Especialistas agiram com cautela e evitaram pronunciamentos sem a conclusão das investigações ou que pudessem inflamar os ânimos. Cat Brooks, co-fundadora do Anti Police-Terror Project, disse que qualquer morte, de negro, branco, policial ou outro tipo de classificação, é motivo de tristeza. “Temos que ter cuidado sobre estes disparos. Acho um absurdo insinuar que um movimento que apenas exige o fim da guerra contra a vida dos negros é de alguma forma responsável por um policial levar um tiro”, disse ao “New York Times”.