Esportes

?Nível de preparo é altíssimo?

RIO ? Ultrapassar 13 obstáculos de 1,60m a cavalo, sem derrubar qualquer um, num tempo mínimo permitido. Missão difícil para qualquer atleta e também para o responsável pelo desenho da pista de saltos do hipismo do Rio-2016, modalidade que começa neste domingo, em Deodoro. Apesar de ter praticado o esporte até a categoria júnior, o paulista Guilherme Jorge, de 49 anos, o course designer da competição, nem sonha em se arriscar num percurso feito por ele.

? Eu tenho a consciência de que não conseguiria saltar um percurso de nível olímpico. Todos esse atletas treinaram anos e seguem treinando e competindo diariamente. O nível de equitação e de preparo é altíssimo, assim como o dos cavalos. Eu não salto um percurso há mais de 15 anos… Seria como tentar dirigir um carro de Fórmula-1 competitivamente. Hoje em dia acho que eu conseguiria no máximo dirigir um kart. E não muito rápido… ? brinca o designer.

Ao contrário da Fórmula-1, aos cavalos em ação na pista não basta velocidade. O desenho exige precisão e controle de todo o conjunto, sobretudo por causa dos obstáculos. Tanto pela altura quanto pelo posicionamento. E Guilherme Jorge será exigente. Escolhido para ser o desenhista oficial dos saltos há dois anos, ele iniciou o trabalho no início de 2015, sempre com o aval do espanhol Santiago Varella, delegado técnico da FEI (Federação Equestre Internacional). Está tudo pronto. O material dos obstáculos chegou de navio em junho e foi montado ontem, no fim do dia.

? A empresa EDB, da Inglaterra, foi a vencedora do processo de licitação e construiu os obstáculos. Todos seguem os padrões da FEI: as varas são feitas de madeira e pesam em torno de 11 a 13 kg. Os suportes das varas são de plástico, e tem uma profundidade entre 18 e 20 mm ? explica o brasileiro, que dividiu o trabalho com o mexicano Benjamin Fernandez.

A dificuldade da pista é premissa do esporte, mas não impede que o designer pense na estética. Como tradição nos Jogos Olímpicos, os obstáculos trarão homenagens ao país. Guilherme Jorge não abre o jogo totalmente, mas algumas referências dos temas estão relacionados aos pontos famosos, como Lapa, Pão de Açúcar, Corcovado… Certo mesmo é que o último mencionará Tóquio, sede dos Jogos de 2020:

? Os obstáculos vão mostrar muito do Rio e de outras áreas do Brasil, além de temas de nossa cultura. Mas vocês vão ter que esperar para ver…

Desde os anos 80 no ramo, Guilherme sabe que chegou ao auge da carreira. Ele já desenhou pistas de GPs cinco estrelas e de Copa das Nações, porém ser o designer de uma Olimpíada é o equivalente a subir ao pódio. Mesmo que seja um título simbólico, a família estará presente a Deodoro para ver mais uma “medalha” brasileira.

? O primeiro percurso que armei foi em 1985, na Sociedade Hípica de Campinas, onde comecei a montar em 1978. Mas em 1992, também na SHC, armei meu primeiro concurso de dois dias. Foi a partir desse evento que comecei a me dedicar mais ao desenho e armação de percursos. Aos poucos fui descobrindo uma maneira de estar ativamente participando do esporte ? disse ele, que receberá as visitas dos pais, da mulher, a amazona canadense Angela Copert, e dos filhos Marina, de 12 anos, e Lucas, de sete meses.

Por mais experiência no assunto, no entanto, o nervosismo está presente. Afinal, se ele exige ao máximo dos conjuntos, os atletas também são exigentes com ele. As críticas não são incomuns, e Guilherme as usa para chegar o mais próximo da perfeição:

? Os percursos são aprovados pelo delegado técnico da FEI e pelos juízes. Eles verificam se os mesmos estão de acordo com os padrões e regras. A partir daí os atletas caminham o percurso para reconhecimento. Caso algo esteja fora das regras, os cavaleiros podem, sim, fazer um protesto formal, mas isso raramente acontece. Na Olimpíada, os competidores já esperam percursos com um grau de dificuldade elevado e não muito o que falar.