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No vôlei, Brasil enfrenta a Argentina, rival que cresce em Jogos Olímpicos

Após conquistar vaga para as quartas de final de forma dramática, na segunda-feira, ao vencer a França, o técnico Bernardinho fez questão de dizer que não há favorito no jogo entre Brasil e Argentina. O maior clássico regional, que extrapola o futebol, vai ser disputado nesta quarta-feira, às 22h15m, no Maracanãzinho, e acredite: na história dos Jogos Olímpicos, não há vantagem numérica nem para um nem para outro. São três vitórias e três derrotas para ambos.

O mais impressionante é que das 37 vezes em que os dois times se enfrentaram em competições internacionais, o Brasil tem 34 vitórias e apenas essas três derrotas. Em Londres-2012 o Brasil fez 3 a 0. Em Sydney-2000, foi eliminada nas quartas de final para Milinkovic e cia.

Os argentinos estão em boas mãos. São comandados pelo competente Julio Velasco, que treinou a Itália nos anos 90, o período mais vitorioso da Azzurra, e colocou a seleção masculina do Irã no mapa do vôlei internacional. E, “para piorar”, a Argentina terminou na liderança do grupo B — o Brasil ficou em quarto na chave A — com destaque para a maioria de seus atletas nas estatísticas da Olimpíada. Assim, Bernardinho endossa sua tese de que não há favorito neste mata mata. Mas, também admite, que não destacava os argentinos como possíveis medalhistas no Rio-2016. Dizia que era uma seleção que iria dar trabalho e que poderia colocar água no chope de alguém.

— Não vou ser hipócrita e dizer que não somos favoritos no papel. Já passei da idade. Mas é jogo eliminatório, 50% de chance para cada um — diz Bernardinho, mesmo após vitória convincente contra os franceses por 3 a 1, na madrugada de segunda-feira, e mudança de postura de seus comandados. — A Argentina teve um ciclo muito bom de evolução, tem excelentes jogadores e um ótimo técnico. Se me perguntassem no ano passado, eu diria que era a França a favorita ao título. E hoje eles estão fora. A Argentina não está nas quartas de final porque jogou numa chave mais fácil. Ganhou da Rússia, jogando voleibol de primeiríssima linha. Perdeu apenas uma partida, em confronto duro com a Polônia.

O treinador observa ainda que o time conta com o ponteiro Facundo Conte, que desfalcou a equipe na Liga Mundial. Elogiou ainda o levantador Luciano De Cecco.

— Lá atrás, não colocava a Argentina como uma das seis favoritas. E sem nenhuma hipocrisia, reconhecendo o excepcional trabalho e valor dos jogadores, nem eles, sinceramente, se perguntasse se ganhariam ouro, diriam que sim. Claro que tem condições, mas teoricamente não eram favoritos ao ouro antecipadamente. Para mim, a Argentina é mais qualificada que o Canadá, tem um ótimo levantador, alguns jogadores top, que atuariam em qualquer equipe do mundo, tem técnica, organização tática e a sabedoria do técnico.

Jose Luis Gonzalez admite que nem eles imaginavam aproveitamento tão bom nesse início de Olimpíada.

— Se há um mês me contasse que a Argentina seria a primeira no nosso grupo, eu diria: “Sem chance”. Então, isso é como um sonho para nós.

Velasco, uma das estrelas do time, desconversou quando questionado se ele seria a razão para o sucesso de time:

— Usamos muito a palavra “gênio” e “talento”. Acreditamos muito que uma pessoa pode mudar tudo. E o que temos que entender é que o que nos ajudou foram os processos, o que fizemos antes, a preparação, e não gênios. Não há uma pessoa, cada um faz a sua parte. Este sucesso é da Argentina.

De acordo com as estatísticas da primeira fase da competição, o argentino Pablo Crec é o terceiro melhor bloqueador do torneio (11 pontos e 16 rebotes). Conte (quinto) e Cristian Poglajen (sexto) estão no TOP 10 dos sacadores, à frente de Lucarelli (sétimo) e Wallace (décimo). Gonzalez (terceiro) aparece melhor colocado que Serginho (sexto) no ranking da defesa e de recepção (é o segundo; Serginho, o décimo).

Wallace afirmou que é preciso respeitar a Argentina e que retrospecto ou estatística não entre em quadra.

— A Argentina saiu em primeiro na outra chave, que tinha Polônia e Rússia. Não acho que era uma chave tão mais fácil que a nossa. Surpreendeu e é preciso ter respeito em relação ao time — alerta Wallace, o segundo maior pontuador da competição (85 pontos, sendo 77 de ataque, três de bloqueio e cinco de saque), atrás somente do polonês Kurek (89).

Kurek é ainda o melhor atacante, com 50,39% de aproveitamento (Wallace é quinto, com 36,30%)

O maior pontuador do Brasil (21 pontos) contra a França, disse que uma conversa entre os jogadores, antes do último jogo, mudou a trajetória da seleção que segue mais segura e confiante para a fase de mata mata:

— Vimos que a gente tinha de mudar. Sérgio, Bruno e o Filipe, que é gasoso daquele jeito, falaram que não dava mais para ser mansinho, que a gente tinha de mudar a postura que estava muito calma. Foi preciso uma cobrança mais ríspida — lembrou Wallace.

As quartas de final terão ainda: a Itália, líder do grupo A, enfrentando o Irã (4º do grupo B), às 18h. E, por sorteio, os outros confrontos ficaram assim: Canadá x Rússia (10h) e Estados Unidos x Polônia (14h).