Cotidiano

No dia que marca quatro anos do incêndio da Boate Kiss, jornalistas publicam livro com relatos de sobreviventes

Há um sentimento que move e une os sobreviventes do incêndio da Boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul: a superação. Essa é a mensagem que as jornalistas Eduarda Pavanatto e Luiza Adorna, ambas de 23 anos, querem passar ao contar histórias de sete pessoas que sobreviveram à tragédia. O lançamento do livro ?Sobreviventes? foi marcado para esta sexta-feira, data em que o acidente completa 4 anos, de forma a relembrar e homenagear todas vítimas.

? Kiss é e sempre será um assunto doloroso. Não podemos esconder o medo que sentimos em abordar isto num livro. Mas, com a colaboração dessas pessoas, procuramos fazer da melhor forma possível ? afirma Eduarda Pavanatto.

A obra aborda a história da tragédia de Santa Maria, a partir do relato de sete sobreviventes sobre momentos antes, durante e depois do dia 27 de janeiro de 2013 . Da preparação para o que deveria ser uma noite de festa, passando pelos momentos dramáticos do incêndio, os relatos reconstituem vivências pessoais do caso que teve repercussão internacional. Foram 240 mortes e 630 sobreviventes. Mas, segundo as autoras, o ?depois? foi a parte mais emocionante de escrever.

? É o relato de como essas cicatrizes foram e estão sendo reduzidas. É sobre o amor, a gratidão pela vida e generosidade que sossegou esses corações. ? conta Luiza Adorna ? Eles aprenderam a ser pessoas melhores.

A estudante de direito Jéssica Montardo, uma das sobreviventes da tragédia, é uma das pessoas que deram seu depoimento para o livro. A estudante foi à boate Kiss na noite do acidente com seu irmão e mais dez pessoas. Jéssica e o irmão conseguiram sair quando começou o incêndio. No entanto, ao entrar novamente no local para tentar salvar amigos e pessoas que não estavam conseguindo fugir das chamas e da fumaça tóxica, o irmão acabou falecendo.

? Dar meu depoimento para o livro foi reviver toda aquela memória. Aceitei colaborar com elas pois muita gente passou a me ajudar após o desastre, e contar essa história era necessário ? disse Jéssica.

As autoras ressaltam que o processo de coleta de depoimentos e escrita foi intenso e doloroso. Estar em Santa Maria após a tragédia, teria sido uma experiência completamente única. Para elas, o que teria possibilitou a produção do livro, foi a generosidade dos sobreviventes e a compreensão de que aquelas memórias seriam essenciais para contar a história da forma mais verdadeira possível.

Segundo as jornalistas, a sensação é de que a cidade nunca mais será como antes. No entanto, elas não queriam usar a dor e a emoção das pessoas para explorar a dimensão trágica do desastre. Mas sim para trazer histórias de superação. Transmitir aos leitores, através do exemplo dos sobreviventes, a importância de dar valor à vida, de reclamar menos por motivos pequenos e agradecer mais.

* Estagiário sob supervisão de Madalena Romeu

E a essa capacidade dos moradores de Santa Marta de transformar as perdas irreparáveis e o sofrimento das famílias em união, solidariedade e empatia, a principal descoberta de Eduarda e Luiza. Desde então, a vida de toda cidade mudou, e os moradores procuram se apoiar e praticar boas ações para seus próximos. Capacidade que a sobrevivente Jéssica Montardo corrobora.

? O que ficou pra mim foi a lição da resiliência de nós sobreviventes demos, de usar todo sofrimento para nos transformarmos em pessoas melhores ? afirma Jéssica.

O livro publicado pela editora Multifoco, foi escrito em 2015 como método de avaliação para conclusão do curso de Comunicação Social das autoras. O trabalho, orientado e revisado pelo jornalista Hélio Etges, alcançou nota máxima na disciplina. Todo o dinheiro arrecadado com a venda do livro será doado para uma instituição de caridade de Santa Maria ainda a ser definida.