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No purgatório do Carioca, Cabofriense foge e prolonga estadia do Bonsucesso

65265770_ESP Rio de Janeiro RJ 22-02-2017 - Jogo entre Bonsucesso x Cabofiense na Rua Bariri em.jpg

Purgatório, na definição bíblica, é um local de estadia temporária das almas cujos pecados impediram a ascensão direta ao paraíso. No dicionário do futebol, a palavra cai como uma luva a Bonsucesso e Cabofriense, que se enfrentaram nesta quarta-feira no Estádio da Rua Bariri, com vitória do time da Região dos Lagos por 1 a 0.

Os times seguiram caminhos diferentes na fase preliminar, mas as linhas tortas conduziram ao mesmo destino: o Grupo X do Campeonato Carioca, que reúne quatro equipes, das quais duas serão rebaixadas à segunda divisão. O Bonsucesso, com apenas dois pontos, foi o pior time da fase preliminar, um hexagonal que também reuniu Portuguesa, Nova Iguaçu, Campos, Tigres e, claro, a Cabofriense.

Duas equipes se classificavam à Taça Guanabara, etapa que conta com Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Às outras quatro, restaria brigar para não cair. A Cabofriense flertou com o paraíso: terminou com os mesmos oito pontos do vice-líder Nova Iguaçu, mas ficou em desvantagem no saldo de gols. Preguiça não fez parte dos pecados do time de Cabo Frio, que tentou até o fim: na última rodada, fez 4 a 1 contra a líder Portuguesa, já garantida no topo da fase preliminar com seus 10 pontos. O problema é que o Nova Iguaçu também goleou: 5 a 2 no mesmo Bonsucesso, há muito condenado ao purgatório.

O rubro-anil suburbano teve problemas na inscrição de seus jogadores e acabou levando ao Carioca um grupo enxuto, que mal passa de 20 atletas, e montado às pressas. Acabou não vencendo um jogo sequer na fase preliminar. O time titular contra a Cabofriense, já na quarta rodada do Grupo X, tinha média de idade na casa dos 24 anos — isto apesar de nomes experientes como o volante Júnior, 30, revelado pelo Vasco, e o veterano goleiro Léo Flores, 38, que fez carreira em times pequenos do Rio.

– Houve um problema jurídico para que a L&S Empreendimentos, que é a empresa responsável pela gestão do futebol no Bonsucesso, conseguisse provar que poderia realizar inscrições de jogadores. Só resolvemos nossa situação no meio de dezembro, faltando pouco tempo para o início da fase preliminar – explica o supervisor de futebol Rogério Alves.

Houve tempo, no entanto, para o Bonsucesso trazer um candidato a líder: o meia Magnum, de 34 anos, que já disputou Libertadores pelo Paysandu em 2003 e teve passagens por Santos, Vitória e Vila Nova. Magnum, contudo, ainda não conseguiu jogar no Grupo X por conta de uma gastrite. Apesar da ausência de peso, o Bonsucesso conseguiu engatar duas vitórias, contra Campos e Tigres, e parecia a caminho da salvação até cruzar o caminho da Cabofriense.

SABÃO MARCA E EUZÉBIO SALVA

A última derrota do Bonsucesso havia acontecido justamente contra a Cabofriense, há duas semanas, na abertura do Grupo X, em jogo que custou o emprego de Heron Ferreira. O novo treinador, Duílio, só conheceria a derrota ao enfrentar novamente o time de Cabo Frio, que buscava os três pontos para antecipar a salvação da segundona.

Postado em um 3-5-2 e tendo como líbero Leandro Euzébio — de 35 anos e bicampeão brasileiro pelo Fluminense –, a Cabofriense até levou um susto do Bonsucesso no início do jogo, em chute de Jussa. Depois, porém, dominou as ações no meio-de-campo. Mesmo sem pressionar, claramente deixava o rubro-anil suburbano pouco confortável na Rua Bariri, sua casa alugada — o estádio Leônidas da Silva, sede do clube na Rua Teixeira de Castro, não conseguiu os laudos para o Carioca.

Faltava, porém, poder ofensivo. O atacante Max, artilheiro do campeonato com oito gols em oito jogos, estava fora graças ao terceiro cartão amarelo. Veio o segundo tempo e o técnico Roy lançou Wellington Sabão, que entrou aos 27, foi lançado na área aos 33 e tocou na saída do goleiro Léo Flores. A bola ainda bateu na trave antes de entrar, frustrando os cerca de 200 torcedores do Bonsucesso que ocupavam as arquibancadas da Rua Bariri.

– É um time cada vez mais maduro, apesar das lesões e de ter muitos jovens. Tentamos trabalhar a parte psicológica. Agora vamos esfriar a cabeça e assimilar essa derrota com calma, temos dez dias até o próximo jogo – afirmou Duílio.

O Bonsucesso ainda foi para o abafa nos minutos finais e, após cruzamento na área, o zagueiro Américo acertou a trave da Cabofriense. Na sobra, Leandro Euzébio chegou antes do rebote e afastou o perigo. Experiente, o zagueiro não se incomodava com os insistentes cantos provocativos da torcida do Bonsucesso, a grande maioria impublicáveis. No fim do jogo, chegou a sorrir na direção dos torcedores que o xingavam em tom perfeitamente audível para quem estava no gramado.

Com a vitória, a Cabofriense chega a 10 pontos, na liderança do Grupo X, e se livra matematicamente do rebaixamento. Já o Bonsucesso, que teve interrompida a sequência de duas vitórias, se mantém na segunda colocação, com 6 pontos. Agora, porém, quase não há mais vantagem para o terceiro colocado Campos, que venceu o Tigres por 3 a 1 também na quarta-feira e chegou a 5 pontos. Campos e Bonsucesso fazem confronto direto na próxima rodada, dia 4 de março, no Norte Fluminense.

FICHA DO JOGO:

Bonsucesso: Léo Flores, Wander, Américo, Vitor e Ramon; Jussa, Júnior (Michael), Magno, Geovani e Vinícius (Rodriguinho); João Carlos (Dudu).

Cabofriense: George, Victor Silva, Leandro Euzébio e Douglas Assis; Pedro, Levi (Gama), Kaká Mendes (Diego Silva), Rafael Pernão e Sanchez; Abner e Matheus Leandro (Wellington Sabão).

Local: Estádio da Rua Bariri.

Árbitro: Marcelo de Lima Henrique.

Público presente: 219 torcedores

Renda: R$ 2.520,00