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No atletismo, melhores marcas sobrevivem 905 dias

RIO – Uma combinação de agilidade, raciocínio rápido, concentração, força física e até mesmo posição e velocidade do vento no dia da prova. São inúmeros os fatores que influenciam a vitória no atletismo. É por isso que existe também tanta expectativa em relação às marcas alcançadas pelos velocistas. Quebrar um recorde e entrar para a história significa, muitas vezes, reduzir apenas poucos centésimos no cronômetro.

São frações de tempo quase imperceptíveis, mas que podem fazer grande diferença na vida do atleta. Aqueles que não apenas reduzem o índice de um colega, mas registram também uma marca mais difícil de ser superada, terão quase sempre um índice nos 100 metros com maior sobrevida na história do atletismo.

Mas, afinal, quantos dias duram em média uma queda de índice? Quem são os atletas com as marcas mais longevas? A partir de mais de 1,1 mil melhores índices registrados pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF, sigla em inglês), em competições olímpicas e não-olímpicas desde os anos 60, o Núcleo de Dados do GLOBO calculou o tempo médio de sobrevida de um recorde nos 100 e 200 metros masculino, e criou o ranking dos atletas que mais tempo mantiveram seus recordes. Para isso, foram considerados apenas os índices que, cronologicamente, reduziram pela primeira vez uma marca anterior.

Pelo levantamento do Núcleo, podemos dizer que, na prova dos 100 metros rasos, a média de sobrevida de uma marca é de 905 dias. Nesses mais de 50 anos, toda vez que um atleta conseguiu pela primeira vez reduzir ao menos em um centésimo o tempo nessa disputa, o novo índice levou quase dois anos e meio para ser superado.

Um dado que chama atenção é a quase invisível queda do tempo nessa prova ao longo dos anos. Desde 1964, ele caiu apenas 48 centésimos, ou seja, quase meio segundo. Para se ter uma ideia, em um segundo, o projétil de uma pistola viaja 340 metros, quatro bebês nascem no mundo e mais de 48 mil pesquisas são feitas no Google.

A partir dos dados da IAAF, podemos dizer também que, em cinco décadas de competições, houve apenas 14 quebras únicas de tempos, ou seja, quando um índice foi reduzido pela primeira vez. Nesse grupo, estão os atletas com as marcas mais longevas da história. O primeiro deles é o americano Jim Hines. Em outubro de 1968, com apenas 22 anos, ele levou apenas 9s95 para percorrer 100 metros e derrubar a marca anterior de Charles Greene, conquistada também naquele ano. O tempo de Hines só foi superado em 1983, quase 15 anos depois de ter sido alcançado.

MARCA DE 17 ANOS NOS 200 METROS

201608131656209783_AFP.jpgOutros dois atletas se destacam com marcas mais longevas da história dos 100 metros. Maurice Greene, que quebrou o recorde em 1999 e só foi superado em 2005, e Usain Bolt. O jamaicano tem a segunda marca com mais tempo de sobrevida. O recorde 9s58 foi obtido em 2009. Já são quase sete anos sem que ninguém tenha conseguido reduzir o tempo de Bolt. Antes do recorde, o jamaicano já havia quebrado o tempo nessa prova duas vezes em 2008.

Usain Bolt é referência também nos 200 metros. É dele o atual recorde mundial de 19s19, obtido na Alemanha, em 2009. Na Olimpíada de Pequim, em 2008, ele bateu a marca ao reduzir em dois centésimos o recorde de Michael Johnson, de 1996. Mas a marca mais longeva dos 200 metros pertence ao italiano Pietro Mennea. O índice obtido em 1979 sobreviveu por quase 17 anos até ser superado em 1996 por Michael Johnson.

Ao contrário dos 100 metros, a disputa no 200 metros parece ser muito mais dura. Em 48 anos de competições, houve apenas seis quebras de tempos, com a redução de 73 centésimos entre a primeira e última melhor marca alcançada. Na série, três dos índices foram obtidos por atletas americanos, um por italiano e dois pelo jamaicano Usain Bolt. Considerando o tempo de sobrevida de cada índice, a média é de 2,5 mil dias, ou seja, o tempo médio para que uma marca batesse pela primeira vez um recorde anterior é de aproximadamente sete anos.

Outro dado que chama atenção é a idade média dos velocistas. No grupo dos 14 melhores tempos dos 100 metros, a idade média dos atletas é de 24 anos, dois anos a menos quando considerada todas as idade dos atletas responsáveis pelas 1,1 mil melhores marcas registradas pela IAAF desde 1964. Essa diferença desaparece nos 200 metros. Nessa modalidade, o grupo das sete melhores marcas tem a mesma idade média dos mais de 600 atletas que alcançaram bons índices. Ou seja, é possível que os 100 metros tenham uma influência maior da idade dos atletas quando o assunto é quebra de marcas, relação que não é clara na disputa dos melhores tempos nos 200 metros.