Cotidiano

Niterói fecha primeiro trimestre com 1.412 vagas fechadas no comércio

NITERÓI — Depois de sofrer com uma queda de até 40% nas vendas, segundo estimativas do Sindilojas Niterói, o comércio não vem conseguindo preservar os empregos neste ano: no primeiro trimestre de 2016, o setor fechou 1.412 vagas, segundo pior resultado desde que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), começou a medição, em 2007.

Diante da redução do número de postos de trabalho — que chega a 3,9% das vagas do setor —, é grande o movimento na Gerência Regional de Trabalho e Emprego de Niterói, onde os demitidos dão entrada em benefícios como o seguro-desemprego. É o caso de André Luiz do Carmo, de 37 anos, que trabalhava em um posto de combustíveis. Mandado embora no fim de março, ele afirma que a conjuntura desfavorável para o comércio da cidade deve fazer com que deixe de tentar vagas em estabelecimentos comerciais.

— Outras pessoas foram mandadas embora do posto onde eu trabalhava. Quero sair do comércio, a crise o afetou muito — revela.

As dificuldades dos lojistas já mudaram a paisagem da cidade. Em diversos bairros, onde antes havia centros comerciais repletos de opções de compras, agora proliferam placas de venda e aluguel. Na Rua Mariz e Barros, no Jardim Icaraí, diversas lojas buscam novos investidores. Solitária em um prédio onde antes havia outros três estabelecimentos, Claudia Parrilha, dona de uma loja de materiais de construção, diz que o valor do aluguel é um dos impeditivos para muitas pessoas que procuram espaço naquele centro comercial.

— Como já estamos aqui há muito tempo, nosso aluguel está defasado. Mas o custo é pesado para novos inquilinos. Estão cobrando mais de R$ 4 mil pelas lojas vizinhas — afirma.

Charbel Tauil, presidente do Sindilojas Niterói, diz que esse é um dos principais fatores para o fechamento de estabelecimentos na cidade. Segundo ele, a crise demorou, mas chegou com força ao setor:

— A cidade ainda tem valores de aluguel fora da realidade. O comerciante já reduziu os estoques, economizou energia e mandou funcionários embora para cortar custos, mas o aluguel ele não consegue reduzir. Muitos contratos foram firmados no auge da valorização do mercado imobiliário.

CRISE AGRAVADA

Segundo dados do IBGE, as vendas no comércio varejista caíram 7,3% no estado do Rio, nos primeiros três meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2015. No acumulado dos últimos 12 meses, as perdas já chegam a 5,4%. Para Ulysses Reis, Coordenador de Varejo na Fundação Getúlio Vargas (FGV), o cenário do comércio em Niterói é ainda pior do que o encontrado no estado por causa da desestruturação da indústria do petróleo. Ele lembra que a cidade era um forte polo de atração para todo o Norte Fluminense e que, por isso, sofreu bastante com a crise do setor naval e a paralisação das obras do Comperj.

— Em um cenário mais pessismista, é possível que o comércio de Niterói não volte à situação que tinha em menos de cinco anos. Em muitos pontos do Norte Fluminense, houve uma completa desmobilização das estruturas produtivas, que podem nunca mais voltar a ter o nível de atividade econômica que tinham antes. Porém, também pode acontecer de a mudança de governo melhorar as expectativas na economia e facilitar uma recuperação até 2018 — analisa.

Segundo Reis, uma alternativa aos altos preços dos aluguéis que tem conquistado cada vez mais empresários é o e-commerce. Apesar da crise, o setor cresceu 18% no ano passado, e atinge sobretudo consumidores jovens, de até 37 anos.

— Essa com certeza é uma opção que ganhará cada vez mais força entre comerciantes — garante o especialista.