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Nick Thompson chega à Rio-2016 favorito na vela, como Scheidt em 1996

Bicampeão mundial da Laser, às vésperas da primeira Olimpíada, favoritismo instantâneo… Tal perfil descrevia Robert Scheidt há 20 anos, em Atlanta, e foi confirmado. Hoje, ele se encaixa perfeitamente ao inglês Nick Thompson. A expectativa do brasileiro bicampeão olímpico, que também está no páreo, é que o britânico não tenha a mesma sorte — competência, na verdade — de estreante.

Íntimo das embarcações e do mar desde os 2 anos de idade, Nick estreia nos Jogos Olímpicos no auge da carreira. Aos 30 anos, mistura a experiência adquirida nas competições e o condicionamento. Aos 43 anos, Scheidt sabe o peso da idade numa classe de tanta exigência física, como a Laser.

— Na Laser, o garoto começa a velejar bem aos 23, 24 anos, mas não tem a bagagem de ter definido muitas competições no último dia. O Nick está com 30 anos e consegue misturar essas duas coisas. Vai ser um velejador muito forte no Rio. Ele e o australiano (Tom Burton). Nos últimos quatro anos, foram os mais consistentes. Ele é o campeão mundial, e temos que apontá-lo como favorito para o ouro, mas vai ter um trabalho duro — analisa Scheidt, que retornou à Laser após ganhar uma prata e um bronze na classe Star, nas duas últimas edições.

A tradição britânica no iatismo é mais um fator que credencia Nick a favorito ao ouro na Baía de Guanabara. Sucessor do tetracampeão olímpico Ben Ainslie — uma na Laser e três na Finn —, ele não teve o início devastador do compatriota, que foi o grande rival de Scheidt. Os dois travaram duelos históricos nos Jogos de Atlanta, em 1996, e Sydney, em 2000. Cada um ganhou uma. Dificilmente algo semelhante acontecerá no Rio.

— Naquela época, eu e Ben puxamos tanto um ao outro, as disputas eram tão acirradas, que elevamos muito nosso nível. Ninguém conseguia chegar na gente. Hoje em dia, não acontece mais, e está longe de acontecer. No último ano, praticamente um velejador diferente ganhou cada competição. Eu venci em Miami, outro em Palma … — explica Scheidt, argumentando que, por essas razões, não está fora do jogo. — Está muito aberto, vai depender da execução, da inspiração daquela semana. Uma largada escapada, um protesto, essas coisas mudam o rumo da competição, para o bem e para o mal.

Com larga experiência, Torben Grael, maior medalhista brasileiro ao lado de Scheidt (cinco pódios) e atual coordenador técnico da seleção de vela, recusa-se a destacar um grande favorito. Nick está entre eles, mas não está só, nem pode ser considerado barbada.

— Nesse estágio, é difícil eleger um principal concorrente. Poderia quando Robert e Ben estavam na disputa, pois eles são fora da curva. Ali, sabíamos que haveria uma polarização, mas agora é um pouco diferente. Dizer que ele é o grande favorito antes de começar o evento é colocar muita importância no inglês. Ele é um dos bons, mas tem outros — acredita.

VELEJADOR EM CRESCIMENTO

Acostumado às águas de Lymington, em Hampshire, Nick terá de usar a facilidade de adaptação às variantes do mar para ir longe no Rio, uma qualidade conquistada ao longo do tempo e de muito treino. Em janeiro, ele competiu na Baía de Guanabara pelo Brasileiro de Laser, em condições um pouco diferentes das que serão encontradas no mês que vem. De qualquer forma, Scheidt levou a melhor e ficou com o primeiro lugar. O inglês terminou em terceiro.

Quatro meses depois, Nick, que não respondeu aos pedidos de entrevista por e-mail, chegaria ao segundo título mundial de Laser, em Nuevo Vallarta, no México. O primeiro fora conquistado no Canadá. Em ambos, seguiu a estratégia: não tentar necessariamente vencer as regatas, mas evitar grandes erros. Prova de um atleta em evolução.

— Ele é um velejador all around, veleja bem em todas as as condições, por isso, é um cara perigoso. Não vai andar bem só no vento forte ou no fraco. Em qualquer dia, em qualquer local e em qualquer condição que for colocado, tem armas para ganhar a regata — enumera Scheidt. — E ainda tem estrutura da equipe inglesa, com excelentes técnicos e bagagem muito forte.