Esportes

Ninguém saiu das arenas paralímpicas do mesmo jeito que entrou

Aqueles que se deram a oportunidade de assistir aos Jogos Paralímpicos do Rio-2016 foram expostos a uma versão absolutamente extrema do que é esporte ? e que embute uma perspectiva mais igualitária de sociedade e progresso. Eu me lembro de estar no metrô a caminho do Parque Olímpico e, ainda na Linha 1, notar que os assentos preferenciais eram respeitados, mesmo com o vagão cheio.

Eles nos assombraram. Pegaram a condescendência que levamos às arenas e esfregaram em nossas caras que o que eles fazem é coisa para poucos membros (sem trocadilho) de uma elite

Pode ser uma experiência pessoal, episódica, daquelas que estatisticamente não dizem nada, como pode ser que, a partir de agora, para agir contra a acessibilidade dos necessitados ? e isso inclui não só deficientes, mas grávidas e idosos ? o sujeito terá que travar uma luta mais dura contra a sua consciência. Só que a Paralimpíada não foi só uma aula de civilidade travestida de megaevento, como talvez pense quem a viu de longe. Foi muito mais, e ninguém saiu de suas arenas do mesmo jeito que entrou.

Foi a oportunidade de ver ao vivo o esporte sem ressalvas, sem clubismo e até mesmo sem astros. Diferentemente da Olimpíada, em que o carisma de um Bolt atrai até os desinteressados a pagar centenas por 10 segundos, a maioria das paradisputas era entre coadjuvantes do esporte.

E ainda assim, eles nos assombraram. Pegaram a condescendência que levamos às arenas ? ?ah, vamos lá dar uma força para eles, tadinhos” ? e esfregaram em nossas caras que o que eles fazem é coisa para poucos membros (sem trocadilho) de uma elite.

CERIMONIA DE ENCERRAMENTO

Porque eles não pensam em limites dados. Enquanto isso, nós nos apaixonávamos instantaneamente por seus feitos e declarações contra os conformismos: ?Não aceite os limites que os outros tentarão impor?, disse um atleta em VT que apareceu no telão de um basquete em cadeira de rodas que vi. ?Concentre-se em treinar, em melhorar diariamente. Tudo vai dar certo?, declarou outro. Enfim, seu rival é você mesmo, quando se sabota, quando não leva sonhos a sério, ou quando só quer evitar as frustrações.

É um discurso mais ?empoderador? que qualquer tratamento condescendente. As chances reais de orgulho e de evolução residem na construção da autoestima e na perseguição de metas pessoais levadas a sério. É de se perguntar como as lutas de grupos identitários (os que se identificam na largada como ?minorias”, já inspirando compaixões com a palavra) lidam com essa visão. Estimularão sonhos ou apenas o sonho de uma proteção?

Num sentido amplo, os Jogos mostraram como o esporte constrói a disciplina pessoal ? sobretudo nas modalidades individuais. É por isso que ele tem de entrar na educação, não como um passatempo ou como bandeira para demagogos da bola, mas como arma de um país que progride por saber competir.