Cotidiano

Nilcemar Nogueira se apresenta ao setor cultural em ato realizado no Carlos Gomes

INFOCHPDPICT000063637820RIO ? Era o Teatro Carlos Gomes, mas poderia ser a Marquês de Sapucaí. A apresentação da nova secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, estava marcada para às 11h desta quinta-feira, mas antes disso a plateia já estava lotada, com muitas pessoas de pé ou sentadas no chão. Pelos corredores, personalidades das artes, como Fernanda Montenegro e Amir Haddad, mas, sobretudo, gente do samba. Do foyer ao interior da sala, enfileiravam-se bandeiras das escolas de samba, até que, após algum atraso, uma voz entoando à capella ?Sala de recepção?, clássico de Cartola, iniciou o ato, ou melhor, a festa de posse. Sentada ao lado do prefeito, Marcelo Crivella, Nilcemar foi recepcionada pelos sambistas com reverência e se apresentou aos representantes dos demais setores culturais como uma mulher forte, atenta à diversidade e confiante no desafio de gerir a cultura do Rio nos próximos quatro anos. De solene o evento teve pouco. O clima de festa predominou, mas também houve espaço para reivindicações e protestos.

Após uma série de depoimentos elogiosos à trajetória da agora secretária (do poeta imortal Geraldo Carneiro, ao vivo, ao cantor e compositor Martinho da Vila, em vídeo) e de alguns números musicais (João Donato, Dudu Nobre e outros), Nilcemar e Crivella subiram ao palco. Assim que o prefeito iniciou sua fala, aplausos e protestos partiram da plateia. Representantes do setor cobraram o pagamento de R$ 25 milhões referentes ao Programa de Fomento às Artes de 2016, que deveria ter sido realizado em novembro passado, mas foi postergado pelo ex-prefeito Eduardo Paes. A dívida, herdada, é o principal calo a ser enfrentado na transição da nova secretária.

Aos gritos de ?paga o edital?, Crivella respondeu ?sem dúvida, sem dúvida?. Enquanto emendava frases que punham a cultura como instrumento capaz de unir diferenças, eliminar preconceitos e reduzir a violência, ele repetiu, em tom de promessa, que iria ?fazer mais com menos? e destacou que ?a cultura é troca. Dar sua arte por um olhar, um aplauso? ? quando foi interrompido por frases como ?cultura é trabalho? e ?a gente sempre fez mais por menos?. O prefeito prosseguiu.

? Vejam só, estamos fazendo este espetáculo aqui, de valor incomensurável, que faria frente a qualquer espetáculo do mundo, por apenas R$ 12 mil. Isso é extraordinário ? disse ele, sem notar a precariedade do sistema sonoro do evento, com a má equalização dos microfones e a ausência de caixas de retorno.

?IMORTAIS COM POUCO?

Crivella encerrou sua fala dizendo que os avós de Nilcemar, o poeta e compositor Cartola e Dona Zica, eram exemplos de pessoas que ?não precisaram de muito para se tornarem imortais?.

Mostrando-se consciente dos desafios que tem pela frente, mas habilidosa que o prefeito e, sobretudo, preparada para falar do setor, Nilcemar realizou um longo e bem articulado discurso de posse. Não se esquivou das cobranças, mas ressaltou que o novo orçamento, de 2017, só estará estabelecido em março.

? Também sou produtora (cultural) e aqui falaremos na mesma língua. Nesse momento, estamos vivendo uma mudança de gestão, de paradigmas, e existem procedimentos a serem feitos. Conhecemos o nosso passivo e temos compromisso. Vamos chegar lá ? disse. ? Por ora, minha palavra de ordem é união. A cultura é múltipla, marcada pela diversidade de saberes, práticas e experiências, e vou trabalhar para que todos da cidade possam vivenciar essa diversidade. Criar, produzir e participar dos espaços de cultura do Rio. Vamos trabalhar para a consolidação de uma política pública que visa a integração e o desenvolvimento social, e também econômico; a redução da desigualdade e da violência; e o combate ao preconceito de raça, de orientação sexual e de gênero. A cultura não convive com a intolerância. Vamos celebrar a cultura na sua diversidade. Temos eixos já traçados, mas tudo isso será consolidado a partir do diálogo e da escuta do setor.

Para isso, Nilcemar disse que irá fortalecer o Conselho Municipal de Cultura. A nova secretária afirmou ainda que irá lutar, junto ao prefeito, para que o orçamento da SMC seja de, no mínimo, 1%, e para que o Vale-Cultura seja implementado. Ela prometeu reformar o Carlos Gomes, assim como demais equipamentos culturais. Entre os planos anunciados por Crivella para a pasta, estão ainda a municipalização do Teatro Municipal e do Museu da Imagem e do Som (MIS). Ambos estão sob a gestão do estado, mas poderão ser integrados à Secretaria municipal de Cultura por meio de parcerias público-privadas, após um estudo técnico solicitado pelo novo prefeito ao seu gabinete.

Reconhecida por sua atuação na salvaguarda do samba ? liderou a campanha para que o gênero fosse reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 2007 ?, Nilcemar já presidiu o Museu da Imagem e do Som, foi diretora de Carnaval da Mangueira e presidiu o Museu do Samba até aceitar o convite do prefeito Crivella. A secretária encerrou sua fala declarando que, acima de seus títulos de doutora em Psicologia Social (UERJ) e de mestra em Bens Culturais, considera-se uma sambiasta e que irá apoiar o setor, ?sobretudo porque o smba é um símbolo de união?. Sob aplausos, a nova secretária recebeu no palco a apresentação da bateria da sua escola de coração, a Estação Primeira de Mangueira, que encerrou a cerimônia.