Cotidiano

Niterói assume protagonismo no mercado de cervejas artesanais

INFOCHPDPICT000058152559Niterói ? As cervejarias Noi e 2 Cabeças foram pioneiras. A primeira abriu uma fábrica em Itaipu em 2008. Na época, no Rio, as cervejas artesanais mal engatinhavam. A segunda, inaugurada em 2011, foi, na região, a primeira cigana, nome dado às marcas que não têm estrutura física e utilizam o espaço de outras para produzir suas receitas. Elas fazem parte do time de seis cervejas ? as outras, W*Kattz, Donna, Oceânica e Dead Dog ? criadas ou comandadas por niteroienses que será tema, de hoje a domingo, de reportagens sobre esse universo, que cresce exponencialmente na cidade.

A indústria cervejeira movimentou no país, em 2015, cerca de R$ 74 bilhões. Segundo a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, o segmento foi responsável por 1% deste valor (R$ 740 milhões) e cresce 20% ao ano.

Aberta pelo empresário Osmar Buzin, a Noi é tocada por ele, as duas filhas, Bárbara e Bianca, e a sobrinha, Beatrice. Hoje, a marca, que acabou de mudar a identidade visual, é dona de oito rótulos, e a ideia é lançar dois a cada ano.

? A produção girava em torno de 20 mil litros. A aceitação foi muito grande e tivemos que expandir duas vezes. Hoje, a capacidade chega a 200 mil litros mensais ? diz Osmar Buzin.

Bernardo Couto, um dos fundadores da 2 Cabeças, é carioca, assim como a marca dos cabeçudos. Mas, uma de suas sócias, Maíra Kimura, é niteroiense, moradora de Icaraí:

? Sou publicitária, mas fui morar em Paris com o meu marido, e lá fui buscar atividades que não eram relacionadas a esse ramo. Deparei-me com as cervejas e passei a experimentá-las. Depois, fui estudar em Sunderland, na Inglaterra. Diferentemente da maioria, comecei com o curso e, depois, fui fazer (a cerveja) na panela.

Maíra e Couto são as cabeças pensantes da cervejaria. Os dois criam as receitas que se tornarão rótulos. Já o terceiro sócio, o paulistano Bruno Couto, é designer e cuida da identidade visual da marca.

? Quando voltei, em 2011, passei a ir a bares e me associei à Acerva, a Associação dos Cervejeiros Caseiros Artesanais do Rio. Foi lá que conheci o Bernardo ? conta Maíra.

INFOCHPDPICT000058920207associação de amigos

Criada há dez anos, a instituição, que tem um braço regional em Niterói, é peça-chave para o desenvolvimento da cerveja artesanal no estado.

? É uma associação ?hobbysta?, muito forte aqui. A galera se encontra uma, duas vezes por mês para beber, trocar ideias e fazer receitas. Não está voltada para o negócio, mas as pessoas acabam se conhecendo, juntando-se ? diz Couto, que foi presidente do grupo e, antes de fazer cerveja, tinha um blog sobre o tema, o Homini Lúpulo.

A 2 Cabeças tem cinco rótulos fixos e já lançou diversas edições sazonais, em parceira com cervejarias americanas e europeias.

Apesar de venderem o mesmo produto, a estratégia de negócio da Noi e 2 Cabeças é diferente. Esta última faz a bebida na Invicta, em Ribeirão Preto, e não tem planos de abrir a própria fábrica.

? Queremos cuidar da criação das receitas. Sempre tivemos a ideia de fazer cervejas diferentes. A nossa mais conhecida é a Maracujipa, uma IPA tradicional, americana, que tem uma pegada de lúpulo forte, bem cítrica. Então, veio a sacada: se ela tem esse aroma cítrico, assim como o maracujá, por que não usarmos a fruta? Temos também a Rio de Colônia, em parceira com a alemã Freigeist, com adição de pitanga ? cita Couto.

Um ponto em comum entre Noi e 2 Cabeças é a participação de mulheres na linha de frente da produção. Além disso, Maíra e Bárbara Buzin fazem parte da The Pink Boots Society, uma organização que reúne, em diversos núcleos, mulheres cervejeiras de todo o planeta. A cada ano, cada ?filial? produz uma cerveja para o Dia Internacional da Mulher. A receita brasileira deste ano foi feita por Maíra, uma gose com adição de cajá e servida num evento na Noi do Leblon.

? Tenho 25 anos e estou no segundo curso de sommerlier. Quando a fábrica abriu, eu nem bebia. Hoje, a minha vida é cerveja ? conta Bárbara.

Maíra conclui desfazendo a ideia de que mulher só gosta de cerveja fraquinha:

? Não é toda mulher. E tem homem que só gosta das levinhas. Vai muito do paladar, do quão avançado ele está.