Cotidiano

Nexit, Frexit e Swexit? Reino Unido inspira apelos por referendos

201606240845168818_RTS.jpgLONDRES – O Brexit pode ter sido somente o ponto de partida para um esfacelamento da União Europeia (UE). Horas após a confirmação da vitória da opção pela saída do bloco no Reino Unido, líderes eurocéticos em todo o continente manifestaram o interesse de repetir o processo em seus países e colocar em questão sua permanência na UE. CONTEÚDO EXCLUSIVAS PAPEL 2506

As principais celebrações da decisão britânica vieram de legendas da extrema-direita europeia, tradicionalmente avessas ao que consideram ser uma submissão aos poderes de Bruxelas. Na França, Marine Le Pen comemorou o Brexit no Twitter. ?Vitória da liberdade?, exclamou a líder da Frente Nacional, prometendo uma consulta popular sobre a permanência no bloco caso conquiste a Presidência francesa nas eleições do ano que vem. Também no Twitter, seu vice, Florian Philippot cunhou o termo de um possível referendo francês ao pedir o Frexit.

Na Holanda, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, conhecido por sua retórica anti-Islã e anti-imigração, também reforçou pedidos pelo Nexit.

? É um momento histórico ? disse Wilders a uma rádio holandesa. ? Acho que o Brexit terá consequências enormes para a Holanda e para o resto da Europa. Agora é nossa vez. O povo holandês deve ter a chance de opinar em um referendo.

Na Suécia, o apoio à secessão britânica veio dos dois lados do espectro político. Enquanto os Democratas Suecos, da extrema-direita, parabenizaram o Reino Unido por sua ?independência? e pediram a realização do Swexit, o socialista Jonas Sjöstedt, presidente do Partido da Esquerda, pediu ao governo em Estocolmo que renegocie as condições de adesão ao bloco, a fim de reduzir o poder da UE.

Já na Alemanha, Beatrix von Storch, umas das líderes da Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda que mantém um forte discurso anti-imigração, foi mais longe, e pediu a renúncia do comando do bloco europeu:

? Esse 23 de junho foi o dia da independência para o Reino Unido. O povo foi consultado e decidiu. A UE fracassou como união política ? afirmou Beatrix. ? Jean-Claude Juncker (presidente da Comissão Europeia) e Martin Schulz (presidente do Parlamento Europeu) terão que responder por isso. Eles devem renunciar.

Eleições de 2014 foram um sinal

Manifestações de apoio à saída britânica e à realização de referendos nacionais também foram expressadas pelo Partido da Liberdade da Áustria, que mostrou preocupações com uma possível integração da Turquia ao bloco; e pelo grego Aurora Dourada, cujo líder, Nikolaos Michaloliakos ? um admirador confesso de Adolf Hitler ? louvou o que classificou como ?uma vitória das forças nacionalistas e patriotas contra uma UE virou num trágico instrumento de agiotas?.matteo salvini.jpg

Na Itália, Matteo Salvini, líder do partido eurocético e anti-imigração Liga Norte, comemorou no Twitter a ?coragem de cidadãos livres frente às ?mentiras, ameaças e chantagem?, enquanto o Movimento Cinco Estrelas (M5S), liderado pelo comediante Beppe Grillo, ofereceu uma resposta mais crítica ao referendo britânico, alertando para a necessidade de reformas na UE.

?A saída do Reino Unido põe em evidência o fracasso das comunidades políticas que enfrentam a austeridade e o egoísmo do Estados-membros que se mostram incapazes de pertencer a uma comunidade?, afirmou Grillo, que defende a realização de um referendo sobre o uso do euro como moeda italiana, em seu blog. ?Queremos uma Europa que seja uma verdadeira comunidade, e não uma mera união de bancos e grupos de lobby?.

Os sinais de descontentamento com a União Europeia (UE) já haviam sido sentidos nas eleições para o Parlamento Europeu de 2014. Na ocasião, o Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), liderado por Nigel Farage, obteve a maioria dos votos no país, refletindo a descrença britânica na relação com o bloco europeu ? o que já havia levado o premier David Cameron, a prometer a realização de um referendo sobre a permanência na UE caso os conservadores obtivessem a maioria parlamentar nas eleições britânicas de 2015.

Catalunha insiste em consulta

O cenário se repetiu em outros países do bloco. Além da Frente Nacional, o Partido Popular Dinamarquês, legenda de extrema-direita, e o Syriza, coalizão da extrema-esquerda grega, também lideraram as votações para o Parlamento Europeu apostando em discursos de forte oposição ao bloco. Na Itália e na Irlanda, M5S e Sinn Fein obtiveram votações expressivas, superando partidos maiores como o Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e o Fianna Fáil.

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Na Catalunha, líderes separatistas afirmaram ontem que o Brexit e a perspectiva de um novo referendo de independência na Escócia sustentam as reivindicações da região por uma consulta popular sobre a secessão.

?Agora que a Escócia se prepara para discutir sua relação com a UE e fazer um novo referendo, temos que afirmar, sem medo, que a hora de nosso referendo também chegou?, afirmou, no Twitter, o presidente da Assembleia Nacional Catalã, Jordi Sánchez.

O presidente regional catalão, Carles Puigdemont, acusou o governo central espanhol, presidido pelo conservador Mariano Rajoy, de não se sentar para negociar, e advertiu que a posição não acabará com o independentismo na Catalunha.

? Alguém acredita que porque o governo não se senta para negociar, diremos ?bom, então vamos para casa?? Isto não vai acontecer ? avisou.

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